«Quando este admirável cântico de louvor é celebrado devidamente pelos sacerdotes, ou por outros que são destinados a esta função por instituição da Igreja, ou pelos fiés que rezam com o sacerdote segundo as formas aprovadas, então é verdadeiramente a voz da Esposa que fala com o Esposo, ou melhor, a oração que Cristo unido ao seu Corpo eleva ao Pai». (Sacrosanctum Concilium, 84.)
De todos os riquíssimos e inspirados modelos de oração que temos no seio da Igreja, a Liturgia das Horas ocupa, não só pelos motivos legais, mas por força da sua natureza, o lugar de preferência entre todos eles. Ela é a oração pública da Igreja, fonte de piedade e alimento da oração pessoal, regra de oração para os sacerdotes, modelo de toda a oração dos Institutos de perfeição, caminho recomendado para os leigos, comunhão e unidade para os que estão dispersos, a oração de toda a Igreja por toda a Igreja e ainda para a salvação do mundo inteiro, é a voz da Igreja, isto é, de todo o Corpo místico a louvar a Deus publicamente.
A Liturgia das Horas é o alimento daqueles que desejam ardentemente estar em comunhão com a Igreja de todos os tempos e lugares, de todas as instâncias - militante, padecente, triunfante -, que querem se juntar a esse cântico entoado por todo o sempre nas habitações celestes, aos apóstolos e aos mártires, às virgens e aos pastores, aos santos e santas nos céus; a essa oração que, por decreto e por mandato, é ofício do Papa e de todos os ministros sagrados, bispos, presbíteros e diáconos, dos cônegos, das comunidades religiosas, dos fiéis católicos dos cinco continentes e, até mesmo, daqueles que esperam no purgatório a visão da face de Deus. Na Liturgia das Horas, unimo-nos à Igreja em toda a sua dimensão.
Nela, quem salmodia não o faz tanto em seu próprio nome, mas em nome de todo o Corpo Místico de Cristo, e até na pessoa do próprio Cristo. Se tivermos isto em conta, desaparecem as dificuldades que possam surgir para quem salmodia, caso os seus
sentimentos íntimos estejam em desacordo com os afetos expressos num salmo. Por
exemplo, quando a uma pessoa triste e angustiada é apresentado um salmo de jubilação,
ou, ao contrário, quando a alguém que se sente feliz aparece um salmo de lamentação.
No caso da oração estritamente privada, essa discordância pode ser evitada, uma vez que
é permitido escolher um salmo mais condizente com os sentimentos pessoais. No caso,
do Ofício divino, porém, a salmodia não tem caráter privado. Mesmo que alguém recite
as Horas sozinho, o ciclo dos salmos, oficialmente estabelecido, é recitado em nome da
Igreja. Ora, salmodiando em nome da Igreja, podem-se encontrar sempre motivos de alegria ou de tristeza, pois aqui tem aplicação a palavra do Apóstolo Paulo: "Alegrar-se
com os que se alegram, chorar com os que choram" (Rm 12,1).
Para aquele que reza, é muito bom experimentar essa unidade, sentir-se Igreja; na
oração, alegrar-se com os que se alegram, sofrer com os que sofrem, saber que em
qualquer parte do mundo são cantados os mesmos louvores e súplicas e que não rezamos
sozinhos, pois nos respondem os anjos, as mulheres e homens da Terra e do Céu.
Sim, na Liturgia da Igreja, o céu desce à terra. Assim nos atesta a nossa fé.
É por essa razão que o lugar onde os monges, os frades e os cônegos se reúnem para rezar o Ofício tomou o nome de "coro": ele quer reproduzir visivelmente as ordens angelicais e os coros dos santos, que constantemente louvam a majestade de Deus (cf. Is 6,1-4; Ap 5,6-14). Portanto, o coro está estruturado de forma circular não para facilitar o olhar-se mutuamente enquanto se celebra a Liturgia das Horas (LdH), mas para representar "o Céu que desce à terra" (Bento XVI, Sacramentum Caritatis, n. 35), o que ocorre quando se celebra o Culto divino.
