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Porque e como amar a Deus?

Porque amar a Deus? Por que Ele é o Autor da nossa vida e Dele procede todo o bem maior que podemos ter.

Amar a Deus deve ser um contínuo prazer da nossa parte e amá-Lo é obedecer-Lhe em tudo e odiarmos todos os tipos de pecados, pois assim , endireitamos a nossa vida em comunhão com Ele.

Que satisfação não teremos em nossa consciência quando exercermos tudo em Deus...

Mais abençoados seremos nós. Mais felicidade teremos nós.

Como amar a Deus? É vivermos constantemente unidos á Ele, pela oração, leitura e estudo das Sagradas Escrituras e vivermos sempre em estado de graça, sem pecados mortais, sem ofende-Lo mais.

Amar à todos. Perdoar à todos. Fazer o bem e ajudar quem necessitar, sem esperar nada em troca.

Que alegria sentirá o coração do nosso Deus Todo-Poderoso e o nosso coração baterá em perfeita consonância com o Dele, nesta união sublime e total.


Abaixo segue um texto de São Bernardo de Claraval para melhor compreendermos o Tema.



Vocês querem então saber de mim por qual motivo e em que medida nós devemos amar a Deus? Pois bem, eu vos direi que o motivo do nosso amor por Deus, é Ele mesmo, e que a medida deste amor é amar sem medida. É explícito o bastante? Sim, talvez, para um homem inteligente; mas eu tenho que falar aos sábios e aos ignorantes, e se eu falei o suficiente para os primeiros, preciso levar em conta os segundos; é, portanto, para estes que desenvolvo meu pensamento, mergulhando mais fundo. Ora eu digo que temos dois motivos de amar a Deus pelo que Ele é; não há nada mais justo, nada mais vantajoso. De fato, esta pergunta: Porque devemos amar a Deus, se apresenta sob dois aspetos: Ou nos perguntamos a que ponto Deus merece o nosso amor, ou então qual é a vantagem que vemos em amá-Lo; para esta questão dupla, há apenas uma resposta: O motivo pelo qual devemos amar a Deus é o próprio Deus. E, aliás, se nós colocamos um ponto de vista de mérito, não há maior do que Deus de ter Se entregado a nós, mesmo sendo indignos; de fato, o que poderia Ele, tão Deus quanto é nos dar algo que valesse mais do que Ele? Se, portanto nos perguntamos qual o motivo que temos de amar a Deus, nós buscamos qual o direito que Ele Se deu ao nosso amor, encontramos antes de qualquer coisa que Ele nos amou primeiro. Ele merece, portanto, que paguemos de volta, principalmente se considerarmos Quem é o que ama, quais são os que Ele ama e como Ele os ama. Qual é de fato aquele que nos ama? Não seria aquele a quem todo espírito dá este testemunho: «Tu és o meu Senhor, a minha bondade não chega à Tua presença» (Salmos 16:2)? E este amor em Deus não seria a verdadeira caridade que não busca seus próprios interesses? Mas a quem se refere este amor gratuito? O Apóstolo responde: «Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus» (Romanos 5:10). Deus nos amou com um amor sem interesses e Ele nos amou quando ainda éramos Seus inimigos. Mas com qual amor Ele nos amou? São João responde: «Deus amou o mundo de tal maneira que deu Seu Filho Unigênito» (João 3:16). São Paulo continua: «Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes O entregou por todos nós» (Romanos 8: 32); e este Filho diz Ele mesmo, falando Dele: «Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos» (João 15:13).


Eis os direitos do Santo Deus Soberano, Grande e Poderoso que Se deu por amor aos homens pecadores, infinitamente pequenos e fracos. Mas, diremos, se:


É assim para o homem, não é a mesma coisa para os anjos: eu concordo; mas é porque isto não foi necessário: aliás, aquele que socorreu os homens na miséria, protegeu os anjos de uma miséria parecida e se o Seu amor pelos homens lhes permitiu que não permanecessem como estavam, Ele, por este mesmo amor impediu os anjos de se tornarem tal qual nós fomos.


