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O medo da morte

Foto do escritor: Conteúdos CatólicosConteúdos Católicos

Aproximemo-nos da morte, descubramo-la, falemos dela! Não será este um modo de melhor a compreender, de a integrar na vida, não já como uma desgraça, mas como um regresso, uma evolução na direção de outra coisa? Uma metamorfose do ser, que vê crescer as asas de borboleta e começa a voar, ligeiro, na direção de um céu cristalino, roçando ao

de leve por restos de crisálida, em memória da sua agonia? Em cada hora que passa morremos para alguma coisa de nós. Nunca se volta atrás. Desde que se nasce até ao fim da vida, devemos fazer luto pelo que já passou: o adolescente tem saudades da criança, o adulto dos seus anos da juventude alegre, a pessoa idosa da sua saúde viçosa, etc. Mas o que não morre nunca e se enriquece continuamente? A nossa necessidade de amar e de ser amados, certamente.

O amor mantém-nos vivos. O amor nunca se esvazia, ele é uma florida e eterna juventude.

O pensamento da morte ensina-nos a viver hoje em dia o essencial da vida: o amor.


A questão da morte não se coloca no fim da vida, mas desde que ela se insinua nas nossas vidas, desde que nós façamos a sua experiência brutal. Um jovem dizia-me há pouco tempo: «Depois que a minha companheira me deixou, estou morto. Tudo é tristonho à minha volta, gostaria muito que a morte tivesse o poder de me adormecer eternamente para não mais sofrer». A verdadeira morte não será antes ser privado de amor, rejeitado e excluído? Pode-se morrer muito antes da morte natural. A partir desta sensação perfila-se o verdadeiro medo da morte no horizonte da nossa consciência: um buraco negro, uma noite sem estrelas, um amor que definha, um grito que não obtém resposta. Sem falar das caricaturas do após vida, sobre o inferno, o céu, o purgatório, o julgamento, a salvação, a condenação... que habitam o nosso espírito, servem para tudo menos para nos tranquilizar!

Mas temos de ter calma. Em primeiro lugar temos que nos interrogar sobre o sentido que damos às vidas, não a partir não sei de que dogma ou doutrina aprendidos, mas acolhendo-o no caminho da nossa própria experiência, como um caminho possível que se advinha no meio de uma densa selva.


Encontrar um sentido para a vida, e um propósito para a morte


O psiquiatra Viktor Frankl (1905-1997) foi deportado para o campo de concentração de Auschwitz durante a Segunda Guerra Mundial. No meio daquele inferno carcerário, foi tocado pela força de alma que habitava os presos. Se alguns se deixavam devorar pelo

desespero e pelo ressentimento, outros, pelo contrário, brilhavam numa caridade emocionante para com os mais frágeis. Víamo-los, titubeantes, a partilhar a sua magra ração ou então a consolar os feridos. A máquina infernal nazi não lhes conseguiu arrancar a sua liberdade nem massacrar a sua alma. Cada um pode decidir amar ou odiar. Do mesmo modo, os que acreditavam num futuro possível lutavam para não morrer, e serviam-se de todas as suas forças. O futuro rima com amor: uma família que os espera, uma pessoa querida, um ideal, uma missão a cumprir, um Deus que não os deixa cair, a força da religião de cada um. Desta vez valiam-se de uma finalidade espiritual, que os mantinha longe do desespero. Para o referido médico, existe algo espiritual no homem, que o ultrapassa, e algo espiritual além dele, algo transcendente, divino, o que se nota sobretudo no despojamento, quando o homem perde todos os seus pertences, e até a sua dignidade.

Isto é algo poderoso que o faz reviver, apesar de tudo.


No entanto, os presos que não tinham nenhum objetivo em vista, tomados pelo horror, como um alpinista com o nariz colado ao rochedo que não consegue ver o cume que deve conquistar, deixaram-se cair no vazio e na morte. Desapareceram rapidamente.

Fortalecido nesta convicção, após a sua libertação elaborou uma nova terapia, a logoterapia, do Grego logos, «sentido», e therapeuein, «cuidar, tratamento».

Procurar as causas da doença no passado longínquo e infantil do paciente já não chega, porque agora é preciso dar-lhe uma razão válida para viver, um sentido para a vida, uma finalidade última. A logoterapia do doutor Frankl não anula a psicoterapia de Freud,

porque lhe é complementar. Para recorrer a uma imagem, Frankl diria que não chega unicamente remover o vaso de lama para detetar os problemas, mas que também se deve olhar para o céu, para o lado da luz, que resplandece na lama barrenta dando-lhe aquele

aspeto arroxeado. É a luz que o torna visível.

O mundo ocidental cessou de olhar para o céu, porque se diverte com os seus bens, as suas invenções e o seu conforto, mas também não é capaz de sorrir.

Não tem razões válidas para existir. «As pessoas têm dinheiro que chegue para viver, mas não têm nenhuma razão para viver. Têm todos os meios, mas não têm motivações», afirmou. E é esta a ausência de sentido que acarreta um vazio existencial angustiante. A alma é envolvida por cinzas, a pessoa perde o gosto de viver, os prazeres esgotaram os recursos da esperança, a solidão amarga surge, ate à «depressão existencial», termo utilizado para indicar o mal-estar próprio dos países ricos, que gangrena o gosto de viver e a esperança.

Ter certas finalidades na vida permite levantar a cabeça, lutar e aguentar... É uma força, um élan de vida em vista de um fim belo e que, estranhamente, penetra no coração, como se fosse uma presença...

Como a luz do sol que faz brilhar a superfície do lago. Trata-se, pois, de encontrar esta finalidade para viver melhor.

O que, nos jovens, grita mais alto do que tudo?