A oração da Igreja é, antes de tudo, oração de Cristo. Foi Ele que, aproximando-se de nós pela encarnação, trouxe para o nosso meio o "cântico do céu". É isso que fazem questão de dizer todas as constituições, instruções e documentos que tratam da Liturgia das Horas.
Sendo Cristo Jesus a Videira Verdadeira, fez crescer ramos em seu tronco que, a ele ligados, alimentam-se da sua seiva, que é o Espírito Santo, e produzem frutos para a Glória de Deus Pai. Esses ramos, podados e fortalecidos também pela ação do Espírito Santo, expandem-se pelos confins da Terra, entre homens e mulheres de todas as nações que há debaixo do céu. E, assim, formam a Igreja, a quem São Paulo chamou de Corpo de Cristo e São João chamou de Esposa do Cordeiro.
Essas analogias mostram que a Igreja tem a virtude não apenas de aprender com seu Mestre, mas de participar da Sua vida, já que com Ele é uma só árvore, um só corpo,
uma só carne e um só espírito.
Desse modo, os louvores, preces, lágrimas e tudo o mais que o Senhor dirigiu ao Pai nos dias de Sua vida terrena, mais ainda, tudo o que Ele hoje faz como Sumo Sacerdote, que está sentado à direita do trono da Majestade divina nos céus são ações da Igreja inteira, una e santa. De seu turno, o corpo do Senhor nada faz sem Sua cabeça.
Eis que Ele está presente quando a Igreja ora e salmodia.
Nenhuma oração seria melhor e mais profunda do que essa, que é o próprio diálogo entre o Filho e seu Pai, a experiência de intimidade entre a Esposa e o Esposo, a simbiose entre o tronco da videira e os ramos, a articulação entre a cabeça e os membros do corpo.
Na Liturgia das Horas, além de louvar a Deus, a Igreja transmite a Ele os sentimentos e desejos de todos os fiéis cristãos. Mais ainda: pede a Cristo, e por Ele ao Pai, pela salvação do mundo inteiro. Essa voz não é somente da Igreja, mas também do próprio Cristo, já que as petições se fazem em nome Dele, ou seja, "por Nosso Senhor Jesus Cristo". Assim, a Igreja prolonga aquelas preces e súplicas que Cristo expressou nos dias de Sua vida mortal. Daí sua eficácia sem par. Desse modo, a comunidade eclesial exerce verdadeira maternidade para com as pessoas que esta deve conduzir a Cristo, não apenas pela caridade, pelo exemplo e pelas obras de penitência, mas, também, pela oração.
Na Oração da Igreja e em tudo o que ela faz, Cristo, Sumo Sacerdote, é quem faz, na verdade. Ele está presente quando é lida a Palavra, assim como nas espécies eucarísticas. Ele é o centro dos salmos cantados em cada Hora e de toda oração. Quando rezamos como Igreja, rezamos verdadeiramente por Cristo, com Cristo e em Cristo, pois Ele está sempre presente onde Sua Igreja está. Ele é quem realiza tudo em todos.
Essa presença de Cristo em Sua Igreja se dá de maneira singular na Liturgia, uma vez que é considerada com razão como exercício da função sacerdotal de Cristo e, por ser obra de Cristo sacerdote e do seu Corpo que é a Igreja, qualquer celebração litúrgica é ação sagrada por excelência, cuja eficácia, com o mesmo título e no mesmo grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja, ou seja, de tal modo a Sagrada Liturgia manifesta a presença de Cristo que nem a mais fervorosa oração, ou a mais eloquente pregação, nem a mais desprendida obra de caridade, ou o mais extraordinário milagre a ela se comparam. Não obstante, todas essas ações a ela se ordenam, uma vez que a Liturgia é simultaneamente a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde brota toda a sua força.
Sendo a Liturgia das Horas, por sua vez, parte integrante do Culto divino da Igreja, não um mero apêndice dos sacramentos, mas sagrada Liturgia no sentido verdadeiro e próprio, podemos afirmar, por consequência, que, no que diz respeito à oração, nada se compara à Liturgia das Horas!
