AS PENAS DA VIDA
- Conteúdos Católicos

- 15 de jun. de 2022
- 5 min de leitura
Atualizado: 30 de out.

As penas da vida presente passam; porém, as da outra vida não passarão nunca, estarão sempre principiando. Pobre Judas! Passaram-se quase mil e novecentos anos desde que caiu no inferno e o inferno está apenas principiando para ele. Pobre Caim! Há perto de seis mil anos que está no inferno e o seu inferno ainda está no princípio. Perguntou-se certa vez a um demônio há quanto tempo já estava no inferno; e respondeu: Desde ontem. — Como? Disseram-lhe; desde ontem? Não há mais de cinco mil anos que foste condenado ao inferno? — Tornou o demônio: Oh! Se soubesses o que quer dizer eternidade, bem compreenderias que em comparação dela cinco mil anos não são senão um instante.
Mas como? Dirá um incrédulo; que justiça é essa? Castigar com uma pena eterna um pecado que dura apenas um momento? E como é, respondo eu, que o pecador pode ter a audácia de ofender, por um prazer momentâneo, uma Majestade infinita?
Até a justiça humana, observa Santo Tomás, mede a pena, não pela duração, mas pela qualidade do crime. Non quia homicidium in momento committitur, momentanea poena punitur. A ofensa feita à Majestade Divina merece castigo infinito, diz São Bernardino de Sena. Mas, como a criatura, acrescenta o Doutor Angélico, não é capaz da pena infinita em intensidade, é com justiça que Deus torna a pena infinita em duração.
Além disso, esta pena deve ser necessariamente eterna, porque o condenado já não pode satisfazer pelo seu pecado. Nesta vida, o pecador penitente pode satisfazer, porquanto podem ser-lhe aplicados os merecimentos de Jesus Cristo; mas desta aplicação fica excluído o condenado, e visto não poder aplacar a Deus, e ser eterno o seu estado de pecado, a pena deve também ser eterna: Non dabit Deo placationem suam… laborabit in aeternum — “Não dará a Deus a sua propiciação… estará em trabalho eternamente”. — Demais: ainda que Deus quisesse perdoar, o réprobo não quisera ser perdoado, porque a sua vontade está obstinada e confirmada no ódio contra Deus. Por isso o mal do réprobo é incurável, porque ele recusa a cura: Factus est dolor eius perpetuus, et plaga desperabilis renuit curari.
Eis aí, pois, o estado lastimoso dos pobres condenados no inferno: ficarão encerrados eternamente nesse cárcere de tormentos, sem que haja para eles esperança alguma de sair. Depois de passados milhões e mais milhões de séculos, os desgraçados perguntarão aos demônios: Custos, quid de nocte? — “Guarda, que viste de noite?” Já está muito adiantada esta noite procelosa? Quando acabará? Quando acabarão estes clamores, esta infeção, estas chamas, estes tormentos? E hão de responder-lhes: Nunca, nunca! E quanto tempo durarão? Sempre, sempre! E assim a trombeta da justiça divina eternamente lhes fará soar aos ouvidos estas palavras:
Sempre, sempre! Nunca, nunca!
«Ó meu amado Redentor Jesus, se atualmente estivesse condenado, como mereci, não haveria mais esperança para mim, e estaria obstinado no ódio contra Vós, ó meu Deus, que morrestes para me salvar. Que inferno seria para mim o ter de odiar-Vos, a Vós que tanto me tendes amado, que sois a beleza infinita, digno de amor infinito? Se estivesse, pois, no inferno, achar-me-ia em tão miserável estado, que nem quisera o perdão que me ofereceis agora. Agradeço-Vos, meu Jesus, a bondade que tivestes para comigo, e já que posso ainda esperar o perdão e amar-Vos, quero reconciliar-me convosco, quero amar-Vos. Ofereceis-me o perdão, e eu Vo-lo peço e espero-o pelos Vossos merecimentos. Arrependo-me de todas as ofensas que Vos fiz, ó Bondade infinita, e perdoai-me. Amo-Vos com toda a minha alma.
