Se recorrermos às Sagradas Escrituras perceberemos o imenso valor do templo para o povo de Deus. Havia uma clara consciência de que nele residia a glória do Senhor, que ali era morada do Espírito Santo. O templo sempre foi muito venerado e respeitado. E a sua profanação era profundamente lamentável.
Porém, tudo isso era a prefiguração de uma realidade maior, pois no Novo Testamento, Jesus Cristo identifica Seu corpo como o Novo Templo. E por sua vez, a Igreja, é identificada como o Corpo de Cristo. Portanto, a comunidade cristã é o verdadeiro Templo
da Nova Aliança.
NOSSO CORPO: TEMPLO DO ESPÍRITO!
Mas como se não bastasse, não só a comunidade, mas o corpo de cada cristão é templo visível do Espírito Santo!
«Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis?» (1Cor 6,19).
A própria palavra templo significa "morada do sagrado", "recorte do céu". Portanto, «Aquele que é Santo, Altíssimo e Soberano quis fazer de mim a Sua morada» (1 Cor 3,16; 6,19; Rom 5,5). Meu corpo é um santuário! É o habitat do Espírito de Deus! Um "pedaço do céu"!
Sabemos que todo DOM implica numa TAREFA. Sendo assim, recebemos o DOM de sermos templos do Espírito Santo, e simultaneamente a TAREFA de cuidar e zelar dele! É justamente daqui que nasce a exigência da santidade. Não de uma norma fria, mas de uma graça imerecida!
O CORPO, PUREZA E SANTIDADE
É muito interessante perceber como no ensinamento de São Paulo, é nítida a relação entre a santidade e o respeito do corpo, por meio do convite à pureza.
Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação; que eviteis a impureza (pornéia); que cada um de vós saiba possuir o seu corpo (skêuos) com santidade e respeito, sem se deixar levar
pelas paixões desregradas, como os pagãos que não conhecem a Deus (...) Pois Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade (1Tess 4,3-7).
De acordo, com essa passagem bíblica, fica muito claro para nós que:
1. Deus nos quer santos!
2. Precisamos evitar a impureza. A palavra grega aqui usada é pornéia, que pode ser traduzida, também por luxúria ou imoralidade sexual.
3. É preciso tratar com santidade e respeito o seu "vaso" (a palavra grega usada aqui é skêuos), que pode significar tanto o próprio corpo como o corpo da esposa.
Na prática, a pornéia, diz respeito às desordens sexuais nas quais vivem tantos os solteiros como os casados. Pode ser considerada como a fornicação (sexo antes do casamento), mas também o adultério (relação sexual extra-conjugal).
Entende-se por pornéia todas as relações sexuais ilícitas e imorais dentro do casamento tais como: o sexo anal, oral, orgias, sadomasoquismo, e outras coisas semelhantes. Pois engana-se quem pensa que a vida sexual no casamento é um "ringue de vale-tudo" e uma "carta branca" para tratar o cônjuge como um objeto. Vale a pena recordar o que a Palavra de Deus diz:
«Vós todos considerai o matrimônio com respeito e conservai o leito conjugal sem mancha porque Deus julgará os impuros e os adúlteros» (Hebreus 13, 4).
Os esposos têm o direito de desfrutar da vida sexual, mas de forma casta e verdadeiramente humana. A Igreja jamais foi contra o prazer sexual, mas sim contra a instrumentalização da pessoa humana. A vida sexual é legítima e abençoada por Deus, quando vivida dentro da aliança de amor do sagrado matrimônio, e de forma honesta e digna.
«O próprio Criador (...) estabeleceu que, nesta função, os esposos sentissem prazer e satisfação do corpo e do espírito. Portanto, os esposos não fazem nada de mal em procurar este prazer e em gozá-lo. Eles aceitam o que o Criador lhes destinou. Contudo, os esposos devem saber manter-se nos limites de uma moderação justa» (Catecismo, n. 2362).
A pornéia estende-se também a toda a forma de imoralidade sexual tais como: masturbação, pornografia, relações entre pessoas do mesmo sexo, prostituição, pedofilia, etc.
Tais pecados trazem consigo a "profanação" do corpo: privam o corpo da mulher ou do homem do respeito a ele devido em virtude da dignidade da pessoa. Todavia, o Apóstolo vai mais além: segundo ele, o pecado contra o corpo é também "profanação do templo". (João Paulo II em Teologia do Corpo, pág. 2485).
A imoralidade sexual é a uma espécie de "profanação" deste novo templo do Espírito Santo, que é o corpo de cada um de nós, e contradiz profundamente a vida segundo o Espírito. É por isso que o Apóstolo Paulo adverte:
«Fugi da impureza (pornéia). Qualquer outro pecado que o homem comete é fora do corpo, mas o impuro peca contra o seu próprio corpo (templo)»(1Cor 6,18).
Isso não significa que o Apóstolo Paulo condene mais o pecado da pornéia do que os outros pecados. A insistência aqui se dá pelo fato de que, diferente dos demais, esse pecado da pornéia é "contra o corpo". O que não quer dizer que a santidade se res-
tringe única e exclusivamente à retidão sexual, e muito menos se trata de um desprezo do corpo e da sexualidade (como veremos adiante), mas significa que a vida nova que abraçamos não pode compactuar com a imoralidade sexual e que a mentalidade e com-
portamento permissivos são completamente estranhos às Sagradas Escrituras, e que todas essas desordens sexuais precisam ser profundamente combatidas e ordenadas, sem tréguas.
