A parte dos referidos meios de adquirir o aumento da graça pelo espírito da caridade com que cada um os pratica e se põe em comunicação direta com Deus, estão aqueles que a Santa Igreja tem para difundir a vida por todos os membros de Cristo, fazendo-a partir desta divina Cabeça através dos órgãos hierárquicos. E esses meios, não só pelo espírito com que se utilizam, senão por razão da própria obra feita - ex opere operato - conferem
a graça ou a aumentam, embora por causas involuntárias falte a devoção e mesmo a intenção atual. Tais são os sacramentos, canais divino-humanos ou artérias vivas por onde, por impulso da caridade do Espírito Santo, circula o Sangue do Redentor para reanimar, purificar, revigorar, curar ou vivificar os diversos membros que não opõem resistência. As funções sacramentais consagram e santificam toda a vida individual e social dos bons cristãos.
Entre todos os sacramentos, os mais indispensáveis para cada um dos fiéis em particular são o Batismo, para começar a vida espiritual, e a Eucaristia, para aperfeiçoá-la e completá-la, conforme ensina o Doutor Angélico; aquele tem por objeto direto dar-nos a vida e não o aumento dela; fazer-nos nascer, não crescer; estabelecer os laços que nos unem com Jesus Cristo, e não estreitá-los; embora, per accidens, conferido a um catecúmeno que esteja em
graça, se lhe aumenta. Mas a Eucaristia tem por objeto próprio conservar a graça e aumentá-la. E por isso, "se não recebemos este alimento espiritual, onde se come a Carne e se bebe o Sangue do Filho de Deus, não podemos viver espiritualmente" (Jo 6, 54). Quão lamentável é que tantos cristãos tardem anos e anos a recebê-Lo ou O recebam raríssimas vezes, quando sem Ele é impossível conservar por muito tempo a vida... Ainda está quase
de moda considerar a Comunhão das crianças como o coroamento de toda sua educação e formação religiosa, devendo ser o princípio e o meio mais a propósito para fomentá-la. Se reveste, sim, de grande solenidade o ato da primeira Comunhão, mas se lhe dá um significado muito diferente do que lhe corresponde. Devendo ser a introdução a uma vida nova, totalmente divina, vem a ser como a "apresentação da criança à sociedade", isto é, sua introdução real na vida mundana, onde esquecerá as poucas práticas religiosas que até então tinha.
A Eucaristia é o sacramento mais indispensável depois do Batismo. A própria Penitência, ao ser tão proveitosa, não é totalmente necessária a quem não tenha cometido faltas graves. Tampouco o é absolutamente, enquanto não ameacem perigos extraordinários; a Confirmação, que nos sela como soldados de Cristo para poder confessá-Lo em nome da Igreja, apesar da grande importância que têm os carismas que a esse místico selo acompanham.
Mas sim é nos alimentarmos para viver e crescer. Aquela, uma vez recebida, imprime em nós um caráter militar que há de durar para sempre; mas a alimentação espiritual deve ser contínua e, até podemos acrescentar, cada vez mais copiosa. Ambos sacramentos nos robustecem, mas não do mesmo modo. «A Confirmação, diz Santo Tomás, aumenta em nós a graça para nos fortalecer contra os inimigos exteriores de Cristo; enquanto que, na Eucaristia, o aumento da graça e da vida espiritual tende a fazer o homem perfeito em si mesmo por uma união cada vez mais íntima com Deus». Os demais sacramentos conferem uma graça especial: essa, na Penitência, é reparadora, curadora, medicinal ou revivificadora; e na Extrema-unção - último e supremo remédio contra as doenças e fraquezas espirituais - lenitiva e confortadora, ao mesmo tempo que purificadora... Só na Comunhão é por si mesma aumentativa e unitiva. Os outros dois sacramentos se ordenam à vida social da Igreja: o Matrimônio confere aos contraentes a graça necessária para que sua união seja fiel, santa e frutuosa, à imagem da de Jesus Cristo com Sua Igreja, e a Ordem consagra os ministros de Deus como órgãos dispensadores de Seus sagrados mistérios e distribuidores de Suas graças (ICor 4, 1), proporcionado assim a perpetuidade destas funções do Corpo místico e conferindo uma graça muito especial para que se desempenhem digna e santamente. Esse sacramento não pode ser reiterado, pelo motivo mesmo que imprime caráter. Tampouco o Matrimônio, enquanto não se rompa o vínculo pela morte de um dos cônjuges, nem a Extrema-unção, enquanto não ocorra uma nova enfermidade grave, ou na mesma não se reproduza um novo perigo extraordinário.