Que mal fizestes, ó Senhor, para que Vos houvesse de odiar como inimigo na eternidade? Quem foi jamais tão meu amigo a ponto de fazer e padecer por mim, o que Vós, ó meu Jesus, haveis feito e sofrido por meu amor? Não permitais que me aconteça cair de novo em Vosso desagrado e perder o Vosso amor. Prefiro morrer a cair nesta extrema desgraça. — Ó Maria, abrigai-me sob o Vosso manto, e não permitais que saia debaixo dele para alguma vez me revoltar contra Deus e contra Vós».
Santo Afonso Maria de Ligório
✅ Síntese do Conteúdo
Minha Reflexão Sobre As Penas da Vida: Entre a Justiça Eterna e a Misericórdia de Deus
Desde muito cedo, fui tocado por uma inquietação profunda diante da realidade da eternidade. A ideia de que as penas da vida presente passam, enquanto as da outra vida jamais cessam, sempre me provocou uma reflexão silenciosa e dolorosa. Ao contemplar a sorte de almas como Judas e Caim, percebo que o tempo humano é incapaz de medir o sofrimento eterno. Judas caiu no inferno há quase dois mil anos, e ainda assim seu tormento está apenas começando. Caim, há quase seis mil anos, permanece no mesmo estado de condenação.
Quando um demônio foi perguntado sobre há quanto tempo estava no inferno, respondeu: “Desde ontem”. Essa resposta, aparentemente absurda, revela a profundidade do mistério da eternidade. Cinco mil anos, diante da infinitude do castigo, não passam de um instante. E então me pergunto, como pode a justiça divina condenar eternamente um pecado que dura apenas um momento? Mas logo compreendo, com o Santo Tomás, que a pena não se mede pela duração do ato, mas pela qualidade da ofensa. A ofensa contra uma Majestade infinita exige uma reparação proporcional. E como eu, criatura limitada, não sou capaz de suportar uma pena infinita em intensidade, Deus a torna infinita em duração.
Essa lógica, por mais dura que pareça, revela a seriedade do pecado e a santidade de Deus. Além disso, percebo que após a morte, o condenado já não pode satisfazer por seus pecados. Nesta vida, ainda posso recorrer aos méritos de Cristo, posso me arrepender, posso ser perdoado. Mas no estado de condenação, essa possibilidade não existe. O réprobo está excluído da graça e sua vontade está obstinada no ódio contra Deus. Mesmo que Deus quisesse perdoar, ele não aceitaria.
Sua dor é perpetuada por sua recusa à cura. E então imagino o inferno como um cárcere de tormentos, onde não há esperança de saída. Milhões de séculos se passam, e os condenados perguntam: “Guarda, que viste de noite?” Quando acabará esta noite procelosa? Quando cessarão os clamores, as chamas, os tormentos? E a resposta é sempre a mesma: “Nunca, nunca! Sempre, sempre!” Essas palavras ecoam como trombetas da justiça divina, ressoando eternamente nos ouvidos dos condenados.
Diante dessa realidade, volto-me para Jesus, meu Redentor. Se eu estivesse condenado, como mereci, estaria obstinado no ódio contra Aquele que tanto me amou. Que inferno seria odiar a beleza infinita, o amor infinito, Aquele que morreu para me salvar. Mas ainda posso esperar o perdão. Ainda posso amar. E é isso que quero, reconciliar-me convosco, Senhor. Arrependo-me de todas as ofensas que Vos fiz. Amo-Vos com toda a minha alma. Que mal fizestes, ó Jesus, para que eu Vos odiasse eternamente? Quem foi tão meu amigo como Vós, que padecestes por mim? Não permitais que eu caia novamente em Vosso desagrado.
Prefiro morrer a perder o Vosso amor. Ó Maria, abrigai-me sob o Vosso manto. Não permitais que eu me revolte contra Deus. Guardai-me, protegei-me, conduzi-me à salvação. Esta é a minha súplica, esta é a minha esperança, esta é a minha vida.
E assim, envolto na luz da misericórdia, sigo em silêncio pela estrada da fé. Que cada passo meu seja um eco de amor, cada queda, um convite à graça. Se a noite vier, que me encontre em oração, se o dia nascer, que me encontre em louvor. Pois viver é buscar o Céu e morrer é encontrá-Lo. Que minha alma jamais se afaste da Vossa, Senhor e que, ao fim desta peregrinação, eu possa repousar no Vosso coração eterno.
Finalização de Paulo Pimentel
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