Jesus sente que Sua hora se aproxima, reúne os Seus discípulos e manifesta-lhes o último desejo com um gesto que marcará para sempre a história da humanidade: o lava-pés. O texto Joanino diz que Jesus realizou o "lava-pés" durante a ceia, enquanto a refeição
estava acontecendo. «Levanta-Se da mesa, tira o manto, toma uma toalha e cinge-Se com ela. Depois põe água numa bacia e começa a lavar os pés dos discípulos.» (Jo 13, 4-5).
Considerai que o gesto de Jesus assume um significado especial - não é possível "amar e servir" permanecendo no comodismo. Ao levantar-Se da mesa, Jesus revela aos discípulos que é necessário ir ao encontro do outro; Ele não desejou ficar apenas nas palavras, mas aproximou-Se, ajoelhou-Se, tocou.
As reflexões conduzem a compreensão da humildade e amor ao serviço que havia em Jesus. «O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar Sua vida como resgate por muitos.» (Mt 20, 28). Portanto, Jesus veio para servir e não para permanecer
sentado à mesa esperando que os outros O sirvam.
O "amar e servir" de Santo Inácio de Loyola
Com Seu exemplo, Ele alerta que o mundo precisa de pessoas que estejam disponíveis ao serviço. Só quem serve torna-se útil ao próximo e colabora com o projeto de Deus. Servir significa dar a vida - acontecimento lembrado na sexta-feira da Paixão.
Servir e não ser servido refere-se à entrega de si mesmo aos outros e ao bem comum, cuja grandeza consiste no homem colocar-se a serviço de maneira despretensiosa, assim, o "primeiro lugar" será ocupado por quem se dispuser a assumir a condição de servo.
A espiritualidade Inaciana está essencialmente inspirada nesse sentido: "servir e amar". Portanto, toda a narrativa do lava-pés evidencia uma ligação com os ensinamentos de Inácio e suas atitudes de lealdade e serviço para com a Igreja.
A resposta ao chamado de Cristo se realiza na Igreja Católica e através dela, que é o instrumento por meio do qual Cristo está sacramentalmente presente no mundo. (...) Inácio e seus companheiros foram todos Sacerdotes e puseram a Companhia de Jesus a serviço do Papa para "ir a qualquer lugar onde ele achasse conveniente enviá-los para a maior glória de Deus e bem das almas". (EE 603).
O "amar e servir" em Santa Teresa DÁvila
Contemporânea de Inácio de Loyola, Teresa D'Ávila também viveu na Espanha no século XVI. Apesar da oposição paterna, decidiu tornar-se monja e aos vinte anos entrou no Mosteiro da Encarnação em Ávila, o qual abrigava quase duas centenas de monjas.
Em plena Idade Média, época em que as mulheres não eram reconhecidas pelo serviço que realizavam, Teresa tornou-se fundadora de novos mosteiros e reformadora da Ordem das Carmelitas, e com esse exemplo apontamos o "amar e servir" de Teresa, pois em seu coração havia muita generosidade no serviço à Deus.
Para Teresa, amar é doar-se inteiramente, entregar-se no caminho da doação total com generosidade ao Senhor. (...), mas ao coração que muito ama é necessário a intimidade com o Amado. Teresa está convencida de que o amor só se paga com amor. (ESPÍRITO SANTO, 2012, p. 30)
Foi uma monja fervorosa, decidida, e todos a conheciam como uma mulher determinada. Quando resolvia fazer algo, fosse no espírito ou na vida profissional, ela dava tudo de si para que tudo saísse perfeito. Nada a impressionava nem a perturbava. Dizia: "só Deus basta".
Nesse contexto, é importante destacar que a espiritualidade de Teresa D'Ávila e Inácio de Loyola, possuíam semelhanças. Teresa confiava nas pessoas, mas procurava viver independente dos vínculos afetivos. Ambos meditavam sobre a indiferença e o conhecimento interior, a fim de, desapegados e curados interiormente, poderem amar e servir a Deus em tudo.
O "amar e servir" no Concílio Vaticano II
No dia 11 de outubro de 1962, João XXIII abria o Concílio Vaticano II.
O Concílio Ecumênico acontece felizmente num momento em que a Igreja se dedica a robustecer sua fé com forças renovadas e a reencontrar novos caminhos de unidade. (...) Vivemos um momento privilegiado para celebrar um Concílio. Em todas as latitudes fazem-se enormes e generosos esforços para restaurar a unidade visível entre os cristãos, de acordo com o desejo expresso do divino Salvador. O Concílio ajudará a colocar em evidência os pontos principais da doutrina; será uma demonstração excecional do amor que une a todos, possibilitando aos cristãos separados da ocasião única de melhor perceberem o caminho da unidade e de prosseguirem uma frutuosa aproximação entre
todos. (Concílio Vaticano II, p. 14).
