O fato do sofrimento indubitavelmente tem sido o maior desafio à fé cristã em todas as gerações. Sua distribuição e grau parecem ser inteiramente ao acaso e, portanto, injustos. Os espíritos sensíveis perguntam se o sofrimento pode, de algum modo, reconciliar-se com a justiça e o amor de Deus.
No dia primeiro de novembro de 1755 Lisboa foi devastada por um terremoto. Sendo o Dia de Todos os Santos, as igrejas estavam cheias, e trinta foram destruídas. Dentro de seis minutos 15.000 pessoas tinham morrido e outras 15.000 estavam morrendo. Um dos muitos que foram atordoados pelas notícias foi o filósofo francês Voltaire. Durante meses ele aludiu ao terremoto em suas cartas em termos de apaixonado horror. Como podia alguém agora acreditar na bondade e onipotência de Deus? Ele ridicularizou as linhas de Alexandre Pope
em seu Ensaio Acerca do Homem, que havia sido escrito numa vila segura e confortável de Twickenham:
«E, a despeito do orgulho, a despeito da razão errante, Uma verdade é clara: O que quer que for, é certo».
Voltaire sempre se tinha rebelado contra essa filosofia do Otimismo. Poderia Pope repetir os seus versos, se se tivesse encontrado em Lisboa? A Voltaire pareciam ilógicas (interpretando o mal como bem), irreverentes (atribuindo o mal à Providência) e injuriosas (inculcando resignação em vez de ação construtiva). Ele expressou o seu protesto pela primeira vez em "Poema Acerca do Desastre de Lisboa", que pergunta por que, se Deus é livre, justo e bom, sofremos sob o seu governo. É o antigo enigma de que Deus ou não é bom ou não é todo-poderoso.
Ou ele deseja dar fim ao sofrimento mas não pode fazê-lo, ou ele poderia mas não quer. Qualquer que seja o caso, como podemos adorá-lo como Deus? O segundo protesto de
Voltaire foi escrever seu romance satírico "Candide", a história de um jovem engenhoso, cujo mestre, o Dr. Pangloss, um professor de Otimismo, continua a assegurá-lo de que "tudo acontece para o melhor no melhor de todos os mundos possíveis", em desafio às suas sucessivas calamidades. Quando naufragam perto de Lisboa, Candide quase morre no terremoto, e Pangloss é enforcado pela Inquisição. Escreve Voltaire: "Candide, aterrorizado, sem fala, sangrando, palpitando, disse a si mesmo: Se este é o melhor de todos os mundos possíveis, como será o resto?"
Todavia, o problema do sofrimento está longe de ser de interesse somente dos filósofos. Ele vem de encontro a quase todos nós na área pessoal; poucos passam pela vida inteiramente ilesos. Pode ser uma privação de infância que resultou numa desordem emocional para a vida toda, ou uma deficiência congênita da mente ou do corpo.
Ou, de súbito e sem aviso, somos atacados por uma enfermidade dolorosa, somos despedidos do emprego, caímos na pobreza ou sofremos a morte de uma pessoa querida. Ou então, sem querer, ficamos sozinhos novamente, um relacionamento de amor se desfaz, o casamento se quebra e chegam o divórcio, a depressão e a solidão.
O sofrimento vem de muitas formas desagradáveis, e às vezes não só fazemos a Deus as nossas perguntas agonizantes: "Por quê?" e "Por que eu?" mas até mesmo, como Jó, nos encolerizamos contra ele, acusando-o de injustiça e indiferença. Não conheço um líder cristão mais sincero em confessar sua ira do que Joseph Barker, que foi ministro do Templo da Cidade de 1874 até sua morte em 1902. Ele diz em sua autobiografia que até à idade de 68 anos jamais teve uma dúvida acerca da religião. Então sua esposa faleceu, e sua fé entrou em colapso. "Naquela hora negra", escreveu ele, "quase me tornei um ateu. Pois Deus havia colocado os pés sobre as minhas orações e tratado as minhas petições com desprezo. Se eu tivesse visto um cão em agonias como as minhas, eu teria tido pena e ajudado a besta; contudo, Deus cuspiu sobre mim e lançou-me fora como uma ofensa - fora na desolação do deserto e na noite negra e sem estrelas."
É preciso dizer imediatamente que a Bíblia não supre solução completa ao problema do mal, quer seja mal "natural", quer "moral", isto é, quer na forma de sofrimento quer de pecado. Consequentemente, embora faça referência ao pecado e ao sofrimento praticamente em todas as suas páginas, seu interesse não é explicar a origem destes, mas ajudar-nos a vencê-los.
Meu objetivo neste capítulo é explorar a relação que possa existir entre a cruz de Cristo e os nossos sofrimentos. De modo que não apresentarei outros argumentos padrões acerca do sofrimento, incluídos nos livros textos, mas os mencionarei apenas como introdução.
Primeiro, segundo a Bíblia, o sofrimento é uma intromissão alheia ao bom mundo de Deus, e não terá parte em seu novo Universo. É uma investida violenta e destrutiva de Satanás contra o Criador. O livro de Jó esclarece esse ponto. Também o fazem a descrição de Jesus de uma mulher enferma como estando "presa" por Satanás, o seu repreender as doenças como repreendia os demônios, a referência de Paulo a seu "espinho na carne" como
"mensageiro de Satanás", e o retrato que Pedro fez do ministério de Jesus como "curando a todos os oprimidos do diabo". Assim, não importa o que se possa dizer mais tarde acerca do "bem" que Deus pode tirar do sofrimento, não devemos nos esquecer de que é bem extraído do mal.
