Muitos têm medo de fazer o que é árduo e difícil; mas, decerto, ninguém é tão insensato e pusilânime que recuse fazer o que é fácil e agradável, se isso lhe proporcionar benefícios grandes e duradoiros.
Ninguém hesitará em dar um cêntimo, se em troca receber mil euros; ninguém se recusará a cavar um pouco no seu jardim, se tiver a certeza de que esse leve esforço lhe renderá um valioso tesouro enterrado no jardim.
Todavia, todos temos tesouros que estarão facilmente ao nosso alcance se soubermos onde e quando encontrá-los. É isto que agora nos propomos mostrar aos nossos caros leitores.
Poucos cristãos conhecem o valor extraordinário das coisas pequenas.
Nosso Senhor disse a Santa Brígida e a muitos outros santos que a nossa perfeição e felicidade consistem em pequeninas coisas, assim como o vasto oceano é composto por muitos biliões de pequeninas gotas de água.
Pode ser que Deus nunca exija de nós ações difíceis e heroicas; mas pede-nos que pratiquemos todos os dias inúmeras ações simples e fáceis. Se o fizermos bem conseguiremos grande santidade e também grande felicidade.
Vejamos agora, em primeiro lugar, a malícia dum mau pensamento ou dum mau ato e os terríveis castigos em que por eles incorremos; depois, o valor de uma boa ação, grande ou pequena, e a recompensa eterna que lhe corresponde.
A malícia dum só ato mau - Foi um só ato mau que sepultou no Inferno, para toda a eternidade, milhões e milhões de anjos gloriosos, criaturas de Deus admiráveis. Um só ato!
Foi uma ação apenas, aparentemente insignificante - desobedecer a Deus - que encheu o mundo de tristeza e sofrimento durante todos os milhares de anos decorridos desde então, e que lançou no Inferno muitíssimas almas. Se Adão e Eva não tivessem comido do fruto proibido, não teriam eles sofrido nem teríamos nós de sofrer a mais pequena dor; quer dizer, seria isenta de qualquer sofrimento toda a Humanidade.
E, notai bem, caro leitor, que o castigo com que Deus puniu estes pecados não foi de modo algum exagerado. Deus nunca pode castigar demais o pecado, nunca o pode castigar mais do que ele merece por sua detestável malícia. Os dois castigos apontados correspondem à malícia dos pecados que os mereceram.
Por aqui se vê quão terrível malícia pode conter um só pequeno ato, e o pavoroso castigo que atrai sobre quem o comete.
Pode alguém pensar que estes dois casos são excecionais. Não o são, de modo algum. Milhões de homens e mulheres cometem todos os dias pecados mortais; e milhões de homens e mulheres, semelhantes a nós, caem no Inferno, tal como aconteceu aos anjos rebeldes.
Pode o pecado mortal ser apenas um pensamento, uma só palavra ou ato praticado num momento; todavia, tem em si mesmo pavorosa malícia.
Podem também ser muito graves os pecados veniais e, por causa da sua malícia, merecerem castigo durante longos anos no fogo do Purgatório. E cometem-se tantos pecados veniais em cada dia! Todos terão de ser expiados, ou nesta vida ou no fogo do Purgatório. Todos os maus pensamentos, palavras ou atos ociosos, serão punidos neste mundo ou no outro, no Purgatório, de onde o pecador não sairá antes de satisfazer totalmente pelas suas faltas. É o próprio Senhor quem o afirma.
O valor dos atos bons - Por outro lado, procuremos compreender claramente que, assim como todo o ato mau, grande ou pequeno, é perverso em si e nos acarreta horríveis castigos, assim também cada ato bom tem em si um valor imenso e garante a quem o pratica um grau de glória no Céu correspondente ao valor desse ato.
O Bom Ladrão, que foi pregado na cruz, levara uma vida de crimes e malvadez, e ele mesmo confessou que merecia a morte pavorosa da crucificação. Todavia, por este simples ato de contrição: Senhor lembra-Te de mim, quando entrares no Teu reino, obteve perdão total dos seus pecados e mereceu ouvir de Jesus estas palavras maravilhosas: Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no paraíso. Mais do que isso: tornou-se santo e é conhecido pelo nome de S. Dimas.
O pobre publicano, vergado sob o pesado fardo de seus muitos e grandes pecados, tinha tão clara consciência da sua culpa que não se atreveu a aproximar-se da parte mais santa do Templo. Lá de longe, bateu no peito, curvou a cabeça e disse aquelas simples palavras: Meu Deus, tem piedade de mim, pecador. E voltou justificado para casa.
O óbolo da viúva - Estava Jesus no Templo de Jerusalém. Por ser dia de festa, acudiam ali os príncipes do povo e os mais nobres e ricos judeus, e deitavam valiosas esmolas no cofre. Veio por fim também uma pobre viúva e lançou na caixa das esmolas a sua pequena oferta, que era tudo quanto possuía. Jesus voltou-se para os seus discípulos e disse-lhes: Esta
pobre viúva deu mais que todos os outros.