O quanto Deus merece o amor do homem por causa dos bens do corpo e da alma: como devemos reconhecê-los; não devemos usá-los contra Aquele que no-los deu.


Qualquer um que entendeu o que está escrito acima também vê, eu acho, porque isto é, por qual motivo devemos amar a Deus. Se isto não é visto pelos infiéis, Deus tem como

confundir a ingratidão deles nos bens, sem contar o quanto preenche o corpo e a alma.

Não é Dele, de fato, que o homem tem recebido o pão que o alimenta, a luz que o ilumina e o ar que ele respira? Mas seria loucura contar os bens que eu acabo de declarar inumeráveis e que me basta citar os mais importantes como o pão, o ar e a luz; se os

coloco em primeiro lugar, não é porque os acho os mais excelentes, pois interessam

somente ao corpo, mas são os mais necessários. Sobre os bens de primeira ordem, é na

alma, nesta parte do nosso ser que vence sobre a outra, que nós devemos procurá-los;

são a excelência, a inteligência e a virtude (...).


Estes três bens aparecem cada um sob dois aspetos ao mesmo tempo: a excelência

aparece na prerrogativa própria à natureza humana e no temor que o homem inspirou sem cessar a todos os seres que vivem na terra; a inteligência, não só percebe a dignidade do homem, mas entende também que para estar em nós, todavia ela não vem de nós; enfim a virtude, em sua dupla tendência, nos faz por um lado buscar com fervor e de outro abraçar com força, uma vez encontrado, Aquele a quem queremos pertencer.

Também de nada vale a inteligência sem a excelência que pode até prejudicar sem a virtude, como podemos provar com o seguinte raciocínio: Ninguém pode se gloriar do que

tem, se ele não sabe que o tem; mas se, sabendo, ele ignora que o que ele tem não vem

dele, ele se gloria, mas não o faz em Cristo, e é a ele que o apóstolo diz: «E que tens tu

que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras

recebido?» (1 Coríntios 4:7). Ele não diz simplesmente: «Por que te glorias?», mas ele

acrescenta: «Como se não o houveras recebido» para mostrar que ele é repreensível, não por se gloriar do que tem, mas de se gloriar como se não o tivesse recebido. Assim com

razão esta glorificação é considerada vaidade, já que não se apoia no fundamento sólido

da verdade. O apóstolo a distingue da verdadeira glória, dizendo: «Aquele que se gloria

glorie-se no Senhor» (1 Coríntios 1:31), isso é, na verdade: porque Deus é a verdade.


Portanto há duas coisas que precisamos saber; primeiro o que nós somos, e depois que não o somos por nós mesmos; então nós não nos gloriamos de coisa nenhuma, ou a glória que estaremos nos atribuindo será vaidade; enfim, se nós mesmos não nos conhecemos, está escrito, nós seremos confundidos com o grupo de nossos semelhantes (Cânticos 1:6-7). É de fato o que acontece, porque quando um homem digno não conhece nem mesmo a sua posição, o comparamos com razão, por tal ignorância, aos animais que são como os companheiros de sua corrupção e de sua vida decadente neste mundo.

Portanto, não se conhecendo a ela mesma, a criatura que a razão distingue dos bichos, começa a se confundir com elas, porque ela ignora sua própria glória que é totalmente

interna, cede aos chamados de sua curiosidade e se preocupa somente com sua beleza

exterior e sensível; ela se torna também igual às outras criaturas, porque não sente que

recebeu algo a mais do que elas. Assim é necessário combater a ignorância que faz com

que talvez nos subestimemos mais do que convém. Mas evitemos com mais cuidado ainda esta outra ignorância que leva a nos atribuir além do que nós temos, como acontece quando nos enganamos em nos imputar o bem, qualquer que seja ele, que vemos