Só a Penitência e a Eucaristia são reiteráveis ao nosso arbítrio; e assim são os dois sacramentos que diretamente se ordenam ao nosso progresso espiritual, e os dois meios mais eficazes para fomentá-lo com as especialíssimas graças que conferem, um purificando e curando e o outro alimentado, fortalecendo e fazendo crescer na caridade e na união deífica . «A Eucaristia, diz Suárez, tem um caráter próprio que não convém a nenhum dos outros sacramentos, que é se dirigir diretamente a nutrir a caridade para que cresça e nos una mais intimamente com Deus. Cada um dos outros têm seu fim especial, em vista do qual confere auxílios particulares com um aumento de graça; mas ela se ordena diretamente a completar a união dos fiéis com Cristo e Seu Corpo». «É, dizia São Boaventura , o sacramento da união: seu primeiro efeito é unir, não produzindo a primeira
união, mas estreitando a já contraída». «O efeito da Eucaristia, ensinava o Concílio Florentino, é unir os homens com Jesus Cristo. E posto que a graça é a que com Ele nos incorpora e nos une aos seus membros, daí que esse sacramento produza em nós um aumento de graça e virtudes».
Se, pois, a vida da graça se recebe com o Batismo, e se corrobora na Confirmação, com a Eucaristia se conserva, desenvolve-se e se aperfeiçoa, e assim nela está, como diz Santo Tomás, o complemento da vida espiritual. E posto que é o Pão desta vida divina, todos os efeitos que o alimento ordinário produz na natural - que são nutrir, ampliar, reparar e deleitar - ela os produz na espiritual, segundo ensinou, com nosso santo Doutor, o citado Concílio.
E nada estranho, pois o próprio Salvador o afirmou terminantemente ao dizer: Minha carne verdadeiramente é comida, e Meu sangue bebida. O notável é que só esse seja designado de um modo expresso no Evangelho como sacramento de vida, e isso com uma insistência que não pode carecer de mistério. «Eu sou, diz Jesus (Jo 6,51-58), o pão vivo, que desceu do céu. Se alguém come desse pão, viverá eternamente; o pão que Eu darei para vida
do mundo é Minha carne... Se não comeis a carne do Filho do homem e não bebeis o Seu sangue, não tereis vida em vós; quem come Minha carne e bebe Meu sangue tem vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia... Assim como Me enviou o Pai vivo, e Eu vivo pelo Pai, assim aquele que Me come viverá por Mim».
«Toda a gênese da vida sobrenatural, adverte Bellamy, está contida nestas últimas palavras, assombrosamente profundas. Deus Pai, que é o Vivo por excelência, Pater vivens, é o manancial infinito dessa vida, e a comunica em Sua plenitude soberana ao Verbo e com Ele ao Espírito Santo, que vivem eternamente da mesma vida do Pai. Na Encarnação, a vida divina corre, por assim dizer, do seio da adorável Trindade para se derramar na Humanidade
de Jesus Cristo em toda a abundância possível: Et ego vivo propter Patrem.
E dessa augusta fonte, derivada da infinita, é de onde brotam para nossa alma, quando comungamos, torrentes de vida sobrenatural. Assim é como chega até nós em linha reta, desde as inacessíveis alturas da Santíssima Trindade, por intermédio do Verbo Encarnado, sempre presente na Eucaristia, a vida da graça. A Comunhão é, pois, o sacramento da vida, da própria vida de Deus, misteriosamente comunicada à vida humana».
A Eucaristia tem, pois, uma virtude especial para nos comunicar a vida divina. É verdade que essa é idêntica, de qualquer modo que a recebamos, pois sempre consiste em participar da divina natureza e nos assimilar com Deus; mas como aqui a alma se acerca de um modo tão íntimo ao divino Modelo, é justo supor que receba no fundo de sua substância uma impressão mais clara da Divindade. Uma mesma é a vida que recebemos no Batismo, com que renascemos em Deus, e na Eucaristia onde crescemos, porque em
ambos sacramentos Deus nos comunica algo de Sua própria natureza; mas há entre eles a diferença de que um é o simples começo dessa vida, enquanto que o outro é seu desenvolvimento. No primeiro se recebe a vida da criança; no segundo, a do homem adulto, destinada a progredir incessantemente, porque em si mesma não conhece nem declinação nem desfalecimento.
Como fonte eterna de juventude e de maturidade, a Eucaristia é o coroamento da vida sobrenatural.
