A consolação desta vida presente é tão pequena e passageira quanto à tribulação. Contudo, a consolação e a tribulação da vida vindoura são eternas e grandíssimas. Louco, pois, é todo aquele que despreza as consolações e as tribulações da vida futura. A primeira proposição deste argumento é clara e manifesta pela experiência. A segunda é manifestada expressamente pela Sagrada Escritura. A terceira se conclui das duas precedentes. Se alguém quer aprender de modo fácil e rápido a arte de bem morrer, não se contente em ler este ou qualquer outro livro similar, todavia medite e considere atentamente, não uma, porém, muitas vezes, e com frequência, não com ânimo de aprender, mas com a intenção de bem viver e venturosamente morrer, a respeito do quão distantes e distintas são as coisas eternas das coisas momentâneas, e quão distintas são as coisas gravíssimas das ligeiras. E se desejar se confirmar solidamente nessa utilíssima verdade, considere os exemplos daqueles que vieram antes de nós, sejam sábios ou loucos, isto é, daqueles que bem viveram e morreram felizes e daqueles que viveram mal e morreram para morrer eternamente. A fim de diminuir a fadiga de meus benignos leitores em buscar exemplos por si mesmos, proporei três tipos: um de reis, outro de pessoas privadas, e outro de eclesiásticos, todos os três retirados das Sagradas Escrituras.
O primeiro exemplo será o de Saul e de Davi. Saul, primeiro Rei dos hebreus, por ter sido pessoa privada e pobre, era tão bom que a Escritura afirma não haver ninguém melhor do que ele em toda Israel naquele período (1 Rs, 9). No entanto, uma vez feito Rei, mudou de vida e de costumes de tal modo, que não havia pessoa pior do que ele. Perseguiu o inocente Davi, mandando matá-lo somente por suspeitar de sua sucessão no reino.
Finalmente, depois de reinar por vinte anos, Saul foi morto em guerra e mandado para o Inferno. E o pobre e fiel Davi, depois da longa perseguição de Saul, foi declarado Rei e governou por quarenta anos, durante os quais sofreu também grandes perseguições, para finalmente repousar em paz.
Comparemos agora as tribulações e consolações de um e de outro, a fim de constatarmos quem obteve maior proveito na arte de bem viver e morrer. Enquanto reinava, Saul não teve prazer algum em seu reino, por causa do ódio que trazia em si em relação a Davi. É por essa razão que durante vinte anos não gozou da doçura de reinar, pois estava engolfado no fel de sua inveja. Passados os anos, todo o prazer de sua vida se foi, sucedendo-lhe em tro-
ca uma longa e sempiterna calamidade; e até agora, que se passaram aproximadamente dois mil e setenta anos, a sua parte mais nobre, isto é, sua alma, vive entre grandíssimas dores e tormentos. E o mais terrível, é que tais tormentos durarão eternamente. Davi, ao contrário, viveu setenta anos, quarenta dos quais como Rei. Embora tenha sofrido muito e passado por imensas tribulações, gozou de grandiosas e frequentes consolações da divina revelação, as quais expressou em seus Salmos. Depois de sua morte, ele não desceu aos infernos como Saul, mas ao seio de Abraão com os Santos Patriarcas e, depois da Ressurreição de Jesus Cristo, subiu com Ele aos Céus.
Que o leitor julgue agora se a morte dos iníquos não é infelicíssima e miserável, ainda que sejam Reis ou Imperadores, e felicíssima é aquela dos justos, ainda que sejam Reis ou Imperadores. Como já disse, Saul reinou por vinte anos; depois de sua morte, já fazem mais de dois mil anos que está no Inferno sem refrigério algum. Que são vinte anos comparados a dois mil? Quem desejaria vinte anos de prazer puro e perfeito, se soubesse com certeza que iria, por causa disso, parar em uma fornalha ardentíssima por dois mil anos ou mais? Não seria completamente louco quem quisesse perecer, não digo por dois mil, mas duzen-
tos anos, a fim de gozar de vinte anos de prazer, ainda que grandíssimo?
E se disséssemos que o tormento cruel do Inferno não durará apenas dois mil anos, mas não terá mais fim? Somente esta eternidade de tormentos, que não cessará jamais e não terá refrigério algum, é suficiente para dobrar e reduzir à penitência um coração de ferro e um peito de bronze.
A mesma consideração poderá o benigno leitor fazer por si mesmo a respeito da tribulação de Davi, que foi momentânea e ligeira aqui na terra se comparada com o peso da glória incomensurável e sempiterna que Davi obteve no Reino do Céu. Contudo, é verdade que somos muito mais movidos pela meditação nos tormentos eternos do Inferno do que pela consideração das alegrias imortais do Paraíso.
Outro exemplo é o do rico e do pobre Lázaro, retirado do Evangelho de São Lucas. O rico gozou por pouco tempo com os seus amigos e "se vestia com roupas finas e elegantes e dava festas esplêndidas todos os dias". Lázaro, ao contrário, pobre, débil e doente, ficava sentado na porta do rico e queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico (Lc 16, 21), mas ninguém lhe dava nada. Contudo, pouco depois a sorte se inverteu, pois o rico, ao morrer, desceu aos infernos, enquanto Lázaro, quando morreu, foi levado pelos anjos ao seio de Abraão, local de paz e refrigério. Portanto, o rico, que por pouco tempo gozou dos prazeres terrenos, começou a sofrer uma eternidade de misérias, sem refrigério ou intervalo algum em seus sofrimentos. Já o piedoso e paciente Lázaro, depois de uma breve tribulação, foi repousar no seio de Abraão e, depois da Ressurreição de Cristo, no Reino dos Céus, onde é eternamente beato. Sem dúvida, se vivêssemos naquele tempo, poucos ou nenhum de nós teria desejado ser como Lázaro, mas todos ou a maioria desejaria viver como o rico. E agora, no entanto, chamamos a Lázaro de bem-aventurado e o rico de miserável. Mas por que então agora, quando a escolha se oferece a nós, não elegemos o caminho de Lázaro ao invés do caminho do rico? Não digo que se deva desprezar as riquezas, pois Abraão, Davi e muitos outros foram muito ricos, mas condeno a intemperança, a cobiça, o luxo, a vaidade, a inclemência e outras virtudes que lançaram o rico nas chamas infernais. Não consideramos apenas a pobreza e as úlceras, mas celebramos sua paciência e sua piedade. É de se admirar que, embora reconhecendo todas essas coisas, sabendo que o rico é um estulto e Lázaro sapientíssimo, ainda assim encontramos tantas pessoas que imitam ao rico, mesmo sabendo que certamente vão obter o mesmo destino e sofrerão as mesmas penas, pois quiseram uma vida semelhante.