Jacqueline Kelen, escritora e conferencista, liga «a aspiração à transcendência, a um ideal de pureza, a um interesse pelo silêncio, purificação, interiorização, chamamento ao essencial». Eles já se fartaram deste manjar de miséria que nem satisfaz o ventre nem

os sentidos, mas que os deixa vazios de espiritualidade, pelo que a alma vive em estado de urgência! O nosso mundo materialista e fechado em bens de consumo tem grande falta de artistas, de poetas, de músicos, de filósofos, de eremitas, de monges... desses místicos que o ergam para o céu interior, que nos movam para longe de nós mesmos, como testemunhas deste grito de alma: «Fizestes-nos para Ti, Senhor, e o nosso coração não encontra repouso enquanto não repousar em Ti!», dizia Santo Agostinho.


Para Frankl, as religiões são a expressão e a resposta a esta procura de sentido, traçam o

caminho que leva ao fim último da existência, dão-lhe um nome: Deus, Jesus, Alá, Adonai... E para nos curarmos da angústia existencial, deve-se entrar neste movimento de alma dirigido para Deus: a Transcendência. A alma humana está marcada por esta necessidade religiosa, por esta procura da Transcendência. Está inscrita no nosso ADN! Mas é bem certo que cabe ao padre a tarefa de ensinar a religião, e não a um psiquiatra!

E mais ainda despertar nos corações a sede do Divino. «Se conhecêsseis o dom de Deus...» (Jo 4, 10) suspirava Jesus no diálogo com a Samaritana que foi buscar água ao poço. O psiquiatra e o padre escutam o sofrimento, mas compete ao primeiro procurar a causa médica e prescrever um tratamento adequado. E ao segundo convidar a pessoa a fazer a experiência pessoal do Divino, de O experimentar como presença de amor, força, luz, perdão, unidade interior. O médico, na escola de Frankl, não evangeliza o seu paciente,

mas convida-o a caminhar além dele mesmo e do seu sofrimento, para algo transcendente, de espiritual.

Pertence ao paciente aspirar a este fim, encontrá-lo, senti-lo, e depois dar-lhe um nome.

A "religiosidade" , segundo Frankl, qualifica a atitude de tudo estar em busca de sentido, procurando ligar-se a este "algo" que o supera e atrai ao mesmo tempo. Cada um deve encontrar o seu "Deus", como "supra sentido" para a sua vida. Quando o desejo religioso é impedido ou ocultado, o homem sente um vazio existencial.


Basta que o homem seja privado das suas propriedades, das suas posses, das suas seguranças, dos seus prazeres e dos seus paraísos artificiais para aparecer o vazio existencial, como uma chaga aberta. A provação da pandemia, penso eu, é reveladora. Confinadas às suas casas, privadas de trabalho e dos seus hábitos e por vezes longe dos seus entes queridos, muitas pessoas sentem-se perto do abismo, com a vida feita num inferno. E começam a perguntar-se: para que serve esta vida, finalmente sentida presa apenas por um fio? Boa pergunta, que nos encaminha a vivermos à escuta da nossa alma, a aprofundar o sentido profundo da vida, a sentir de novo, talvez, o estremecimento da Transcendência.

Santa Teresa de Lisieux experimentou e atravessou este vazio interior, por pura solidariedade com os maiores pecadores, disse ela. Na noite escura da fé, no fundo do abismo, ela clamava: «Só se pode cair mais baixo nos braços de Deusl».

Porque o próprio Cristo veio habitar no seu vazio existencial:


Cristo, que era de condição divina, não considerou a sua igualdade com Deus, mas

aniquilou-Se a Si mesmo, esvaziando-Se de Si, tomando a condição humana.


«[...] Abaixou-Se ainda mais, tornando-Se obediente até à morte e morte de cruz. Por isso Deus O exaltou grandemente e mormemente elevando-O à sua glória» (Fl 2, 6-11).


Desde então, no seio de todo o "aniquilamento", a vida renasceu, e o Vivente recebe-nos. O vazio está cheio, e o homem que o toca pode reafirmar-se.

A nossa relação com a morte repercute-se na nossa relação com as coisas, as pessoas e a vida. A partir do momento em que estamos relacionados com a Transcendência, deixamo-nos de apegar ao que possuímos, às nossas aparências, aos nossos sucessos, aos nossos próximos, como boias de salvamento. Longe de Deus, a morte aterroriza-nos e transferimos a nossa felicidade para os seres mortais e efémeros... que não nos podem dar garantias.



A morte é certa. Pior é recebê-la mal, não estando em estado de graça. A consciência desse modo estará intranquila.

Vivamos cada dia como se fosse o último da nossa breve existência e assim, viveremos bem e mais preparados para exalar o último suspiro.

Como é agradável à alma, estar em paz de espírito, na conformidade com Deus.

Lutemos por isso! Sonhemos com os pés no chão por avistarmos no horizonte a felicidade de uma vida repleta de boas ações, com o coração e a mente unidos com o Senhor Jesus, para que a morte surgida seja o começo da verdadeira vida e a partida seja já sentida com gosto de uma eternidade feliz.


Finalização de Claudia Pimentel dos Conteúdos Católicos


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2 Comments


Oliveira Lisboa
Oliveira Lisboa
Jul 04, 2024

Muito bom este artigo! Estão de parabéns! Completo com está frase:

Estar sem Deus é treinarmo-nos para a morte eterna sem Ele também.

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80marianamachado
Jul 04, 2024

As pessoas temem mais a morte do que a dor, eu não tenho medo da morte pois não sei o que é a morte. O fato de estarmos vivos, teremos que estar prontos e aceitar a morte. Devemos temer menos a morte e nos preocupar mais na insuficiente vida que levamos sem Deus.

Muito bom este artigo e de tantos outros que estão neste site, Parabéns💓❤️❤️

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