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A morte de São José

  • Foto do escritor: Conteúdos Católicos
    Conteúdos Católicos
  • 26 de mai. de 2022
  • 9 min de leitura

Atualizado: 31 de out.

Imagem religiosa representando a morte de São José, com Jesus e a Virgem Maria ao seu lado, confortando-o em seus últimos momentos. Dois anjos com asas observam a cena do alto, em atitude de oração. Um feixe de luz dourada desce do céu, iluminando os personagens. A imagem inclui a citação bíblica de Salmo 23:4: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo.”

«Quanto a meu marido, São José, desfrutamos juntos de alguns anos felizes. José morreu quando Jesus tinha vinte anos. Já havia em Nazaré quem falasse de casamento para nosso Filho, embora nós, Seu pai e eu, soubéssemos que isto não estava nos planos de Deus, nem nos do Rapaz. A morte de José colaborou para que durante algum tempo, este problema fosse afastado, pois pudemos dizer a todos que Jesus não queria deixar Sua mãe só, e que havia decidido adiar a formação de Sua própria família.


A morte de São José foi assim: um vizinho nosso tinha um rebanho de cabras na montanha, não muito longe de Nazaré. Era um lugar de agreste e solitário onde os animais pastavam durante o dia, e à noite eram recolhidos em um cercado. Os lobos rodeavam o rebanho, e por isso, se fazia necessário protegê-lo bem, tanto pela segurança dos animais quanto pela do pastor que ficava com eles dia e noite. Umas fortes chuvas caídas no outono haviam derrubado parte da velha construção e era urgente reparar os escombros. Na montanha o frio era mais intenso que o nosso povoado e, além do mais, as feras poderiam penetrar pelas frestas. Assim, nosso vizinho Maltaké, vinha pedindo a José com insistência que se deslocasse até o lugar com suas ferramentas para consertar os destroços e, em seguida, construir uns presépios novos para as cabras.


Finalmente marcaram uma data, e quando chegou o momento, notaram que não tardaria a chover ou talvez nevar, devido ao frio que fazia. Eu tinha medo que José saísse com aquele tempo, principalmente porque deveria ficar na montanha vários dias. Não estava muito bem de saúde, tinha fortes dores nas costas e se queixava de cãibras nas pernas. Embora estivesse previsto que Jesus o acompanharia para ajudá-lo no trabalho, como sempre fazia, não me sentia segura. José contornou minhas preocupações com carinho com o qual sempre me tratava e disse que eu estava me tornando medrosa. Disse-me ainda que, se decepcionássemos nosso vizinho Maltaké, correríamos o risco de ninguém mais nos dar serviço, porque temos que contentar sempre os fregueses. “Os pobres“ concluiu, «não têm escolha. Devemos aceitar o que nos dão, quando nos dão. E devemos dar graças a Deus por termos isso». Assim, aproveitou que pela manhã não chovia e partiu, protegido por uma grossa capa de pele. Jesus foi com ele. Levaram também um burrico para carregar apetrechos, pois o trabalho que teriam que executar era pesado e precisavam de muitas ferramentas.


Despediu-se de mim com seu melhor sorriso, para dissipar meus temores e, como sempre o fazia quando nos despedíamos, beijou-me a testa e me abençoou. Pedi a nosso Filho que cuidasse de Seu pai e que não o deixasse se resfriar.


Não fazia duas horas que tinham saído quando começou a chover. O que em Nazaré era água, na montanha era neve. Compreendi que não houvera tempo para chegar ao refúgio dos pastores e muito preocupada rezei pedindo ao Senhor, a quem de vez em quando me atrevia a chamar de “Pai“, que protegesse meu marido e meu Filho. Conforme foram passando as horas, também em Nazaré a água se converteu em neve e, ainda que demorasse em se solidificar devida á umidade, os telhados das casas pouco a pouco foram tingindo-se de branco. Eu não podia estar mais inquieta, por mais que a fé em Deus me desse força neste momento para manter a calma. Estava só em casa e a escuridão já começara a inundar tudo, obrigando-me a a acender um lampião e de novo comecei a rezar. Assim passei a noite toda, mais serena do que preocupada, com vontade de sair correndo para procurá-los e compreendendo que não poderia fazer outra coisa senão esperar. Entretanto, não deixei de rezar e pedir por meu marido e por meu Filho, ao mesmo tempo que pedia a Deus que me desse forças para aceitar Sua vontade.


Na manhã seguinte, Nazaré era uma aldeia totalmente branca. O frio era intenso, porém já não nevava. As crianças corriam pelas ruas, jogando bolas de neve umas nas outras, desfrutando daquele estranho espetáculo. Fui até a casa de minhas primas e lhes contei o que acontecera, como José e Jesus tinham ido até a montanha, e o medo que eu tinha de que pudessem estar em apuros. Elas se inquietaram também e avisaram seus maridos. Decidiram então partir em busca Deles aproveitando que, de momento, não deveria ocorrer outro temporal. Levaram pouco tempo para arrumar as coisas. Cinco homens se puseram a caminho. Acompanhado por dois cavalos.