Resta o terceiro exemplo, que será o de Judas, o traidor, e de São Matias, que o sucedeu no apostolado. Judas já era um homem infeliz neste mundo, mas é infinitamente mais
infeliz e desgraçado no outro. Ele seguiu ao Salvador por um espaço de três anos e não desejava outra coisa senão encher sua bolsa por meio do furto sacrílego, pois não se
contentava com o dinheiro que retirava das esmolas da comunidade, as quais pilhava para si mesmo. Estando gravemente tomado pela enfermidade da avareza, chegou ao extremo de vender seu Senhor e seu Mestre. Mas pouco depois, quando o Diabo o conduziu ao desespero, restituiu o dinheiro e enforcou a si mesmo, privando-se de uma só vez da vida temporal e da vida eterna. Por essa razão o Senhor proferiu aquela horrível sentença: Seria melhor para esse homem que jamais tivesse nascido! (Mt 26,24).
São Matias, que sucedeu a Judas quando foi eleito para seu posto, sofreu muitas fadigas e dores momentâneas, não sem uma grande afluência das delícias celestes. Agora que todo o trabalho e todas as dores cessaram, ele vive venturosamente no Céu dos justos com Jesus Cristo, a quem serviu fielmente enquanto estava sobre a terra.
Esta comparação entre Judas e Matias diz respeito principalmente aos Bispos e Regulares. Judas foi Apóstolo de Jesus Cristo, e por consequência, designado Bispo, pois São Pedro diz de São Matias e de Judas estas palavras de Davi: Sejam abreviados os seus dias, tome outro o seu encargo (SI 108, 18). E o próprio Judas se encontrava entre os Regulares, com quais disse São Pedro: Eis que deixamos tudo para te seguir. Que haverá então para nós? (Mt 19,27). Judas, portanto, o mais infeliz e miserável de todos os homens, tendo caído de um alto grau de perfeição, perdeu aquele pouco de ganho que mal havia adquirido, restituindo-o, para logo em seguida ser o carrasco de si mesmo, condenando-se à pena eterna. Isso deve servir de exemplo a todos os Eclesiásticos e Regulares, para que saibam
como caminhar nas sendas deste mundo e a que perigo se expõem se não correspondem às perfeições de seu estado, vivendo santamente. Saul e o rico, que viveram em uma
felicidade temporal, caíram em uma eternidade de tormentos. Judas não teve felicidade temporal alguma, mas somente uma sombra imaginária, ou mesmo uma esperança
dessa felicidade; no entanto, em um fim miserável, muito pior do que o de Saul e do rico, retirou sua própria vida, lançando-se em uma morte eterna. Mas mesmo se Judas tivesse se tornado rico, adquirindo todas as riquezas de todos os mortais, ainda assim seria reduzido à miséria perpétua e aos tormentos que durarão eternamente, como de fato aconteceu. Que proveito lhe traria toda essa riqueza?
Fica, portanto, estabelecida a verdade do raciocínio que propomos no início deste capítulo, a qual repetiremos uma vez mais com as palavras do Apóstolo: A nossa presente tribulação, momentânea e ligeira, nos proporciona um peso eterno de glória incomensurável. Porque não miramos as coisas que se veem, mas sim as que não se veem. Pois as coisas que se veem são temporais e as que não se veem são eternas (2Cor 4, 17-18).
Este texto acima esclarece o que de fato aconteceu e foi-nos revelado pelas Sagradas Escrituras.
Mesmo assim, existem pessoas que teimam em serem cegas e surdas aos Apelos de Deus no coração, para deixarem uma vida de ilusão e de enganos (Coisas como bens e privilégios passageiros) e que deveriam agarrarem ao que não é perecível e não é visto pelos olhos, mas sim, vividos e sentidos pelo Amor e Desapego do coração à tudo o que se possui.
Quem ama o Amor (Deus) será desapegado. Por que Deus preenche o nosso ser do que necessita e o desapego ocorrerá espontaneamente; pois o mal do ser humano está na ânsia do possuir sempre mais.
Quem ama verdadeiramente à Deus, naturalmente saberá viver o tempo limitado desta vida, sem deixar-se desviar do que realmente importa, ou seja, viverá sabiamente, tomando as decisões mais acertadas em sua vida e merecerá uma Eternidade Feliz.
Deus é simples, nós é que muitas vezes nos esquecemos disso e complicamos tanto determinadas situações que, somente em amá-Lo e evitarmos a avareza que consome o coração, caso alguém não esteja vigilante, fará toda a diferença na vida.
Devemos viver neste mundo com o coração no que é eterno e saber viver é mesmo uma arte para que depois se mereça uma vida ainda mais feliz e sem fim.
Finalização de Claudia Pimentel dos Conteúdos Católicos
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