O AMOR ESPONSAL
- Conteúdos Católicos

- 23 de set.
- 7 min de leitura

Um Só Espírito com o Senhor
A alma que ama a Deus é chamada esposa. Estes dois nomes, esposo e esposa, indicam o máximo de união entre duas pessoas. O esposo e a esposa têm tudo em comum: a casa, a mesa, o leito nupcial e a própria realidade pessoal – "por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne" (Gn 2,24).
«Quem adere ao Senhor torna-se com Ele um só espírito» (1Cor
6,17), por meio da caridade, pela união de vontades, pela graça e pela glória; por tudo isso o homem torna-se realmente divinizado. A alma fiel, esposa de Deus, chamada a formar um só espírito com o Senhor, é destinada a usufruir toda riqueza de virtude, de incorrup-tibilidade, de pureza, de paz e tranquilidade.
Ora, isso exige um enorme empenho. A alma que se une ao Senhor,
como esposa sábia e prudente da Sabedoria do Verbo de Deus, precisa ser ornada com a beleza da Sabedoria à qual está unida, eliminando de si, com assídua meditação das coisas divinas, todo resíduo de humana insensatez, até que, unida totalmente com a eterna Sabedoria e feita um só ser com o Verbo, de corruptível se torne incorruptível, de mortal, imortal, manifestando a todos que está plenamente divinizada.
A Visita do Esposo
«Meu amado fala-me assim: levanta-te, Minha amada, Minha rola,
Minha bela, e vem!» (Ct, 2,10). Essas palavras são dirigidas à Igreja,
Esposa de Cristo, não, porém, de modo exclusivo, pois cada um de
nós – somos todos Igreja – pode também participar dos mesmos dons.
De fato, todos nós, sem diferença alguma, somos chamados a receber esses dons como herança.
Feliz a alma que merece ouvir, como dirigidas a si, tais palavras.
Feliz quem souber estar sempre vigilante e atento à visita do Esposo,
para O acolher, imediatamente, quando chegar e bater à porta. Se alguém de nós "empenha o coração em acordar cedo, dirigindo-se ao Senhor que o criou e orando em presença do Altíssimo" (Eclo 39,5) e esforça-se por abrir "caminho para o Senhor e estrada para o nosso Deus" (Is 40,3), acaso não "alcançará do Senhor a bênção, e justiça de Deus seu salvador"? (SI 24,5). É evidente que será visitado e jamais esquecerá o tempo da visita.
De fato, uma alma bem vigilante descobrirá logo o Esposo ainda
distante; adivinhará Seu desejo enquanto caminha com pressa; de imediato, O perceberá, quando estiver próximo e também presente. Saberá igualmente distinguir, com indizível alegria, Seu olhar que a contempla e ouvir as palavras de incentivo e amor, com que é chamada.
Visitas e Provações, segundo o Projeto de Deus
"Já, pela manhã, o vigias e, a cada momento, o pões à prova" (Jó
7,18). Assim, Deus nos faz compreender que, vindo até nós com Suas
visitas, está levando nossos corações ao progresso nas virtudes e, depois, retirando-Se temporariamente, permite que sejamos tentados.
Procede desse modo porque se, depois que nos concedeu os dons
das virtudes, não fôssemos tentados, seríamos induzidos a nos gloriar das virtudes, como se fossem apenas conquista nossa. Por isso, com a finalidade de fazer que nosso espírito conserve firmemente os dons divinos e reconheça a própria fragilidade e fraqueza, Deus, por meio das visitas de Sua graça, eleva-o às alturas das virtudes e, logo depois, retirando-Se, fá-lo reconhecer que é fraco por si mesmo.
Isso é confirmado em alguns episódios da S. Escritura. Elias, tendo sido visitado, pela manhã, por Deus, com uma palavra, abre os
céus. Logo depois, com medo da rainha Jezabel, sente-se totalmente fraco diante daquela mulher, a ponto de fugir para o deserto (1 Rs19,3). São Paulo, elevado ao terceiro céu, chega a penetrar nos segredos do Paraíso. Depois, baixando à realidade, encontra-se às voltas com a luta da própria carne. Sente o peso de outra lei em seu ser. Este estado de rebelião leva-o a lamentar-se por causa dos tormentos do espírito (2Cor 12, 1ss).
Portanto, Deus visita pela manhã e, logo depois da visita, coloca à
prova.
Concede Seus dons que eleva a pessoa e, retirando-Se por pouco
tempo, revela quem ela é de fato. Vamos experimentar sempre essa condição até que, libertados radicalmente da mancha do pecado, cheguemos ao estado da prometida incorruptibilidade.
Os Segredos do Amor Divino
É preciso não esquecer jamais da palavra divina. Ela nos diz que
Aquele cuja delícia é estar conosco pelo extraordinário amor que nos
devota (Pr 8,31) também com Sua amorosa Providência Se distrai conosco, porque muito nos ama, até "brincando no globo terrestre" (Pr 8,31).
Faremos bem, como nos adverte o Apóstolo Pedro, em voltar sempre nossa atenção à Palavra da profecia, que como lâmpada brilha em lugar escuro (2Pd 1,19).