Não havia passado duas horas desde a partida, quando já estavam de volta. Voltaram todos, porém nem todos estavam bem. Jesus estava rígido de frio, com as mãos, os pés e o rosto que davam pena. Porém, o pior era José. Mesmo vindo montado no burrico e agasalhado com a roupa do Filho, que havia passado a noite quase sem abrigo na tentativa desesperada de cuidar do pai, seu estado não poderia ser mais lastimável. Mal conseguia sustentar-se sobre o animal e sua respiração era entrecortada e agoniada.

Levaram-no para dentro de casa e ali lhe esfregamos azeite pelo corpo gelado. Também em Jesus, que não parava de chorar e de contar-me que havia feito tudo o que era possível para ajudá-lo. Mas, quando perceberam a gravidade da situação, já era tarde demais para voltar e se limitaram a buscar um refúgio em que pudessem se abrigar da tormenta. Ali ficaram durante a noite toda, sem poder acender fogo, porque toda a madeira estava molhada, sentindo a frieza da morte sobre o corpo.


José não resistiu muitos dias. Uma febre altíssima o consumia e dois dias depois já havia perdido a consciência, embora logo a tenha recuperado. As dores lhe oprimiam o peito e, ao tossir, parecia que lhe fugia a vida. Sem dúvida, querido João, apesar de tudo, não podemos imaginar a serenidade que possuía. Entre uma crise e outra, fazendo enormes esforços, tentava me consolar assegurando-me que tudo ia bem e que neste momento, como em todos os anteriores de nossa vida, a única coisa importante era continuar acreditando no amor de Deus. Falava já do amor de Deus, porque tanto ele como eu havíamos aprendido o que isto significava, graças a nosso Filho. «Deus é amor», dizia segurando minha mão. «Deus é amor e devemos crer nisso não só nos momentos em que tudo vai bem, como também nos momentos difíceis. É para os momentos difíceis que temos que reservar a amizade e é quando temos que por à prova nossa fé no amor de Deus. Maria, repito agora, o que um dia te disse o anjo: ‘Não temas‘, pois se cumprirão as palavras do Senhor ‘. A teu Filho, a meu Filho, nada ocorrerá até que chegue o momento, e quando este chegar, aconteça o que acontecer, será também a Vontade do Altíssimo, de Seu Pai, de nosso Pai».


Depois quis ficar a sós com Jesus. Falaram por muito tempo, como havia ocorrido com Ana, minha mãe, quando lhe chegou a hora da morte. Jesus fez também sobre sua testa, o então estranho sinal da cruz e beijou, como havia feito com Sua avó, as mãos e a testa de José. Suas lágrimas, o mesmo que ocorrera com Ana, corriam abundantes e eram um bálsamo que descia sobre o moribundo.


Depois disso, José não perdeu mais a paz em momento algum. Seu rosto estava transfigurado e nem as fortes dores que sentia lhe arrancavam da face a imagem da serenidade. Ainda esteve consciente por quase um dia, mas nada mais pôde dizer. Somente, ao final, pediu a Jesus e a mim que lhe déssemos a mão e, sussurrando, disse: «Maria, só Deus sabe o tanto que te amo. Só Deus sabe a sorte que tive em poder viver contigo todos estes anos. Que Deus te bendiga pelo amor que me deste. Agora nos separamos, porém isto durará pouco. Logo voltaremos a estar juntos, como agora, com Deus entre nós, para sempre».


A Jesus disse: «Meu Filho, sou o único homem no mundo que pode te chamar assim, por isto me felicitarão todas as gerações. Te amei tanto, como não haveria feito um pai normal e recebi mais de Ti do que se tivesses sido um Filho de meu sangue. Agradeço por honrar minha linhagem com Tua presença. Agradeço por anunciar-me o mundo de felicidade que agora me espera. Não posso Te abençoar, pois Tu é que tens que fazer isso. Faze-o logo que o fim se aproxima». Jesus o abençoou e fez novamente, como à Sua avó, o sinal da cruz em sua testa, em seus olhos, em sua boca e em suas mãos. Pouco depois, nós dois nos debruçamos sobre seu corpo que acabava de morrer. Havia partido e com ele ia o companheiro de minha alma, aquele com quem compartilhara tantos momentos difíceis e tantas alegrias. Sua morte foi muito sentida por mim e também por Jesus».


Obs.: Jesus, aos doze anos fez o sinal da cruz na testa, nos olhos, na boca e nas mãos, na hora da morte, de Sua avó Ana. Sua avó, Santa Ana, morrendo disse: “Senhor!".

Porém não deram importância, considerando um desvario de sua cabeça nos últimos momentos. E aos 20 anos fez o mesmo gesto em Seu pai José e ninguém entendeu. Nossa Senhora depois explica que Ela notou este gesto, mas só depois veio a compreender.