Mas a privação involuntária da Comunhão sacramental, ou o não poder recebê-la quantas vezes desejamos, supre-se em grande parte com a espiritual, que se pode renovar a todos os momentos, e que, pelo amor com que se faz e as ânsias que mostra de receber realmente o Pão da vida, produz um grande aumento de graça.
Não só necessitamos crescer, mas estamos obrigados a nos renovarmos dia a dia, purificando-nos de nossas imperfeições, lavando-nos das manchas que contraímos, curando nossas doenças espirituais, e nos revivificando em seguida, se tivermos a imensa infelicidade de perder a vida da graça: e tudo isso se alcança pelo sacramento da Penitência. Como ninguém, sem um privilégio singularíssimo como o da Virgem, pode passar a vida sem que se pegue nele o pó terreno e sem viciar-se com muitos defeitos veniais, pelo menos inadvertidos, daí a grande importância que vai tendo cada vez mais
na Igreja esse sacramento que, depois da Comunhão, é o principal meio que podem empregar as almas para fomentar, direta ou indiretamente, seu progresso espiritual, tirando os obstáculos da graça e aumentando-a, pelo menos em seu aspeto medicinal, com que nos fazemos mais firmes para não cair em novas faltas e mais vigorosos para excluir os gérmens do ресаdo; pois, recebida em graça, a absolvição sacramental acrescenta a vida, ao mesmo tempo que cura, purifica e revigora. Verdade é que esse sacramento se pode suprir em grande parte (como foi suprido nos primeiros séculos da Igreja, enquanto regia a disciplina da "exomologesis pública e única") com a frequência da Eucaristia e a virtude da Penitência. Essa sempre é indispensável para corrigir todas as nossas faltas tão logo as advirtamos, sem aguardar pelo dia de receber a absolvição. Mas com essa última se corrigem as deficiências daquela, e assim a simples atrição se converte em contrição,
e a própria satisfação adquire um valor muito maior, revestindo a eficácia sacramental. Por isso as almas devotas, não contentes com fazer diariamente o exame geral de sua consciência - com o particular da falta que mais as domina e lhes importa corrigir - e se impor em satisfação muitas penitências e privações para castigarem a si mesmas e se corrigirem (todos os quais são meios poderosos de adiantamento), buscam se purificar na confissão de suas culpas, pelo menos todas as semanas, tendo confessor. E como esse é
quem ao mesmo tempo costuma fazer de diretor e regulador das penitencias privadas, daí a necessidade que hoje tem de estar muito acostumado com a ciência dos caminhos de Deus. Mas quando as almas espirituais não encontram um bom sacerdote que, com a absolvição, saiba lhes dar - como ministro oficial da Igreja - o pão da doutrina salutar, farão muito bem em buscá-la em qualquer pessoa em que a encontrem, seja do estado e condição que for; que em pessoas de todos os estados, sexos e idades encontraram almas muito grandes - e mesmo sábios teólogos e insignes prelados - uma excelente direção que em outras partes não acharam; assim pode se ver nas vidas de Santa Catarina de Sena, Santa Brígida, Santa Angela de Foligno, Santa Catarina de Ricci, Santa Teresa, Beata Hosana de Mántua..., e nas Veneráveis Mariana de Escobar, Micaela Aguirre, Maria de Agreda etc.
Depois dos sacramentos vêm os sacramentais, que ordenam ou preparam com respeito a eles, e o uso de todas as coisas que a Igreja consagra para fomentar a piedade cristã e a santificação e purificação dos fiéis, e para estreitar a relação dos membros das três igrejas. Entre essas coisas, figura o devoto uso da água benta, que, recebida com verdadeiro espírito, tanta importância tem para nos purificar e perseverar das infestações diabólicas;
a recitação do Pai Nosso, a confissão geral, a bênção sacerdotal, o ouvir a divina Palavra, as indulgências, o culto dos santos gloriosos, os sufrágios pelas almas do purgatório, as devoções aprovadas (entre as quais, por sua eficácia e sua universalidade, merece um singular apreço a do Santíssimo Rosário), e, sobretudo, depois do Sacrossanto Sacrifício - oferecido pelos vivos e defuntos - o ofício que por excelência se chama divino, porque é
próprio dos anjos e dos filhos de Deus estar em contínuo louvor ao Pai celestial, a Jesus Cristo nosso Redentor e ao Espírito vivificador.
