Contudo, o enorme peso e o cansaço atroz, unidos ao suor de Sangue, haviam-Me atingido de tal modo que, ao procurar Meus Apóstolos, Eu Me senti tremendamente fatigado.
Pedro, João, Tiago! Onde estais que não vos vejo alertas? Despertai! Vede Meu rosto, vede como treme Meu corpo nesta perturbação que experimento! Por que dormis? Despertai e orai Comigo, porque suei Sangue por vós!
Pedro, discípulo eleito, não te importa Minha Paixão? Tiago, a ti te dei tanta preferência: olha para Mim e lembra-te de Mim! E tu, João, porque te deixas cair no sono com os outros? Tu podes aguentar mais que eles. Não durmas, vela e ora Comigo!
Eis aqui o que consegui: buscando consolo, encontrei amargo desconsolo. Nem sequer eles estão Comigo. Aonde mais irei? É verdade, Meu Pai Me dá somente o que Eu soube pedir-Lhe, a fim de que o Juízo de toda a humanidade caísse sobre Mim. Meu Pai, ajuda-Me! Tu podes tudo, ajuda-Me!
Voltei a orar como um homem para quem se acabaram todas as esperanças e que busca do alto compreensão e consolo. Mas, que podia fazer Meu Pai se Eu havia escolhido livremente pagar por tudo? Minha escolha não havia mudado. No entanto, a resistência natural havia chegado a um grau tão excessivo, que Minha humanidade estava esmagada. Novamente, caí com o rosto em terra pela vergonha de todos os vossos pecados; de novo pedi a Meu Pai que afastasse de Mim aquele Cálice. Mas Ele Me respondeu que, se Eu não o bebesse, seria como se não tivesse vindo ao mundo; e que Me consolasse, porque muitas criaturas participariam de Minhas agonias no horto. Respondi: Pai, não se faça Minha vontade mas a Tua. Este Anjo Me assegurou
Teu amor e a breve alegria que Me enviaste fez boa obra até em Minha resistência natural. Dá-Me Minhas criaturas, as que redimi. Toma-as Tu mesmo, porque por Ti Eu aceito isto. Quero ver-Te contente, ofereço-Te todos os Meus sofrimentos e Minha imutável vontade que, na verdade, não está em desacordo com a Tua, porque sempre fomos uma só coisa. Pai, estou destroçado, mas assim Nosso amor será conhecido. Faça-se a Tua Vontade, não a Minha!
Voltei a despertar os Discípulos, mas os raios da Divina Justiça haviam deixado em Mim sulcos indeléveis. Encheram-se de espanto ao ver-Me fora do normal e quem mais sofreu foi João. Eu, mudo. eles, aturdidos. Somente Pedro teve coragem de falar. Pobre Pedro, se soubesse que uma parte de Minha agitação havia sido desencadeada por ele!
Eu havia levado Meus três amigos para que Me ajudassem, compartilhando de Minha angústia. Para que fizessem oração Comigo. Para descansar neles, em seu amor. Como descrever o que senti quando os vi adormecidos?
Ainda hoje, o quanto sofre Meu Coração; e, querendo encontrar alívio em Minhas almas, vou a elas e as encontro adormecidas. Mais de uma vez, quando quis despertá-las e tirá-las de si mesmas, de suas preocupações, respondem-Me, se não com palavras, com obras: "agora não posso"; "estou muito cansada"; "tenho muito o que fazer;" "isto me prejudica a saúde"; "preciso de um tempo"; "quero um pouco de paz."
Insisto e digo suavemente a essa alma: Não temas; se deixas esse descanso por Mim, Eu te recompensarei. Vem orar Comigo, apenas uma hora! Olha que preciso de ti neste momento! Se te detiveres, ficará tarde para ti? Quantas vezes ouço a mesma resposta!
Pobre alma, não pôde velar uma hora Comigo. Dentro em pouco, virei e não Me ouvirás, porque estarás dormindo. Quisera dar-te a Graça mas, como dormes, não poderás recebê-la e, quem te assegura que terás força para despertar depois? É bem possível que, privada de alimento, debilite-se tua alma e não possas sair dessa letargia.