em nós mesmos. Mas o que precisamos odiar e fugir mais do que estes dois tipos de ignorância, é a presunção pela qual em conhecimento de causa e propósito deliberado nós nos gloriamos do bem que está em nós, como se viesse de nós, não temendo arrancar de outrem a glória que nós bem sabemos que não nos é devida pelas coisas que estão em nós, mas que não vêm de nós. No primeiro caso, nós não nos gloriamos de nada, no segundo nos gloriamos, mas não em Cristo, e no terceiro nós não pecamos mais por ignorância, mas nós usurpamos conscientemente, reivindicando para nós mesmos, o

que pertence a Deus. Ora, esta audácia comparada à segunda ignorância parece tanto

mais grave e mais perigosa; se uma desconhece a Deus, a outra O menospreza; mas

comparada à primeira, parece ainda pior e mais detestável, se esta ignorância nos assemelha aos brutos, esta audácia nos associa aos demônios. Pois apenas o orgulho, o

maior dos males, pode se servir dos bens que ele recebeu, como se ele não os tivesse

recebido, e desviar em proveito próprio a glória que um benfeitor deve achar em seus

benfeitos.


Também à excelência e à inteligência é preciso unir o fruto que é a virtude; é pela virtude que buscamos e possuímos o Autor liberal de todas as coisas, Aquele a quem devemos, em tudo, render a glória que Lhe pertence; de outra forma seríamos rudemente punidos por não ter feito o que sabíamos que deveríamos fazer. Por que isso? Porque aquele que age desta forma, não quis adquirir a inteligência para fazer o bem, mas ao contrário, meditou sobre a sua própria iniquidade (Salmos 36: 4-5), e ele tentou, como um servo infiel, desviar e até trazer a proveito próprio a glória que seu excelente Mestre deveria recolher em bens, sabendo ele mesmo perfeitamente, pela virtude da inteligência, que ele mesmo não era a fonte. É, portanto, bastante evidente que a excelência, sem a inteligência, é inútil, e que a inteligência, sem a virtude, nos leva a perdição. Mas para o homem que possui a virtude, não seria a inteligência maléfica e nem a excelência inútil, ele clama e louva a Deus ingenuamente nestes termos: «Não a nós, SENHOR, não a nós, mas ao Teu nome dá glória, por amor da Tua benignidade e da Tua verdade» (Salmos115:1). O que significa: Senhor, nós não Te atribuímos nem a inteligência nem a excelência, nos atribuímos tudo ao Teu nome, porque é Dele que nos recebemos tudo.


Mas nós nos afastamos demais do nosso desígnio, querendo provar que mesmo os que não conhecem a Cristo, sabem bem pela lei natural, pelos bens do corpo e da alma, que devem amar, também eles, a Deus, por causa do próprio Deus. De fato, para resumir em algumas palavras o que dissemos acima, qual é o infiel que não sabe que recebeu somente Daquele que faz o Seu sol nascer sobre bons e também sobre os maus, e faz cair chuva sobre os santos e também sobre os ímpios, todos os bens necessários à sua vida, dos quais já falei, como o alimento, a luz e o ar? Qual o homem, tão ímpio quanto seja, que atribuirá a excelência particular à espécie humana, que ele vê brilhar em sua alma, a outro a não ser ao que disse em Gênesis: «Façamos o homem a nossa imagem e semelhança (Gênesis 1:26)?» Quem verá o autor da inteligência em outro que não Naquele que ensina tudo aos homens? E de que mão pensaria ele receber ou ter recebido o dom da virtude, se não do Deus das virtudes? O Senhor merece, portanto, ser amado, pelo o que Ele é, pelo infiel, ainda que pouco O conheça, assim mesmo que não conheça a Cristo; também aquele que não ama a Deus de todo o seu coração, de toda a alma e de todas as suas forças, não tem desculpas [...]


Introdução de Claudia Pimentel dos Conteúdos Católicos


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