"O combate espiritual", diz São Francisco de Sales, "é feito principalmente para a vida prática e ativa". Scupoli, entretanto, lança de passagem algumas vistas sobre a vida interior.
I - "O cimo da perfeição", diz-nos desde o começo, "é a união com Deus".
«A vida espiritual se resume em se reconhecer a grandeza e bondade de Deus, ao mesmo tempo em que nosso nada e nossa inclinação ao mal; em amar o Soberano Mestre e em odiar-nos a nós mesmos; em submeter-nos não somente a Ele, mas a toda criatura por Seu amor; em renunciar a nossa própria vontade para nos colocar sob a Sua direção; mas sobretudo em não produzir intenções ou ações senão para a Sua glória, a fim de Lhe agradar e porque é assim que Ele merece ser amado e servido, que o deseja ser. Tal é a lei do amor gravada por Nosso Senhor no coração dos Seus servos fiéis».
Mas é principalmente num pequeno tratado sobre a paz interior, anexo ao Combate espiritual, que Scupoli trata mais diretamente da vida interior: "A paz", diz ele, «é a mansão do paraíso, é a condição da união com Deus. É o exercício principal e contínuo da nossa vida pacificar o nosso coração e não o deixar desviar-se para as criaturas.
Ponde então, à frente de vossos sentimentos ou disposições, a paz como sentinela avançada.
Acostumar-vos-eis a orar, a obedecer, a humilhar-vos, a suportar as injúrias sem perder a paz.
E se sobrevier uma grave prova, vós recorrereis à oração, como Nosso Senhor no Getsêmani, até que a paz volte.
Adquirir a paz é adquirir uma casa para o Senhor, é construir um tabernáculo para o Altíssimo; é tornar-se Seu templo».
II - Os meios
«Sentir-vos-eis sempre bem no mais íntimo de vosso ser, enquanto mantiverdes vossa intenção reta.
Tende em grande estima vossa alma. O Senhor dos Senhores, criando-a, a destinou para ser Sua morada e Seu templo.
Tende-a em consideração para não permitirdes que ela se incline a um objeto inferior.
Que vossos desejos e esperanças se resumam na expectativa do Senhor, que não virá visitar vossa alma se não a encontrar só, isolada dos pensamentos estranhos a Ele e dos desejos da própria vontade.
Ó admirável solidão! Ó morada secreta do Altíssimo, em que Ele estará unicamente para vos dar audiência e falar-vos ao coração!».
III - A ação divina
«A Deus pertence implantar a caridade na vossa alma, e colher os frutos quando quiser:
Não tendes que semear grão algum, oferecei somente o terreno puro e livre de qualquer adesão.
Ele lançará a semente a Seu tempo; mas quer encontrar vossa alma isolada e desprendida para Unir-se a ela.
Concedei-lhe agir em vós, não crieis obstáculos pela Vossa vontade: é o que vos pede.
Conservai-vos em repouso, sem nenhum outro pensamento que o de agradar ao Senhor, esperando ser conduzido ao trabalho pelo pai de família. Ponde todos os vossos cuidados (mas sem nenhuma inquietação) em suavizar vosso zelo, moderar vosso fervor, para conservar Deus em vós numa paz imensa.
Tal disposição é apenas a resignação da alma à vontade divina».
IV - Prática
Habituai-vos pelo desejo e mais frequentemente ainda pelos atos à contemplação da divina bondade, de Seu amor e de Seus benefícios contínuos.
Nas vossas meditações não vos prendais ao plano fixado, mas onde sentirdes vosso espírito repousar, insisti em gozar do Senhor no lugar em que Ele se dignar comunicar-se à vossa alma.
E quando aprouver à Sua divina majestade retirar-se ocultamente, recomeçareis a procurá-lo, retomando vossos primitivos exercícios, sempre com o mesmo desejo de possuir o objeto de Vosso amor.
Scupoli chama este pequeno tratado: Vereda do Paraíso, e conclui dizendo: «E estes avisos merecem uma séria atenção. Ouso dizer que são como chaves espirituais, abrindo para a alma tesouros com que ela poderia enriquecer-se em pouco tempo».
Padre Piny, no seu livro intitulado O réu sobre a terra ou a mais perfeita de todas as vias interiores, se inspira nos mesmos princípios.
Aconselha-nos o abandono e a conformidade à vontade divina.
Pela aceitação da vontade divina determinada pelas leis de Deus e da Igreja, pelas nossas regras e nossos deveres de estado e pelos acontecimentos providenciais, Ele nos conduz à paz da alma, que é a condição necessária para a vida interior e para a contemplação habitual do amor divino...
A união com Deus nos livros de Scupoli, descritas por Padre Léon Dehon
Descrição muito profunda do Padre Dehon quanto à espiritualidade de Scupoli.
Se seguirmos cada passo, obteremos uma vida mais espiritual e de acordo com a vontade do Pai.
O início é a união com Deus e deixarmos que o nosso ser seja a morada do Pai Eterno.
Para que se concretize essa união, é de suma importância, nos desligarmos mais do amor às criaturas e do que nos cerca, para que o Senhor tenha o domínio do nosso coração.
Temos de amar a nossa alma e desejar mais que tudo, a nossa salvação.
Tudo o que tivermos que fazer, devemos em união com o Senhor fazermos, conservando sempre o Templo do nosso ser para Ele habitar de maneira que se agrade com a nossa vida reta e pura.
Desse modo, sempre teremos a paz em nosso coração, pois se Jesus tiver a Sua morada permanente em nós, a paz durará.
Devemos habituarmos pelo desejo e mais frequentemente ainda pelos atos à contemplação da divina bondade, de Seu amor e de Seus benefícios contínuos, pois nos ajudará à cada vez mais a mantermos unidos ao Pai.
Por fim, entreguemo-nos ao abandono e a conformidade à vontade divina.
Finalização de Claudia Pimentel dos Conteúdos Católicos
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