Estamos num mês muito especial...o mês mariano por excelência do nosso calendário católico, quando festejamos o dia das mães naturais, assim como é o mês mais dedicado á Ela, a nossa Mãe Santíssima.
Devemos todos nos consagrar à Jesus pelas mãos de Maria, pois é uma atitude de amor filial profunda e atrai-nos graças abundantes e consequentemente, ganhamos ainda mais a proteção e a pertença consumada por nós mesmos através desta Santa Escravidão.
É importante entendermos bem, e para aqueles que não concordam ou não percebem o motivo para nos consagrarmos, poder então, dar este passo, efetuando-se a necessária correspondência aos planos de Deus.
Abaixo nos esclarece o piedoso sacerdote Padre Júlio Maria de Lombaerde.
«Para ser devoto escravo do Filho, aspiro tornar-me fiel escravo da Mãe.»
(Santo Ildelfonso)
Depois de termos estudado as diversas relações que podem existir entre Maria Santíssima e as almas desejosas de amor devemos concentrar-nos na relação que é o fundamento das outras: a Santa Escravidão de Jesus em Maria, ou, como explicaremos brevemente, a escravidão de Maria.
A Santa Escravidão de Maria encerra implicitamente as relações de apóstolo e de vítima, e dispõe admiravelmente a alma a entrar, se a Virgem misericordiosa a tiver chamado, nas santas e sobrenaturais intimidades dos esponsais.
Escravo do amor de Maria, ponho-me a seu serviço, faço-me seu apóstolo, imolo-me por Ela, humilhando-me atraio os olhares e as predileções da Mãe de Jesus, que estará toda
disposta a elevar-me, a unir-me com Ela mais intimamente.
1. A Santa Escravidão em geral
Prostro-me aos pés da Santíssima Virgem, feliz de poder beijá-los, ponho tudo o que sou e tudo o que possuo a seu serviço.
E Ela, tão bondosa, não ficará comovida com esta homenagem?
Quanto mais me mostrar seu escravo, quanto mais eu colocar a seu serviço meus talentos e minha vida, quanto mais me abaixar, tanto mais alto Ela me elevará. É, portanto, humilhando-me, que posso aspirar a reclinar-me, um dia, sobre seu peito, a sentir seu coração perto do meu, a viver com Ela essa doce e inefável vida de intimidade que admiramos na vida dos santos.
A Santa Escravidão deve produzir este efeito, pois, segundo Montfort «de todas as devoções é ela que exige de uma alma mais sacrifícios por Deus; que a despoja mais de si e de seu amor próprio; que a conserva mais fiel à graça e nela melhor conserva a graça; que a une mais perfeita e facilmente a Jesus Cristo».
Isto significa que é a devoção mais generosa para com Deus, mais santificante para a alma, mais útil ao próximo (Tratado da Verdadeira Devoção, pág. 86).
Houve nestes últimos séculos uma espécie de confraria chamada "a Santa Escravidão da Mãe de Deus", que atribuía à Santíssima Virgem uma autoridade imediata de soberania sobre as criaturas; entre outras insígnias, os confrades traziam no braço pequenas algemas simbólicas, para mostrar que eram escravos de Nossa Senhora.
Compreende-se que esta associação, apoiada sobre um erro dogmático, tenha sido repelida e proibida pelos Romanos Pontífices.
Contentemo-nos em assinalar essa associação, que já não existe, a fim de impedir os detratores da "Santa Escravidão de Jesus e Maria" de servirem disso para afastar desta doutrina as almas simples e pouco versadas nas questões teológicas.
Não há nenhuma relação entre este erro e a doutrina da Santa Escravidão pregada por São Luís Maria Grignion de Montfort, doutrina que recebeu a sanção da Igreja e já foi para grande número de almas uma fonte de heroísmo e de santidade.
Antes de estudarmos pormenorizadamente a doutrina da Santa Escravidão, a resposta a duas questões que poderão surgir nos ajudará a dissipar muitas dúvidas, e a resolver as principais dificuldades.
1. A Santa Escravidão é boa em si? Isto é, podemos nos tornar escravos de Maria?
2. Será este meio o melhor, considerado o fim que temos a alcançar?
Em primeiro lugar, digamos que temos o direito de nos declarar escravos de Maria. São Luís Maria Grignion de Montfort afirma mesmo que pertencemos a Maria independentemente de nossa vontade.
