AS BEM-AVENTURANÇAS
O Senhor Jesus apresenta as bem-aventuranças como porta de entrada para uma vida equilibrada e feliz. Nelas está revelada uma riqueza espiritual somente concedida àqueles que são habitantes do Reino de Deus.
Nas bem-aventuranças o mestre fala daquela felicidade que ultrapassa os limites da dependência das coisas materiais ou da aceitação das pessoas. Quantas vezes as pessoas consideram-se felizes somente quando não lhes falta saúde, amizades ou dinheiro. Sem dúvida, Deus deseja estas realidades para os Seus filhos. Entretanto, os discípulos de Cristo, porque nasceram de novo, possuem uma força interior capaz de superar os horizontes desta
falsa visão de felicidade.
Aquele que é nova criatura sabe que está capacitado, pela unção do Espírito Santo, a uma nova atitude diante da vida.
"Bem-aventurados os que têm um coração de pobre..." (Mt 5,3).
À primeira vista estamos diante de uma contradição, pois Jesus começa falando "Bem-aventurados" e completa dizendo "Os que têm um coração de pobre". Esta bem-aventurança opõe-se às falsas ideias dos fariseus que esperavam um Messias trazendo riquezas e bens terrenos.
O Senhor não está preocupado em simplesmente falar de uma condição social, isto é, rico ou pobre.
Refere-se à forma como nos relacionamos com Deus e como lidamos com as questões materiais.
Jesus, ao falar "coração de pobre", recorda uma atitude interior, que nos leva a reconhecer a grandeza de Deus e encher o coração de santo temor.
"Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!" (Mt 5,4).
Mais uma vez somos colocados diante de uma contradição. O Senhor Jesus nos diz felizes os que choram.
Para entender esta bem-aventurança é preciso ter presente que este choro possui algo diferente do lamento de uma perda humana. O mundo chora com desespero a morte de um ente querido, fica abalado com as perdas financeiras, carrega mágoas ou deceções com seus semelhantes... Esta ainda não é a tristeza a que Jesus esta falando nesta bem-aventurança.
O chorar dos discípulos de Jesus é algo que ultrapassa as perdas humanas. Trata-se daquela
tristeza fruto de uma verdadeira sintonia com o coração de Deus. O apóstolo Paulo em 2Cor 7,10 fala de uma "tristeza segundo Deus" que "produz arrependimento".
"Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra" (Mt 5,5).
A mansidão é uma das virtudes mais mal-interpretadas. Geralmente é confundida com ausência de opinião própria ou servilismo.
A mansidão bíblica nada tem a ver com esta maneira equivocada de ver. O manso, segundo as bem-aventuranças, é humilde e gentil com os outros, sem dúvida alguma. Entretanto, esta docilidade não é submissão ou falta de iniciativa. Esta maneira de entender a mansidão não está de acordo com o testemunho dos heróis da fé apresentado pela Bíblia.
Por exemplo, Moisés, líder de personalidade forte e ousado em suas iniciativas, é apresentado como um homem manso. "Moisés era um homem muito paciente, o mais paciente da terra" (Nm 12.3).
A mansidão autêntica brota da visão correta de nós mesmos diante de Deus, isto é, do reconhecimento da nossa condição de pecadores. Este reconhecimento nos leva a perceber que Deus nos trata com amor, apesar da nossa maldade. O manso, porque vive na intimidade de Deus, sabe ser sensível, atencioso nos relacionamentos com os seus
semelhantes. Por isso, esta bem-aventurança poderia ser apresentada da seguinte forma: "felizes os que têm um espírito gentil".
"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados" (Mt 5,5).
Num mundo sem valores éticos e morais o discípulo de Jesus é chamado a ser testemunha da justiça de Deus. O maior anseio do discípulo não é de ordem material, mas espiritual.
Vivemos numa sociedade onde valores como a verdade, a honestidade nos negócios, fidelidade ao casamento estão em crise. Para o cristão não basta viver individualmente ou na Igreja o padrão de santidade dado por Deus. O mundo é o campo de trabalho onde a mensagem da nossa fé deve ser capaz de influenciar para melhor. Em todos os níveis da vida social os discípulos devem estar presentes com os valores do evangelho sem se deixar contaminar pela corrupção do mundo.
A justiça bíblica não fica somente nas belas intenções, mas transforma-se em ato, a ponto de satisfazer as necessidades das pessoas onde se fizer necessário.
"Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão a misericórdia" (Mt 5,7).
A palavra misericordioso em hebraico significa a capacidade de identificar-se totalmente com aquilo de bom e mau que uma outra pessoa esta vivendo.
Encontramos o exemplo máximo da misericórdia na identificação de Deus com o homem. Foi o que aconteceu quando Jesus Cristo, Filho de Deus, assumiu a nossa condição humana. "Sendo Ele de condição divina, não se prevaleceu de Sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-Se aos homens" (Fl 2,6-7).
Deus revelou a grandeza do Seu amor por meio da Sua misericórdia, isto é, vindo até nós para participar em tudo daquilo que faz parte da nossa vida. Nos evangelhos vemos Jesus nas mais diferentes situações: alegre, sendo tentado, angustiado com o futuro, dececionado com as pessoas, abandonado na hora da perseguição... e, em todas estas
realidades encontramos um pouco da vida de todos os homens.
"Bem-aventurados os corações puros, porque verão a Deus" (Mt 5,8).
Este versículo revela o maior interesse de Deus para os homens: o estado do seu coração, ou seja, a sua integridade interior. Aqui o Senhor Jesus, mais uma vez, fala da questão dos nossos relacionamentos. O pano de fundo é o que está escrito no Sl 23,3-4: "Quem será digno de subir ao Monte do Senhor? Ou de permanecer no Seu lugar Santo? O que tem as mãos limpas e o coração puro, cujo espírito não busca as vaidades nem perjura para enganar o seu próximo".
"Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus" (Mt 5,9).
Segundo Santo Agostinho, os que promovem a paz não são apenas aqueles que têm uma natureza pacífica, nem simplesmente os que aceitam qualquer tipo de paz, mas aqueles que promovem a paz buscando a harmonia entre os inimigos. Aqueles que buscam a paz amando os seus inimigos procedem conforme o próprio Deus, e por isso podem ser realmente chamados filhos de Deus.
"Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos Céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós" (Mt, 5,10-12).
Pe. Alberto Gambarini
Se compreendermos bem as Bem-aventuranças e vivermos na prática o quê já conhecemos à luz da Palavra de Deus e pela unção do Espírito Santo, assim como o que está contido no texto acima, estaremos realmente a viver de acordo com o Desejo de Deus.
Á cada passo, em cada situação, deixemo-nos agir pela graça em nós de uma vivência baseada nas Escrituras; pois sábio é aquele que vive a sua vida em Deus.
As tribulações surgem, porque fazem parte da vida de cada um e se subirmos com Jesus cada degrau de Bem-aventurança nas diversas situações que nos apresentem, estaremos alcançando a meta da santificação.
Não é fácil, mas também não é impossível. Temos que caminhar prudentemente e nos nutrir cada vez mais da fonte que é o Senhor Jesus, em Seus ensinamentos e exemplos vividos para O seguirmos em todo o nosso viver.
Finalização de Claudia Pimentel dos Conteúdos Católicos
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