Extraído do livro: “Evangelho Secreto da Virgem Maria “Santiago Martín (sacerdote católico) Editora Paulus, páginas 123 a 127.

Baseado no “Evangelho Apócrifo da Virgem Maria “ encontrado por uma monja espanhola, Egeria, no final do século IV durante uma viagem que empreendeu à Terra Santa. Egeria diz ter recebido de um monge grego, companheiro de São Jerônimo (Itália, 347- 420).


Síntese do Conteúdo

A Morte de São José: Um Legado de Fé, Sacrifício e Amor na Tradição Cristã


A Morte de São José: Um Legado de Fé, Sacrifício e Amor na Tradição Cristã


O artigo que vos trago, analisa o relato da morte de São José, conforme apresentado no “Evangelho Secreto da Virgem Maria”, atribuído ao sacerdote Santiago Martín. A narrativa, embora não canônica, oferece uma rica perspectiva espiritual e humana sobre os últimos dias do pai terreno de Jesus. Através da análise do contexto familiar, da missão de José, do sofrimento enfrentado e da dimensão teológica de sua morte, este estudo propõe uma reflexão sobre o papel de São José como modelo de fé, humildade e entrega à vontade divina.


A figura de São José ocupa um lugar singular na tradição cristã. Embora os evangelhos canônicos ofereçam poucos detalhes sobre sua vida e morte, a devoção popular e os textos apócrifos ampliam sua presença como exemplo de virtude silenciosa. O “Evangelho Secreto da Virgem Maria”, baseado em manuscritos atribuídos à monja Egeria no século IV, apresenta uma narrativa comovente sobre os últimos dias de José, revelando aspectos espirituais e familiares que enriquecem a compreensão teológica de sua missão.


José é descrito como esposo dedicado e pai amoroso, cuja vida foi marcada pelo trabalho humilde e pela obediência à Vontade de Deus. Quando Jesus tinha vinte anos, já se cogitava seu casamento, mas Maria e José sabiam que isso não fazia parte do plano divino. A morte de José, nesse contexto, serviu como um marco que permitiu a Jesus permanecer ao lado da Mãe, preparando-Se para Sua missão messiânica.


A missão de José não se limitou ao cuidado físico da Sagrada Família, mas também à formação espiritual de Jesus. Sua presença discreta e firme contribuiu para o desenvolvimento humano do Salvador, sendo ele o único homem que pôde chamar Jesus de “meu Filho”.


O relato da morte de José começa com sua decisão de ajudar um vizinho na montanha, apesar da saúde debilitada e das condições climáticas adversas. Essa atitude revela seu senso de responsabilidade e fidelidade ao trabalho, características que o tornam modelo para os trabalhadores cristãos.


Mesmo diante do risco, José parte com Jesus, levando ferramentas e um burrico. A tempestade que os surpreende na montanha agrava sua condição física, e ele retorna em estado crítico. A narrativa destaca o cuidado de Jesus e a angústia de Maria, que reza incessantemente pela proteção dos dois.


José enfrenta a doença com serenidade e fé. Mesmo em meio à dor, consola Maria e reafirma sua confiança no amor de Deus. Suas palavras finais são de gratidão e esperança, revelando uma espiritualidade madura e profunda. Ele reconhece o valor da fé nos momentos difíceis e convida Maria a confiar na Providência Divina.


A cena em que Jesus realiza o sinal da cruz sobre o corpo do pai, antecipa elementos centrais da tradição cristã. Esse gesto, repetido anteriormente com a avó Ana é incompreendido pelos presentes, mas carrega forte simbolismo teológico, apontando para a futura paixão e ressurreição.


A morte de José é apresentada como uma passagem serena e sagrada. Ele é transfigurado pela paz interior e sua partida é marcada por bênçãos e gestos de amor. A narrativa sugere que José compreendeu, mesmo em meio à dor, que sua vida foi parte de um plano maior.


Sua morte não é apenas o fim de uma existência terrena, mas a culminação de uma missão divina. Ele é celebrado como o homem que recebeu mais de Jesus do que se tivesse sido seu pai biológico, e sua linhagem é honrada pela presença do Salvador.


O relato da morte de São José, embora não canônico, oferece uma poderosa reflexão sobre a fé, o sacrifício e o amor. José é apresentado como modelo de obediência, humildade e confiança em Deus. Sua vida e morte inspiram os cristãos a viverem com dignidade, mesmo diante do sofrimento, e a reconhecerem a presença divina nos momentos mais difíceis.


Este artigo propõe que a figura de São José seja valorizada não apenas como protetor da Sagrada Família, mas como exemplo universal de santidade cotidiana. Sua morte, envolta em serenidade e fé, é um testemunho que transcende o tempo e continua a iluminar o caminho dos fiéis.


Finalização do Grupo Conteúdos Católicos


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