A muitas almas a morte surpreendeu durante um profundo sono e, onde e como despertaram?
Almas queridas, desejo ensinar-vos também o quão inútil e vão é querer buscar alívio nas criaturas. Quantas vezes estão adormecidas e, em lugar de encontrar o alívio que vou buscar nelas, encontro amargura, porque não correspondem a Nossos desejos, nem a Nosso amor.
Quando orei a Meu Pai e pedi ajuda, Minha alma triste e desamparada padecia angústias de morte. Senti-Me angustiado com o peso das mais negras ingratidões.
O Sangue que brotava de todos os poros de Meu Corpo, e que dentro em pouco sairia de todos os Meus ferimentos, seria inútil para o grande número de almas que se perderiam. Muitíssimas Me ofenderiam e muitas não Me conheceriam! Depois derramaria Meu Sangue por todos e Meus méritos seriam aplicados a cada um deles. Sangue Divino! Méritos infinitos! E, ainda assim, inúteis para tantas e tantas almas.
Mas então, já ia ao encontro de outras coisas e Minha vontade estava inclinada ao cumprimento de Minha Paixão.
Homens: se Eu sofri, não foi certamente sem fruto e tampouco sem motivo. O fruto que obtive foi a Glória e o Amor. Cabe agora a vós, com Minha ajuda, demonstrar-Me que apreciais Minha obra.
Jamais Me canso! Vinde a Mim! Vinde a Quem vibra de amor por vós e que somente sabe vos dar o verdadeiro amor, que reina no Céu e que vos transforma já na terra.
Almas que provais de Minha sede: bebei em Meu Cálice amargo e glorioso, porque vos digo que algumas gotas deste Cálice, o Pai quer reservar justamente para vós. Pensai que estas poucas gotas Me foram tiradas e portanto, se credes, dizei-Me que não as quereis. Eu não pus limites e nem vós deveis pôr. Eu fui abatido sem piedade; vós deveis, por amor, deixar que Eu abata vosso amor-próprio.
Sou Eu Quem obra em vós, assim como Meu Pai obrou em Mim, no Getsêmani.
Eu sou Aquele que faço sofrer para que um dia tenhais que alegrar-vos. Sede dóceis por um tempo; sede dóceis à Minha imitação, porque isto vos ajuda muito e Me compraz muito. Não perdereis nada; ao contrário: obterão o amor. Como poderia, com efeito, permitir que Meus amados sofram perdas reais, enquanto pretendem demonstrar-Me amor?
Eu vos aguardo. Estou sempre à espera; não Me cansarei. Vinde a Mim; vinde assim como sois. Isso não tem importância, contanto que venhais. Então vereis que adornarei vossa fronte com aquelas gotas de Sangue que derramei no Getsêmani, porque essas gotas são vossas, se as quiserdes. Vem, Alma, vem a Jesus que te chama.
Eu disse: Meu Pai. Não disse: Meu Deus; é que quero ensinar-vos que, quando vosso coração sofrer mais, deveis dizer: "meu Pai", e pedir-Lhe alívio. Exponde-Lhe vossos sofrimentos, vossos temores e, com gemidos, recordai-Lhe que sois Seus filhos. Dizei-Lhe que vossa alma não pode mais! Pedi com confiança de filhos e esperai, que vosso Pai vos aliviará e vos dará a força necessária para passar essa tribulação vossa e das almas que vos estão confiadas.
Este é o Cálice que aceitei e apurei até à última gota. Tudo para ensinar-vos, filhos queridos, a não voltar a crer que os sofrimentos são inúteis. Se não tiverdes sucesso sempre, submetei vosso juízo e deixai que a Vontade Divina se cumpra em vós.
Eu não voltei atrás. Ao contrário, sabendo que era no Horto onde iriam Me prender, permaneci ali, não quis fugir de Meus inimigos.
Minha filha, deixa que Meu Sangue regue e fortaleça esta noite, a raiz de tua pequenez.
"A Paixão" - Revelações de Jesus a Catalina Rivas
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