O PEDIDO DA SENHORA
A primeira aparição - 13 de Maio de 1917
Na primeira aparição aos pastorinhos, Nossa Senhora, entre outras coisas importantes, pergunta às três crianças se querem oferecer-se a Deus, oferecer toda a vida e todos os sacrifícios, todo o amor e toda a oração, com duas intenções muito grandes: a reparação dos pecados e a conversão dos pecadores.
Pecados de todos, de todo o mundo, de toda a humanidade. Pecados contra Deus, contra o homem, pecados de faltas às leis divinas e às leis da Igreja. Pecados que o Anjo, no ano anterior, tinha dito que eram também blasfémias, sacrilégios e indiferenças contra Jesus no Santíssimo Sacramento. Pecados contra Nossa Senhora, pecados contra o amor de Deus uno e trino. Pecados contra nós próprios, que nos vão autodestruindo, aviltando e degradando. Pecados contra os outros, sobretudo contra o amor e a justiça.
O pecado é a pior doença, o mal mais negativo, mais ofensivo contra Deus e contra a humanidade. Ofensivo e destrutivo contra a própria Igreja. Daí as mensagens de Fátima insistirem tanto na reparação. E reparar o que é?
Parece não ser outra coisa senão amar o Amor, amar para suprir as traições do Amor, amar para compor os estragos das faltas de amor, das negações ao amor.
Ao perguntar aos pastorinhos se queriam oferecer-se para reparar, a Senhora indica não só que a reparação é necessária e urgente, mas que a grande maneira de a realizar é a oferta de tudo, em amor e com amor: vida, oração, trabalho, penitência, sacrifícios, etc. Temos na nossa mão e no nosso coração os meios de reparar amando e de amar mais para reparar melhor. Temos a possibilidade da nossa oferta quotidiana feita com o maior amor possível.
E Deus Amor acolherá nossa oferta reparadora.
A intenção da oferta pedida aos pastorinhos tem ainda a segunda dimensão apostólica, que se torna urgente e grandiosa: a conversão dos pecadores. Todos somos pecadores e todos precisamos de conversão. Mas a alma do mundo está doente e precisamos de pedir muito a cura dos corações, a mudança de vida, a conversão de todos, dum modo mais particular dos que mais longe estão de Deus, da graça divina, do caminho do Evangelho.
Onde há falta de amor, é preciso conversão. Onde há falta de verdade e de justiça, é preciso conversão. Onde existe atentado contra Deus, falta de oração, falta de participação no preceito dominical, é preciso conversão. Onde há guerra, crime, aborto, adultério, é preciso conversão.
Onde há corrupção, fraude, suborno, é preciso conversão.
Onde existe violência doméstica e abuso de menores, é preciso conversão. Onde há depravação moral e sexual, é preciso conversão. Onde não há paz, amor e justiça, é preciso conversão. Onde há blasfémia, sacrilégio, indiferença, é preciso conversão. Onde há atentados à Eucaristia e profanações de sacrários, é preciso conversão.
Mas a conversão de outros pode depender de nós, da nossa oferta, da nossa oração, da nossa penitência, do nosso apostolado. Devemos sentir «dores de parto», como S. Paulo, para gerar Cristo no coração de todos, no coração do mundo. Colaborar com o projeto divino do Pai que quer a salvação de todos, que enviou o Filho para que todos encontrem a graça e a vida divinas. Colaborar neste projeto é a maior graça da nossa vida. Deve ser o
nosso entusiasmo e deve dinamizar todo o nosso ser e a nossa ação apostólica.
Conversão: penitência e oração
Quer as três mensagens do Anjo, em 1916, quer as seis de Nossa Senhora, em 1917, deixam bem claro o projeto do Evangelho, a Palavra libertadora de Jesus. A conversão pessoal e a dos outros consegue-se, não só com a graça de Deus, a ação do Espírito, mas também com a nossa oração e penitência. Duas dimensões que o mundo, hoje, não quer muito, não aprecia como algo importante. Muitos até rejeitam e criticam a dimensão da penitência. E o que podemos concluir da oração é que a maioria de nós reza pouco e reza mal.
Só a oração, que comporta a escuta da Palavra, que salva e purifica, que converte e cura, pode ajudar a uma verdadeira conversão. Só a ação do Espírito Santo em nós, Espírito que nos faz assimilar a Palavra e abrir-nos ao amor, pode ir consolidando a nossa caminhada de conversão. É verdade que só Deus e a sua graça nos podem converter, mas precisamos de colaborar com a nossa oração mais perseverante, mais silenciosa e aberta ao amor, mais
generosa e mais comprometida com a vida. Não basta rezar, é necessário levar a oração para a vida e deixarmo-nos tocar pelas exigências amorosas de Deus.
Por outro lado, somos hoje, parece, mais avessos à penitência, ao espírito de sacrifício, à oferta dedicada da nossa penitência em favor da salvação e da conversão. Claro que não se trata da dor pela dor, do sacrifício pelo sacrifício. Trata-se de entender, a nível da fé, com dimensões bíblicas e teológicas, o valor salvífico do sofrimento. Primeiro, do sofrimento de Jesus Cristo, o Cordeiro imolado por amor para resgatar a humanidade. Depois, do nosso
sofrimento unido ao d'Ele, mergulhado no d'Ele, com o desejo de que o mundo tenha vida e vida em abundância.
Ele foi a Vítima imolada no Calvário para redenção do mundo. Nós, pela penitência, pelo sacrifício oferecido com amor, queremos colaborar nessa obra redentora.
Daqui nasce o pedido da Senhora na primeira aparição: «Quereis oferecer-vos a Deus?», quereis oferecer a vida, a dor, a oração, os sacrifícios, para reparar pecados e converter pecadores? Quereis unir-vos a Jesus e realizar a vossa oferta ao Pai, para colaborar na salvação, para atualizar a salvação no hoje e no agora da vida e do tempo? Perante este convite da Senhora, os pastorinhos só tiveram uma resposta: «Queremos». Cada um de nós só pode e deve ter a mesma resposta: «Quero». Está em jogo a salvação de muitos, a paz do mundo, a união das famílias, a reparação da imensidade dos pecados da humanidade. Não podemos dar outra resposta. O mundo precisa e espera por ela.
Não podemos estar indiferentes quanto à tudo o que se passa à nossa volta e pelo mundo.
Somos todos chamados à responder e a nos oferecer por este ato de Amor à Deus e ao próximo que, depende dessas nossas ações de rezarmos por eles incansavelmente e por eles fazermos penitências.
Quanto mais nos oferecermos à estes atos de verdadeiro Amor, mais também nos unimos à Deus Pai e à Sua Mãe e nos moldamos a sermos o que o Pai deseja de nós, filhos e filhas que amam e se assemelham nessas atitudes concretas como Jesus que é todo Amor.
Reflitamos no quanto que havemos de rezar e nos penitenciar por tantos irmãos que precisam desses atos de puro Amor. Muitos se converterão se aceitarmos a nos oferecer dia após dia, pois esse também deve ser o nosso desejo, de contribuir com Jesus e Maria e de salvarmos almas.
Atitude esta que é perfeita, pois brota do coração de quem ama e faz parte do coração humano, desde que se decida a se oferecer o quanto temos e podemos todos, sem exceção, oferecer pelos outros em abundância que não escasseia, pois que sempre renasce continuamente no desejo de se oferecer pelo bem dos outros e por Amor à Deus.
Texto de Padre Dário Pedroso e finalização de Claudia Pimentel (Administradora, Escritora e Editora Literária dos Conteúdos Católicos).
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