Não nos devemos admirar se o Senhor, ao mesmo tempo, oculta-Se
e revela-Se, como faz o raio. O amável Salvador das almas está "espiando pelas janelas e espreitando pelas grades" (Ct 2,9). E, se desejamos ver Sua face sem véus, ainda neste mundo – ou seja, ter claro conhecimento Dele, de Sua bondade e de Sua Providência a nosso respeito – , também Ele deseja ardentemente ver a nossa, como está expresso no Cântico dos Cânticos 2,14: "mostra-Me o teu rosto". Se, de nossa parte, desejamos ouvir Sua voz, Ele deseja ouvir a nossa também: "e tua voz ressoa aos Meus ouvidos, pois a tua voz é suave e o teu rosto é lindo!" (Ct 2,14).
Ó admiráveis segredos do Divino Amor! Ó profundos abismos de
caridade! Quando será que vamos realmente nos abandonar, como náufragos, neste mar imenso, a ponto de não mais enxergar as praias de nossa mísera terra? "Feliz o homem que nele se abriga" (SI 34,9) .
Responder Prontamente ao Convite do Esposo
"Levanto-me para abrir a porta ao amado: minhas mãos destilam a
mirra... Então abri: mas Ele se afastara e passara adiante... e não O encontrei" (Ct 5, 5.6).
Podemos reconhecer aqui, na esposa do Cântico, a alma atraída
por Cristo a uma perfeição maior e à missão para a conversão dos
irmãos. Não obedece prontamente, mas com hesitação e demora. Todavia, no final, arrependida da apatia, apresenta-se ao Esposo, oferecendo mirra, isto é, a mortificação e a penitência em reparação por sua indolência. O Amado, porém, vai-Se e oferece-lhe não mais a graça heroica, mas uma graça bem menor por causa da rejeição no primeiro momento. Nega-lhe tanto alegrias e consolações espirituais como a possibilidade da conversão das almas, que teria conseguido, se tivesse obedecido prontamente ao convite de Cristo.
O Esposo, de um certo modo, pune a apatia e a demora da esposa, obrigando-a a permanecer alerta. E, como quando Ele quis entrar, ela não foi rápida em acolhê-Lo e em ir- Lhe ao encontro, assim, Ele, por Sua vez, não atende prontamente a seu desejo.
Percebem-se o dano da apatia, a fadiga que produz em quem a ela
se entregou e as consequências que sofre a esposa do Cântico. Por ter hesitado e não ter imediatamente aberto a porta ao esposo, é obrigada não só a ir até a porta, mas a percorrer a cidade toda, vagando pelas praças, enfrentando guardas e sendo ferida por eles (Ct 5, 6-7). Só a duras penas acaba encontrando o esposo desejado. Se tivesse obedecido ao convite prontamente, evitaria todas essas desventuras.
São Gaspar Bertoni
✅ Síntese do Conteúdo:
O AMOR ESPONSAL.
A união esponsal entre a alma e Deus é o ápice da comunhão espiritual, onde o amor divino transforma o ser humano em um só espírito com o Senhor. A alma que ama torna-se esposa, chamada a partilhar não apenas os bens celestes, mas a própria essência divina, como expressão da promessa bíblica de que “serão uma só carne”. Essa união não é simbólica, mas real, operada pela caridade, pela graça e pela glória, elevando a alma à condição de incorruptível e imortal, plenamente divinizada. Contudo, tal comunhão exige esforço constante, vigilância e purificação interior, pois a Sabedoria eterna não se une à insensatez humana.
A alma deve se adornar com a beleza da Sabedoria, meditando incessantemente nas coisas divinas, até que, transformada pelo Verbo, manifeste em si a imagem da incorruptibilidade prometida. O Esposo divino visita a alma com ternura e desejo, chamando-a com palavras de amor, como no Cântico dos Cânticos, e cada fiel, como membro da Igreja, é convidado a responder a esse chamado com prontidão e vigilância. A visita do Esposo é graça, mas também prova, pois Deus, ao conceder dons, retira-Se por um tempo para revelar a fragilidade da alma e impedir que ela se glorie indevidamente. Exemplos bíblicos como Elias e São Paulo ilustram essa dinâmica, elevados pela graça, logo enfrentam a luta interior, mostrando que a verdadeira força vem da dependência de Deus.
O amor divino é cheio de mistério, revelando-se e ocultando-se como o raio, desejando ver o rosto da alma e ouvir sua voz, enquanto também espera ser buscado com ardor. A alma que hesita em abrir a porta ao Esposo, como a esposa do Cântico, sofre as consequências da demora, perde graças, enfrenta provações e vê-se privada da missão que poderia ter cumprido. A resposta tardia gera fadiga espiritual, e só com penitência e mortificação pode a alma reencontrar o Amado. Assim, a parte central do artigo é que o amor esponsal entre Deus e a alma é uma vocação sublime, que exige prontidão, vigilância, purificação e entrega total, pois somente quem se abandona plenamente ao mar do amor divino alcança a verdadeira comunhão e a plenitude da vida em Deus.
Se este mistério do Amor divino tocou teu coração, não deixes que a chama se apague. Visite outros assuntos, onde a Palavra se faz imagem, reflexão e convite. Lá encontrarás novos caminhos de meditação, beleza e fé, um lugar onde o Esposo continua a chamar, e a alma pode responder com liberdade e profundidade. Entra, contempla, e deixa-te envolver em outros artigos.
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