«Quanto à fornicação, à impureza, sob qualquer forma, ou à avareza, que disto nem se faça menção entre vós, como convém a santos (Santos, significa cada cristão consagrado à Deus pelo batismo). Nada de obscenidades, de conversas tolas e levianas, porque tais coisas não convém; em vez disto, ações de graças» (Ef 5, 3s).
Não se trata aqui de um conjunto de regras e proibições, mas sim de um ajustamento do fazer ao nosso ser, pois somos filhos de Deus, templos do Espírito, homens e mulheres redimidos, e nada menos do que isso! Esse DOM da nossa dignidade implica na TAREFA de agirmos de acordo com essa mesma dignidade!
«Reconhece, ó cristão, a sua dignidade»... Lembra?
PUREZA E VIDA NO ESPÍRITO
A pureza é a capacidade de "manter o próprio corpo em santidade e respeito", centrado na dignidade de pessoa. A pureza é expressão e fruto da vida segundo o Espírito". E como todas as virtudes humanas, a pureza não é algo mágico, pronto e instantâneo, mas precisa ser desenvolvida. Por isso ela é uma habilidade, uma atitude, que tem suas raízes na vontade. É preciso decidir-se em vivê-la, correspondendo ao DOM de Deus. Sendo assim, quanto mais vivo a pureza, mais cresço na vida no Espírito e vice-versa.
«Se vivemos pelo Espírito, andemos também de acordo com o Espírito» (Gál 5, 25).
PUREZA DE CORAÇÃO
Mas a pureza não é somente física ou sexual. Jesus no Evangelho nos fala especialmente da pureza do coração, do olhar, e da intenção (Mt 5, 28;15,19). Isso quer dizer que, o problema não está no corpo, mas na alma enferma que arrasta o corpo para o erro. Cristo deixa claro que aquilo que nos mancha procede do interior do nosso coração e não o que vem de fora (Mc 7,20-23). Portanto, o principal campo de batalha pela pureza, não é o corpo, mas o coração humano.
A luxúria não é um vício dos corpos dotados de graça e de beleza, mas da alma pervertida que ama os prazeres corporais.
Um coração manchado condiciona a visão. O olhar exprime o que está no coração: exprime a pessoa inteira. Quem não é verdadeiramente puro de coração, só enxerga pecado e erro em tudo que é bom e belo.
«Para os puros todas as coisas são puras. Para os corruptos e descrentes nada é puro: até a sua mente e consciência são corrompidas» (Tito 1, 15-16).
A pureza de coração concede-nos ver segundo de Deus, e nos permite, desde já, «perceber o corpo humano, o nosso e o do próximo, como um templo do Espírito Santo, uma manifestação da beleza divina» (Catecismo da Igreja Católica nº 2519).
Os puros de coração são aqueles que se entregaram à santidade em três campos: na caridade, na castidade (retidão sexual) e no amor à verdade (ortodoxia da fé). É a pureza do coração, do corpo e da fé.
CHAMADOS AO COMBATE ESPIRITUAL
Uma vez que compreendemos a natureza humana em sua dimensão corpórea-espiritual, temos que também ter consciência que a nossa natureza humana sofre as consequências do pecado original. Pois Deus criou o ser humano em total harmonia interior e com o sexo oposto. Isso significa que tudo estava intacto e ordenado, inclusive a sua sexualidade e a relação com seu corpo.
O ser humano experimentava o profundo domínio de si mesmo.
Porém, essa harmonia original foi perdida pelo pecado original.
Mas graças a Deus, o Verbo se fez carne, morreu e ressuscitou para a nossa redenção, e restabeleceu a ordem perturbada pelo pecado original. O Batismo nos purifica de todos os nossos pecados, apaga a mancha do pecado original, e nos faz participantes da
vida nova em Cristo.
Porém, a nossa natureza humana ficou enfraquecida em suas forças naturais e inclinada ao mal. Essa inclinação é chamada de concupsciência, que é uma das consequências do pecado original. A concupsciência embora não seja um pecado, nos inclina a cometê-lo. Ela é uma fraqueza, uma debilidade nas nossas faculdades morais. É por isso que somos convidados a um combate espiritual, a uma luta contra a concupsciência e os desejos
desordenados, que podem nos levar ao pecado.
Segundo o Apóstolo São João existe três tipos de concupsciência: «a concupsciência da carne, a concupsciência dos olhos e a soberba»(1Jo 2,16).
Cristo nos dá a Sua graça e o meios necessários para sermos vitoriosos no combate, mas precisamos também colocar todo o nosso empenho, para crescermos na graça, na harmonia interior e na vida de santidade.
Na conquista da nossa santidade de vida, sejamos valentes guerreiros a combater o bom combate da nossa existência em Deus.
Perseveremos na violência à nós mesmos, por que o Céu se ganha pela violência à nossa fraqueza humana, combatida na intenção de fazer a vontade de Deus e de não O ofender mais.
Por mais intensos que sejam os combates e conseguirmos ultrapassá-los quando surgirem, no final nos sentiremos em paz e com uma firmeza cada vez mais fortalecida, por que não cedemos às nossas fragilidades e tentações.
A meta da nossa vida deve ser sempre a conquista de uma vida pura e totalmente voltada para Deus em qualquer estado de vida que se tenha, ou seja, de uma pessoa consagrada à Deus no sacerdócio ou vida religiosa, ou de um leigo casado ou de leigo solteiro.
Somos todos chamados à cumprir de forma perfeita o que Deus deseja e espera de nós na realidade de cada um.
Dominarmos as más inclinações, próprias da natureza pecadora e não cedermos às tentações é algo que devemos lutar pelo bem e proveito da alma que, almeja estar em comunhão permanente e recta para com Deus.
Finalização de Claudia Pimentel dos Conteúdos Católicos
Comments