É claro que, falando da divina Mãe de Jesus, nós a consideramos no plano divino atual, supostas as coisas como são; não, portanto, isolada, mas com Jesus; tendo direitos com Ele e por causa d'Ele.
Assinalemos ainda o seguinte principio, admitido por todos:
«Tendo Deus disposto com ordem todas as coisas, e tendo desde o início elevado a criatura dotada de razão à ordem sobrenatural, tudo o que é natural se relaciona com o sobrenatural e é dirigido para o sobrenatural». Eis porque São Paulo afirma que somos os senhores de todas as coisas (1Cor 3,22) senhores dependentes de Deus, sem dúvida, mas, enfim, verdadeiramente senhores. Assim, quando se trata de Chefe, de Senhor, em relação a nós, cumpre ir diretamente ao sobrenatural.
2. Maria é nossa Senhora
São conhecidas as três razões pelas quais Santo Tomás mostra que Jesus é o chefe de todos nós (cf. III. P. q. VIII. a. I.)
Nada mais fácil do que aplicar estes argumentos a Maria Santíssima, guardadas todas as proporções, para ver até à evidência que Ela é, realmente, Nossa Senhora, e que, portanto, nós somos seus escravos.
PRIMEIRA RAZÃO:
Se na economia sobrenatural examinarmos primeiro a ordem, vemos que Maria foi idealizada e predestinada com Jesus, antes de qualquer outra criatura. Não porque tenha, de fato, recebido a graça dos outros, pois os anjos e muitos homens já haviam sido santificados antes do nascimento da Virgem Santa, mas porque, na intenção de Deus, Jesus e Maria dominam toda a ordem sobrenatural, que se sintetiza neles, como em sua causa eficiente, sua causa exemplar, sua causa final.
SEGUNDA RAZÃO:
É a da perfeição da graça em Maria. Em Jesus a graça foi infinita, isto é, em toda a sua plenitude, não como homem, pois Jesus enquanto homem é finito, mas como graça (III. P. q. VII a II).
Sem ser infinita, Maria, foi tudo o que pode ser numa simples criatura. Ela teve, como diz Santo Tomás, (Hid. a 10 ad 1m) a plenitude de graça necessária para este estado sublime, ao qual Deus a elevara, isto é: Mãe do Filho de Deus.
Assim como, para ajudar a graça habitual de Jesus, cumpre pô-la em face do fim a atingir, pois Ela deve ser proporcionada a este fim, (Ibid. a 12) que é graça de união, a união hipostática; assim, relativamente a Maria, é preciso julgar tudo pela sua maternidade divina.
Esta prerrogativa infinita, neste sentido, eleva a personalidade de Maria a um grau de tal forma eminente, que o próprio Deus não poderia exaltar mais uma criatura humana.
Acha-se Ela tão cheia de Deus, princípio de toda a graça, e em tais relações de união, que é impossível não a encher de graça, um semelhante contato. Efetivamente, quando Deus se une a uma criatura, Ele harmoniza tudo, de modo que essa criatura possa, por sua vez, unir-se a Ele por uma operação própria (Ibid. q. IV a 1, ad 2m). Onde, pois, quer Deus uma união extraordinária, deve também achar-se uma disposição sobrenatural mais excelente, que dê à união de Deus à sua criatura uma reciprocidade tão grande quanto possível.
Eis porque em Jesus, cuja natureza humana subsiste no próprio ser divino, a graça é, verdadeiramente, infinita, (Ibid. q. VII a 12) e em Maria, cuja personalidade atinge Deus até tornar-se Sua Mãe, a graça é de uma perfeição realmente à parte, e tão perfeita quanto pode ser uma simples criatura.
TERCEIRA RAZÃO:
Achamo-la na influência exercida por Maria sobre nós na ordem da graça.
A vida sobrenatural nos vem d'Ela, não diretamente, mas de Cristo por Ela. Ela espalha vida e movimento nos membros místicos do Salvador, não como a cabeça, mas como o pescoço, que os recebe para os transmitir: "Plenitudo gratiae fuit in Christo, sicut Capite influente, in Maria vero, sicut in collo transfundente", diz São Bernadino (Termo p. 2. Concl. 61. art. 2 Cap. X).
Desta verdade cumpre necessariamente concluir, que Maria é nossa Senhora, pois nós lhe devemos a vida em sua origem e em suas incessantes aplicações. Perdemos a vida por Eva; ela foi restituída por Maria. Foi o Fiat da Encarnação, verdadeira causa moral da união hipostática, que salvou o gênero humano.
