Por um pecado mortal fica uma alma para sempre, durante os séculos intermináveis da eternidade, no Inferno. Não é pois para admirar que fique longos anos no Purgatório a alma que sai do mundo culpada de um infinito número de pecados veniais, muitos deles bastante graves e plenamente deliberados.
Reparemos como as inumeráveis faltas, - algumas culpas tão graves, que mal soubemos no momento de pecar se eram pecados mortais ou veniais - têm de ser expiadas uma por uma. Por toda a palavra ociosa que um homem disser tem de dar contas a Deus.
<< -Dali não sairá até pagar o último ceitil. >>
a) Quem pode calcular o número e a malícia das culpas de egoísmo, as manifestações de amor próprio, os pensamentos, as palavras e os atos de sensualidade em todas as suas formas, de má língua, de ira, de inveja, de preguiça, de vaidade e um sem número de outros delitos?
b) Amontoam-se em seguida as omissões dos deveres que devemos cumprir e não cumprimos, a quase completa falta de amor de Deus, de zelo no Seu serviço, a indiferença e frieza nos atos de religião, a falta de fé viva, a tibieza e letargia a indiferença em tudo quanto diz respeito a Deus.
c) Ele morreu por nós, sofreu mil injúrias, e insultos por nosso amor. Nunca Lhe agradecemos, ter sofrido tanto por nós, não sentimos no coração a mais leve gratidão.
Fica Ele na Igreja dia e noite, realmente presente, no Altar, para nos receber. Quantas vezes O visitamos? Passamos dias e anos e pouco pensamos n'Ele. Quer entrar nos nossos corações diariamente, na Sagrada Comunhão para nos encher de graça e forças e de consolação, para nos cumular de favores e benefícios. Quantas vezes deixamos de O receber, recusamos a Sua visita, fechamos a porta que Ele queria transpor? Poucas são as pessoas, pelo menos nas cidades, que não poderiam comungar todos os dias, e decerto nos Domingos se quisessem.
d) A Santa Missa é a mesmo Sacrifício do Calvário. Jesus, o Filho de Deus nasce e morre realmente todos os dias no Altar, dando a todos os presentes as mais ricas e abundantes graças, as mesmas graças, diz S. Tomás, que dispensou na primeira sexta-feira no Calvário. Eis o meio eficacíssimo de alcançar perdão dos nossos pecados.
Quantas vezes deixamos de assistir a este Divino, Infinito Sacrifício? Temos medo -cobardes e fracos que somos - de fazer penitência. Mas Deus oferece-nos os Sacramentos, como a Confissão, a Comunhão, e o Sacrifício tremendo da Missa para que tomem o lugar da penitência, para suprir o que a nossa fraqueza não quer ou não pode fazer. Desprezamos porém este Amor, rejeitamos os Seus benefícios, não fazemos caso da Sua generosidade, ultrajamos a Sua amizade.
Estes pecados todos de desleixo, indiferença, ingratidão negra, estes insultos todos, esta dureza de coração, a cegueira deliberada, as negligências loucas teremos de as pagar todas no Purgatório.
e) Acrescente-se ainda a falta de caridade para com o próximo, a mesquinhez em dar esmolas, os maus modos, as impaciências, as críticas e censuras. Temos os bens desta vida, boa casa, comida abundante, vestido confortável, numa palavra todos os confortos. Nada nos falta. Em volta de nós vemos pobres que padecem fome, vivem em casebres frios, imundos e pouco salubres, mal agasalhados, sem médico e remédios nas doenças, sem alívios nas dores. Que esmola damos? Uns vinténs! E de mau modo! Temos tudo e gastamos muito no luxo, muito em divertimentos, muito em coisas banais que não são nada necessárias e que poderíamos muito bem dispensar. E damos tão pouco, tão pouco aos famintos, aos indigentes, aos doentes, aos desempregados!
Não é pois para admirar, que paguemos bem caro esta crueldade no Purgatório.
Devemos meditar sobre a história de Dives e Lázaro que mostra bem a gravidade desta nossa conduta.
<< - Havia um homem rico que se vestia de púrpura e de tela finíssima e todos os dias se banqueteava esplendidamente. E havia também um pobre mendigo por nome Lázaro, que jazia à sua porta coberto de chagas. Desejava fartar-se das migalhas, que caiam da mesa do rico e ninguém lhas dava; e os cães vinham lamber-lhe as úlceras. Aconteceu porém que morreu o mendigo e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão e morreu também o rico e foi levado para o inferno.>>
Levantando então os seus olhos quando estava nos tormentos, viu de longe Abraão e Lázaro no seu seio. E ele, gritando, disse: << - Pai Abraão, compadece-te de mim e manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo para refrigerar a minha língua, porque estou atormentado nesta chama.>> E Abraão disse-lhe: <<- Filho, lembra-te que recebeste bens na tua vida e que Lázaro não teve senão males; agora pois este é consolado e tu atormentado.>>
Jesus nos diz claramente, que o que damos a um pobre, a Ele o damos, e o que recusamos um pobre, a Ele o recusamos. << Quando aparecermos no Juízo então dirá Deus àqueles que hão de estar à esquerda: << -Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o diabo e para os seus anjos. Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; era hóspede, e não me recolhestes; estava nu e não me cobristes; enfermo e no cárcere e não me visitastes.>>
Então lhe responderão eles dizendo: << - Senhor, quando é que Te vimos faminto ou
sequioso ou hóspede ou nu ou enfermo ou no cárcere e não te assistimos?>> Então lhes tornará dizendo: <<- Em verdade vos digo, quantas vezes deixastes de o fazer a um destes mais pequenos, a mim o deixastes de fazer.>>
E irão estes para o suplicio eterno, e os justos para a vida eterna.
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