Aqueles que rezam a Liturgia das Horas cumprem obrigação própria da Igreja e
participam da imensa honra da Esposa de Cristo, porque estão em nome da Igreja diante do trono de Deus, a louvar o Senhor. Essa honra não deve ser privilégio de poucos - sacerdotes, religiosos e consagrados -, pois as ações litúrgicas não são ações privadas, mas de toda a Igreja, de todo o povo de Deus, que, de maneira alguma deveria ser excluído desta parte importante da ação litúrgica da Igreja, pois a todos, sem discriminação, o Senhor chamou e constituiu como pedras vivas de um edifício espiritual, raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido para proclamar as virtudes Daquele que o chamou das trevas para Sua luz admirável.
A Igreja manda que os ministros ordenados não apenas rezem a Liturgia das Horas todos os dias, mas, também, que convidem os fiéis, formem-nos, ensinem-lhes a participar, ajudem-nos a entender, levem-nos a gostar e a praticar a oração da Igreja.
Somos todos chamados a unir-nos a este coro da Igreja inteira. Leigos, juntamente com os sacerdotes, ou uns com os outros, em família, ou cada um em particular.
Por causa do site liturgiadashoras.org, tenho sido testemunha de que um imenso número de pessoas tem se aproximado do Ofício Divino e feito dele a sua oração pessoal. Todavia, muito embora a oração particular seja importante, necessária e recomendável, a oração da comunidade tem maior dignidade, pois, quando os fiéis são chamados à Liturgia das Horas, e se reúnem, unindo seus corações e vozes, manifestam a Igreja que celebra o mistério de Cristo.
É muito importante ressaltar que a primazia e a relevância da Liturgia das Horas aqui expostas não excluem as demais formas de oração, manifestações de fé e devoções do povo de Deus, pelo contrário, valorizam-nas como complemento, particularmente a
adoração e o culto ao Santíssimo Sacramento.
Por ser instituída como oração pública da Igreja, a Liturgia das Horas deveria ser a oração habitual de qualquer comunidade eclesial, a oração principal ou oficial da paróquia, onde todos que a compõem, no espírito de unidade de que esta oração se reveste, tomassem parte, celebrando em comunhão os louvores de Deus e pedindo pela salvação de todos.
Os diversos grupos de pessoas que fazem parte da Igreja - pastorais, movimentos,
fraternidades etc. - deveriam considerar a inserção do Ofício Divino em suas atividades,
como sugere o Magistério da Igreja: «Os grupos de leigos, em qualquer lugar que se encontrem reunidos, são convidados a cumprir essa função da Igreja, celebrando parte da Liturgia das Horas, seja qual for o motivo pelo qual se reúnam: oração, apostolado ou qualquer outra razão.
Convém que aprendam a adorar a Deus Pai em espírito e verdade, antes de tudo na ação
litúrgica, e tenham sempre presente que, mediante o culto público e a oração, atingem
toda a humanidade e podem fazer muito pela salvação de todo o mundo».
Enfim, quando a Liturgia das Horas for elevada, em todas as comunidades do mundo, à dignidade de que ela é constituída, a Igreja terá cumprido uma parte essencial de sua missão, a de exercer em Cristo a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus no Espírito Santo, que acontece, não somente na celebração da Eucaristia e na administração dos sacramentos, mas também, e de preferência, a outras formas, na celebração da Liturgia das Horas.
Helber Clayton
A liturgia das horas é um poderoso meio de nos elevar à Deus em cada parte do dia.
Nos conecta ao Senhor e engrandece as etapas do tempo em que estamos activos.
Hoje em dia existem aplicativos e sites como o que é citado pelo autor do texto acima e mais facilmente faz-nos entregar a essa oração tão recomendada pela Igreja e os seus praticantes.
É uma excelente forma de iniciarmos e terminarmos o nosso dia de canseiras e correrias para muitos de nós.
Devemos nos aplicar á oração da forma que mais nos ajude a dialogar com o Senhor, desde que aprovada pela Igreja.
A liturgia das horas é um grande meio de santificação e santifica as nossas ações ao recitarmos essas maravilhosas orações.
Como é mencionado no texto, é um complemento de orações, pois que, devemos também rezar as outras orações e devoções da Igreja, sem as pormos de parte.
Finalização de Claudia Pimentel dos Conteúdos Católicos
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