3. Maria, auxiliar de Jesus
Demais, já o provamos em outra obra, (Porque amo Maria) Maria é a medianeira e distribuidora de todas as graças. É Nela e por Ela que o Espírito Santo forma os eleitos; ou, como diz São Bernardino, "na Encarnação Ela adquiriu uma espécie de jurisdição sobre as missões temporais do Espírito Santo" (Serm. 6 Annunt. B. M. V)..
Maria está, portanto, unida a Jesus, como Sua auxiliar incomparável, dominando e vivificando, com Ele, todos os que participam da vida sobrenatural. Ela é Rainha. Rainha com Jesus; e nós lhe pertencemos, mesmo independentemente de nossa escolha, pois tudo quanto temos na ordem espiritual, é d'Ela que recebemos.
E como Maria é inseparável de Jesus, e como ambos têm as mesmas condições de existência e vivem a mesma vida e operam conjuntamente em todas as coisas, podemos traduzir o texto de São Paulo: "Omnia enim vestra sunt, vos autem Christi" (1Cor 3,23) dizendo: «Tudo é vosso, mas vós sois de Cristo e de Maria». São Bernardo parece não hesitar em fazê-lo, quando escreve: «Para Ela, depois de Cristo, tudo foi feito e tudo existe»
(Sermo in Salve).
Limitemos aqui nossas reflexões.
O que vimos é o bastante para concluirmos que, em razão da ordem, da perfeição da graça, e da influência exercida, Maria Santíssima é Nossa Senhora. E como uma pessoa não tem direito senão em vista de um dever correspondente segue-se que somos escravos de Maria, como o somos de Jesus, pois o correlativo de Senhora, como o dissemos precedentemente, é escravo.
4. O exemplo de Jesus
Entregando-nos à Rainha do céu, proclamando-nos seus escravos, não fazemos mais que ratificar, aprovar um estado de coisas já existentes; em outros termos, não fazemos mais que
renovar nossas promessas do Batismo. Digamos, pois, bem alto com a própria Virgem Santíssima, "Ecce ancilla Domini". "Eis aqui a escrava do Senhor"; e acrescentemos: "Eis também o escravo de Maria".
A resposta à pergunta, se seria a Santa Escravidão o meio de conseguir melhor o fim que almejamos, torna-se agora fácil de responder. Diríamos simplesmente: Sendo tal a condição natural, estabelecida pelo próprio Deus, é preciso que nela encontremos o meio de chegar ao nosso fim. Este meio, contido em nosso título de "escravos", é a dependência completa e absoluta de nosso "Senhor" e de nossa "Senhora". Mas nós possuímos mais do que uma simples regra. Mais que uma dedução: temos o exemplo do próprio Filho de Deus.
Jesus, o grande Modelo, o Modelo em tudo, quis depender de Maria. Quiséramos, pois cantar com Montfort: «Não podemos fazer melhor que a Ela nos assemelhar, pois é Ela o grande Modelo que nós devemos imitar».
Mas examinemos mais de perto esta consoladora verdade. Jesus, como homem, era servo e escravo de Seu Pai. Para sermos servos de Deus queremos unir-nos a Jesus-servo. E para viver mais unidos a Jesus, vamos a Maria, colocamo-nos sob sua dependência. Não é isso praticar a união com Jesus em toda sua perfeição? Pois que nos unimos a Ele até no próprio meio por Ele escolhido para melhor depender de Deus. Ele não soube achar melhor meio do que encerrar-Se no seio de Maria, ser Seu Filho verdadeiro, entregue a Ela, obedecendo-lhe durante trinta dos trinta e três anos que viveu. E esta é a melhor garantia da Santa Escravidão.
Este meio é o mais seguro, visto ser o escolhido por Jesus.
Digamos, portanto, corajosamente: o melhor meio de pertencermos a Jesus Cristo, nosso fim, é pertencermos sem reserva a Maria, Sua Mãe, que é o meio estabelecido por Ele.
Se por um lado, podemos unir-nos em tudo e sempre a Maria, como escravos, por outro lado, esta vida de união nos ajuda realmente a pertencermos melhor a Jesus Cristo como escravos de amor.
Por enquanto, limitemo-nos à conclusão natural do que precede: Somos escravos de Maria. E esta escravidão é o meio adequado de atingir o nosso fim: Deus.
Introdução de Claudia Pimentel dos Conteúdos Católicos
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