Segundo, com frequência o sofrimento é devido ao pecado. É claro que originalmente a doença e a morte entraram no mundo através do pecado. Mas agora estou pensando no pecado atual. Às vezes o sofrimento vem por causa do pecado de outros, como acontece quando as crianças sofrem nas mãos de pais desamorosos ou irresponsáveis, os pobres e os famintos sofrem pela injustiça econômica, os refugiados sofrem por causa das crueldades da guerra, e os que morrem nas estradas por causa de motoristas embriagados.
Outras vezes o sofrimento pode ser a consequência de nosso próprio pecado (o uso indevido de nossa liberdade) e até mesmo sua penalidade. Não devemos fazer vista grossa às passagens bíblicas que atribuem a enfermidade ao castigo de Deus. Ao mesmo tempo devemos repudiar firmemente a horrível doutrina hindu do carma, que atribui todo sofrimento a ações erradas nesta ou numa existência anterior, e a doutrina dos assim
chamados consoladores de Jó, quase tão horrível quanto aquela. Apresentaram sua ortodoxia convencional de que todo sofrimento pessoal é devido ao pecado pessoal, e um dos principais propósitos do livro de Jó é contradizer essa noção popular mas errónea. Jesus também rejeitou-a categoricamente.
Terceiro, o sofrimento é devido à nossa sensibilidade humana à dor. O infortúnio é agravado pela dor (física ou emocional) que sentimos. Mas os sensores da dor do sistema nervoso central emitem valiosos sinais de aviso, necessários à sobrevivência pessoal e social. Talvez a melhor ilustração dessa verdade seja a descoberta do Dr. Paul Brand no Hospital Evangélico Velore, no Sul da Índia, de que o mal de Hansen (lepra) entorpece as
extremidades do corpo, de modo que as úlceras e infeções que se desenvolvem sejam problemas secundários, devidos à perda de sensibilidade. Se vamos proteger-nos a nós mesmos, é necessário que as reações nervosas doam. "Graças a Deus por inventar a dor!", escreveu Philip Yancey: "Não acho que ele poderia ter feito um trabalho melhor. É linda."
Quarto, o sofrimento é devido ao tipo de ambiente em que Deus nos colocou. Embora a maior parte do sofrimento humano seja causada pelo pecado humano (C. S. Lewis calculou que chega a quatro quintos, e Hugh Silvester dezenove vinte avós, isto é, 95 %), os desastres naturais como inundações, tufões, terremotos e secas não o são. É verdade que se pode argumentar que Deus não pretendia que as "áreas inóspitas" da Terra fossem
habitadas, muito menos ampliadas pela irresponsabilidade ecológica. Entretanto, grande quantidade de gente continua vivendo onde nasceram e não têm possibilidade de mudar. O que se pode dizer, então, acerca das assim chamadas "leis" naturais que na tempestade e no vendaval implacavelmente esmagam pessoas inocentes?
C. S. Lewis foi ao ponto de dizer que "nem mesmo a Onipotência poderia criar uma sociedade de almas livres sem ao mesmo tempo criar uma Natureza relativamente independente e "inexorável" ". "O de que precisamos para a sociedade humana", prosseguiu Lewis, "é exatamente o que temos - algo neutro", estável e possuindo "uma natureza própria fixa", como a arena na qual podemos agir livremente uns para com os outros e para com ele. Se vivêssemos em um mundo no qual Deus impedisse que o mal acontecesse, como o Super-homem dos filmes de Alexander Salkind, a atividade livre e responsável seria impossível.
Sempre tem havido aqueles que insistem em que o sofrimento é sem sentido, e que não podemos detetar absolutamente nenhum propósito nele. No mundo antigo encontravam-se nesse grupo os estóicos (que ensinavam a necessidade de submissão corajosa às leis inexoráveis da natureza) e os epicureus (que ensinavam que o melhor escape do mundo imprevisível era a indulgência no prazer). E no mundo moderno, os existencialistas seculares acreditam que tudo, inclusive a vida, o sofrimento e a morte, é sem sentido e, portanto,
absurdo.
Mas os cristãos não podem seguir por esse beco sem saída. Pois Jesus mencionou o sofrimento como sendo tanto para a "glória de Deus", para que o Filho fosse glorificado através dele, como "para que se manifestem nele as obras de Deus". Essa afirmação de alguma maneira (ainda a ser explorada) parece significar que Deus está operando a revelação da sua glória no sofrimento e através dele, como fez (embora de modo diferente) por meio do de Cristo.
John Stott
O sofrimento faz parte da nossa existência humana e pecadora.
Cristo sofreu muito mais por cada um de nós e devemos compreender bem essa questão para que o nosso sofrimento não seja em vão.
Se sofrermos unidos à Cristo Redentor teremos a serenidade necessária para entender e aceitar com resignação tal sofrimento, por mais doloroso que seja.
O sofrimento terá o seu sentido pleno, ou seja, meritório e unitivo à Cristo, na medida em que à cada surgimento, nos entregarmos á Ele e em aceitação filial e obedientes á Sua vontade, não nos inquietarmos e nem O indagarmos pelos fatos que devem acontecer em nossas vidas, pois que são para o nosso maior bem e pela glória futura que nos trará.
Silenciemos e aceitemos com muita fortaleza e determinação em nos submetermos ao Senhor através dos acontecimentos que nos advém, confiantes e esperançosos, pois, Jesus está sempre connosco e não nos deixa sós.
Finalização de Claudia Pimentel dos Conteúdos Católicos
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