O Concílio lançou as bases de um novo tempo para a Igreja.
Não marcou rutura com o passado e soube valorizar a inteira tradição eclesial, no intuito de orientar os fiéis nas respostas aos desafios encontrados nas situações contemporâneas.
A fim de compreender o "amar e servir" do Concílio Vaticano II, ressaltamos um de seus documentos promulgados: Decreto Ad gentes - sobre a atividade missionária na Igreja.
A vocação missionária:
Todo discípulo de Cristo é responsável pela difusão da fé. «Mas o próprio Cristo Senhor escolhe especialmente alguns deles, chama-os para estarem mais perto de si e os envia a pregar às nações» (Mc 3, 13). Nesse sentido a vocação missionária infundida no coração das pessoas e a criação de institutos missionários na Igreja são atribuídos ao "Espírito Santo que distribui como quer os Seus dons, para utilidade de muitos" (1Cor 12, 11). Dessa forma, todos os que assumem o trabalho missionário fazem-no em nome da Igreja, a quem compete evangelizar por dever de ofício. (Decreto Ad Gentes, 1171, p. 425).
A espiritualidade missionária:
O ser humano deve responder de maneira total ao chamado de Deus, empenhando-se inteiramente no trabalho do Evangelho, independentemente do que lhe sugerem a carne e o sangue. Tal resposta só é possível graças à inspiração e à força do Espírito Santo. Deve, por conseguinte, estar preparado para consagrar toda a vida à sua vocação, renunciando a si mesmo e a tudo mais e dedicando-se inteiramente aos outros. (Decreto Ad Gentes, 1171, p.425).
Os textos extraídos da Decreto Ad gentes, sugerem a seguinte reflexão: anunciar Jesus Cristo não deveria ser apenas uma atividade entre muitas outras desenvolvidas pelos leigos na Igreja, antes é necessário, conforme os ensinamentos de Santo Inácio, fazer as coisas para a glória de Deus.
O Decreto Ad gentes - sobre a atividade missionária na Igreja - remete-nos à imagem da distância, do combate, do desafio, do limite. Compreende-se que a distância chama o homem para longe do comodismo. O combate estimula-o a enfrentar dificuldades. O
desafio arranca-o da inércia espiritual. E o limite leva-o à humildade e ousadia.
Como conduzir o homem contemporâneo à reflexão, em meio à uma sociedade moderna caracterizada pelo relativismo?
Santo Inácio ensina: o homem deve fazer tudo para a glória de Deus e, por meio da interiorização e da oração, ele descobrirá e fará do amor o critério de sua vida e de suas decisões. Só assim o homem será capaz de amar e servir, em especial, os pobres e
excluídos.
Também convém ressaltar o que diz o Documento de Aparecida:
Na doação a vida se fortalece e se enfraquece no comodismo e no isolamento. De fato, os que mais desfrutam da vida são os que deixam a segurança e se apaixonam pela missão de comunicar a vida aos demais. (V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, Documento de Aparecida, 2007, 360 P.166).
Quem vive no Espírito Santo, naturalmente deixa o comodismo para ajudar aqueles que mais necessitam e que podem não estar tão distantes de nós.
A oração aos poucos leva-nos à uma melhor interiorização daquilo que o Senhor nos diz em "amar e servir".
Quanto mais amo-O, mais tenho o desejo de fazer algo pelos outros, pois Ele se encontra nesses nossos irmãos que por inúmeros motivos, hoje carecem de quem os ajudem.
O amar nos estimula a doar-nos à Jesus sofredor, na pessoa do próximo.
Quanta felicidade se sente no ajudar o outro...Uma felicidade que se baseia no exercer o bem de que tanto estamos preenchidos, para dar ao outro que também se sinta cheio da presença e desse mesmo amor transferido e gratuito.
É o amor de Deus que nos move, que nos inspira o servir.
É nos desprender do nosso eu para irmos ao encontro daqueles que não têm ninguém a se preocupar com eles.
Isso é amar Jesus no outro e decididamente é assumir o caráter e a consciência cristã, vivida plenamente num mundo cada vez mais indiferente por Jesus e com quem sofre.
Finalização de Claudia Pimentel dos Conteúdos Católicos
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