A Igreja, como animada por esse divino Espírito, quer que dia e noite haja almas consagradas a bendizer e louvar o Pai das misericórdias e o Salvador dos homens, para que nunca falte quem oficialmente ore por tantos que vivem descuidados de sua salvação eterna e esquecidos dos benefícios divinos. Ai deles, se não tivesse quem com suas orações contínuas as amparasse!... Essas almas assim escolhidas têm por ofício próprio e dever
principal ocupar-se dos divinos louvores, e para esse fim, e para que não se misturem em outros cuidados e negócios, recebem dos demais fiéis as esmolam necessárias para seu sustento, para que também elas sustentem a todos com suas orações e sacrifícios. E a essas almas que assim - com oração oficial - oram em representação da Igreja, associam-se muito
cordialmente todos os fiéis de verdadeiro espírito; os quais, enquanto suas ocupações lhes permitem, sempre preferiram a todas as suas devoçõezinhas privadas - que facilmente degeneram em sentimentalismos vãos - tomar parte nas do culto público da Santa Igreja, assistindo os divinos ofícios.
Nesses mesmos, figura o culto e devoção aos santos, a quem devemos horar e venerar como amigos de Deus já deificados e conglorificados com Jesus Cristo. A eles, devemos tomar por intercessores sobretudo quando vejamos fechados outros caminhos; porque o próprio Salvador assim o deseja para a honra deles e proveito nosso: Onde Eu estou, diz (Jo 12, 26), ali estarão Meus ministros, os quais faz participantes da mesma claridade que Ele recebe do Pai.
Nesse culto, sobressai como indispensável a todos os fiéis, o da gloriosa Mãe de Deus e Mãe nossa, "Mãe da graça e da misericórdia". Como Co-Redentora associada ao Redentor da Encarnação até a Ascensão, e do presépio até o Calvário, é canal de todas as graças e dispensadora de todos os tesouros divinos, e como fiel "Esposa do Espírito Santo", com Ele
coopera em toda a obra de nossa renovação e santificação. «Nela está toda a graça da Via e a Verdade, nela toda esperança de vida e de virtude. Aquele que a achar propícia alcançará a vida e a salvação, e todos aqueles que a aborrecem, amam a morte» (Eclo 24, 25; Prov 8, 35-36). Ela é o trono da Sabedoria, e, como cheia que está de graça, pode fazer participar todos nós de sua plenitude. Por isso, a verdadeira devoção à Virgem - que consiste em honrá-la de coração e imitá-la de verdade - é um dos mais certos sinais de predestinação (Eclo 24, 31). Sem essa mediação é muito difícil, se não impossível, salvar-se, já que, no Corpo místico da Igreja, Maria é como o pescoço que une a Cabeça com todos os membros e lhes faz chegar todos os divinos influxos.
Assim é como os maiores santos se distinguiram sempre por essa terna e filial devoção à Santíssima Virgem, e não há alma que marche segura pelos caminhos da virtude e chegue à mística união sem estar sob o amparo daquela única Imaculada, atrás da qual vão todas as virgens para apresentar-se ao Rei da glória.
Aparte desses mais indispensáveis, a Igreja, em sua omnipotência santificadora, tem outros muitíssimos meios de favorecer o progresso geral e particular de todo o Corpo místico e de cada um de seus órgãos, e os vai rodeando e adaptando oportunamente para empregar os mais apropriados à condição dos tempos e necessidades das almas, entoando sempre a Deus um cântico novo. Já dissemos o suficiente sobre o progresso geral das devoções, e não temos por que insistir. Só insistiremos agora sobre a divina Eucaristia, cuja eficácia sempre é nova e cuja importância na vida espiritual aumenta continuamente, em vez de diminuir.
Pe. Juan González Arintero, O.P.
Nesta breve vida devemos empregar todos os nossos esforços na busca constante do nosso progresso espiritual.
Este deve ser o objetivo de todos nós enquanto ainda vivermos e não perder tempo que, é precioso, com ações, palavras e conceitos que não acrescentam meios de desenvolvimento virtuosos e direcionados para uma elevação espiritual e piedosa no nível sobrenatural e íntimo com Deus.
Deixemos a vida sem Deus para trás e revistamo-nos da mulher e do homem novos, segundo a Vontade de Deus.
Nada tem mais importância do que isso e se a nossa vida não se baseia nesses princípios divinos, não estamos ainda no caminho que nos levará ao progresso espiritual.
Não é para alguns é para todos nós esse desenvolvimento.
Não tenhamos negativismo e desde já, lutemos e combatemos por esta meta que com a graça de Deus em nós, conseguiremos alcançar.
Diariamente, em qualquer situação, energicamente e incansavelmente atuemos destemidamente.
Finalização de Claudia Pimentel dos Conteúdos Católicos
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