Como se explica esta afirmação de Jesus? Muito simplesmente: a qualquer ação, o que lhe dá valor não é o ato em si, mas a intenção e o grau de sacrifício que exige de quem a pratica.
Pode também alguém dizer que estes casos são excecionais, mas responderemos que de modo algum o são.
Recompensas semelhantes são dadas todos os dias por atos igualmente pequenos. Qualquer esmola que dêmos por amor de Deus, ainda que pequeníssima e dada seja a quem for, terá a sua recompensa, tal qual como se a déssemos ao próprio Deus.
Jesus tornou isto bem claro, quando afirmou que no Juízo final dirá aos bons: Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me que vestir.
E eles observarão: Mas, Senhor, nós nunca tivemos a felicidade de Vos ver, de Vos dar de comer ou de beber, ou de Vos vestir.
E o Supremo Juiz - como Ele mesmo também afirmou - responder-lhes-á: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes.
Dirá então Jesus aos maus: Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno! Porque tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, era peregrino e não me recolhestes, estava nu e não me vestistes. E eles dirão: Mas, Senhor, nós nunca Vos vimos na terra, nunca recusámos dar-Vos de comer ou de beber ou de vestir. E responderá o
Senhor: Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.
Por um só copo de água dado ao pobre, em nome de Deus, teremos uma recompensa eterna. É também promessa de Cristo. Estas promessas encontram-se amplamente exemplificadas na vida dos santos; porque muitas vezes, ao darem esmola aos pobres, Nosso Senhor lhes revelou que considerava a esmola como dada a Ele mesmo. Lembremos alguns casos:
S. Martinho, quando soldado e ainda não batizado, deu uma vez a um pobre metade da sua capa, pois nada mais tinha consigo que lhe pudesse dar. Nessa noite apareceu-lhe Nosso Senhor envolto na mesma capa e disse: "Martinho, o catecúmeno, deu-me esta capa".
Jordão da Saxónia, estudante na Universidade de Bolonha, certo dia encontrou um mendigo que lhe pediu esmola, por amor de Deus. Jordão, que nessa ocasião nada mais tinha ali para dar, tirou um cinto valiosíssimo que trazia, cravejado de pedras preciosas, e deu-o ao pobre. Momentos depois entrou numa igreja e, com surpresa, viu que o seu cinto cingia Jesus Cristo crucificado. Jordão veio a ser grande santo e Mestre Geral da Ordem Dominicana, sucessor de S. Domingos, e um dos mais zelosos apóstolos do seu tempo.
João Gualberto, nobre florentino, não negou ao assassino de seu irmão o perdão que ele lhe pediu, por amor de Jesus Cristo. Entrou em seguida numa igreja próxima e foi ajoelhar-se diante do crucifixo. O Senhor crucificado olhou-o com infinita doçura e, amoravelmente, inclinou para ele a cabeça. Iluminado pela graça divina, João tornou-se santo e veio a fundar
uma ordem de religiosos.
Santo Antão, jovem e rico, vivia no mundo, mas ouviu um sermão com grande atenção. O fruto desse sermão foi tornar-se Antão não somente santo, mas pai e modelo de santos.
Santo Inácio fez-se santo pela leitura dum bom livro.
A Bem-aventurada Imelda, dominicana, tornou-se grande santa com uma única comunhão.
Poderia trazer-vos outros inúmeros exemplos de pessoas de diferentes classes sociais e culturas que, por entenderem a profundidade do amor de Jesus Cristo, começaram a exercer mais zelosamente e apaixonadamente as pequenas coisas e que, pela intensidade desse amor em fazer bem coisas benéficas ao seu próximo, como se para o próprio Jesus as fizessem, tornaram-se modelos de santos e de santas a imitarmos na realidade de qualquer um de nós.
Jesus é simples demais. Nós que pela nossa natureza pecadora é que complicamos e pensamos que o Senhor possa exigir coisas extraordinárias para desempenharmos e merecermos o Céu. Não é assim, meus caros irmãos.
Desde que os atos sejam bons e possam fazer bem às pessoas e os praticarmos com todo o nosso amor e dedicação, por mais simples que sejam, têm um peso e a sua recompensa já nesta vida; o que formou muitos santos que souberam amar Jesus nos seus semelhantes.
Não é necessários fazermos grandes coisas, mas fazermos as pequenas coisas com todo o amor e perfeição, como se para Nosso Senhor fossem essas ações.
Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face também compreendeu esse amor nas pequenas coisas e que bem nos ensina em suas Obras como na sua "Pequena Via".
Aprendamos com esses modelos de santidade e nos deixemos transformar por Jesus à cada dia, pois no fim, seremos também julgados pela medida do nosso amor.
Finalização de Claudia Pimentel dos Conteúdos Católicos
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