Guarda do Coração
- Conteúdos Católicos
- 27 de jun.
- 5 min de leitura
Por ser hoje o dia dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, meditaremos um texto como podemos assemelhar o nosso coração ao de Jesus e que para isso é fundamental ter pureza no coração, lutando e sofrendo à cada dia para somente descansarmos no precioso Coração de Deus, onde temos TUDO e não existe quem não O queira encontrar, pois também inconscientemente há aqueles que O buscam sem O encontrarem, pois ainda não observam e não praticam a guarda do coração.
Desejo que escutes dos lábios desse grande santo da Igreja, que é Santo Agostinho, a confissão da feliz experiência do seu grande coração e da sua mente lúcida: «Fizeste-nos, Senhor, para Ti, e o nosso coração está inquieto enquanto não descansar em Ti». Este santo, cuja vida sem dúvida conheces, percorreu com sede de verdade e de amor muitos caminhos da terra.
E da sua alma grande e nobre, depois de tantas experiências dolorosas, deixou escapar o grito que te referi acima e que é uma verdadeira confissão. O seu coração inquieto e rico procurava
felicidade e descanso, e, depois de muitas tentativas inúteis, encontrou tudo encontrando a Deus.
Esta inquietação, que todos trazemos dentro de nós, tem de ser pacificada, acalmada; este desejo ardente, que sentimos no íntimo, tem de ser satisfeito. Enquanto essa inquietação não for pacificada, e esse desejo ardente satisfeito, o coração do homem anela, sofre e procura. A história de cada homem é a história de um peregrino, de um viandante que procura a felicidade.
Todos os homens, alguns conscientemente, outros - a maioria -inconscientemente, procuram a Deus. Por isso, meu irmão, o mundo
divide-se em duas grandes partes: o das pessoas que amam a Deus com todo o coração, porque O encontraram, e o das almas que O procuram com todo o coração, mas ainda não O encontraram. Aos primeiros, o Senhor ordena: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração» e aos segundos, promete: «Procurai e encontrareis». Pergunta-te, meu irmão, a qual das duas partes pertences, para saberes o que deves fazer. E não te esqueças de que, se vês ou sentes a falta de alguma coisa, o que na realidade te falta é Deus Nosso Senhor, que ainda não se encontra presente na tua vida ou que se não encontra com a plenitude devida.
Quero recordar-te uma verdade muito simples, uma verdade que é a base de todas as considerações feitas até agora. O coração do homem, todos os corações, inclusive os corações das almas consagradas a Deus, foram criados para a felicidade e não para a mortificação, para a posse e não para a renúncia. E esta exigência
de felicidade e de posse é já uma realidade preciosa aqui mesmo na Terra: uma realidade preciosa e bela que, para se manifestar, não espera que entremos no Paraíso. Se o coração humano foi criado para a felicidade – felicidade que deve começar aqui mesmo, na Terra – e a felicidade somente se encontra em Deus, deves admitir que o caminho que a ela conduz não pode ser senão o da guarda do coração.
A ciência da guarda do coração é feita de ordem e de luta, de defesa e de ataque, de renúncia e de sofrimento; mas tudo está ordenado para a felicidade e a posse. Guardar o coração quer dizer conservá-lo para Deus, viver de modo que o nosso coração seja o Seu reino, que nele existam todos os amores que se devem encontrar em consequência do nosso estado e da nossa condição, mas que todos estejam harmonicamente fundidos no amor de Deus e para ele ordenados. Guardar o coração significa também amar com pureza e paixão aqueles a quem devemos amar, e excluir ao mesmo tempo os ciúmes, as invejas e as inquietações, que são
causas certas de desordem no amor. A guarda do coração significa sempre ordem no amor.
A ciência da guarda do coração ensina o cristão a penetrar na profundidade da alma para descobrir os seus movimentos e tendências. Como são poucas as pessoas que têm a coragem de olhar com olhos sinceros para essa fecunda e escondida fonte da vida humana que é o coração! Quanta malícia e quanta grandeza vibram escondidas no coração humano! Se experimentarmos enfrentar o nosso coração, não tardaremos a descobrir que Deus, a natureza e o demónio são os três eternos protagonistas do combate espiritual que diariamente se trava nele. E comprovaremos perfei-
tamente como as batalhas de Deus se vencem e se perdem no coração.
Compreenderemos então, em toda a sua profundidade, a censura dirigida por Cristo aos fariseus: «Este povo honra-Me com os lábios, mas tem o coração longe de Mim». O Senhor, que ama os puros de coração e que quer instaurar o Seu reino nos corações, não pode aceitar semelhante serviço hipócrita e puramente formal.
Uma alma habituada à vigilância do coração cai na conta de que a maior parte das suas ações são exclusivamente naturais ou um misto
de natureza e de graça: pode comprovar, com pena e dor, que raramente realiza ações derivadas por completo da graça e perfeitamente sobrenaturais. O carácter sobrenatural de uma ação é continuamente ameaçado de todos os lados: no começo, no meio e no fim.
É por isso que estas almas fazem da guarda do coração uma vigilância contínua da sua própria intimidade, uma presença em todas as suas ações no momento exato em que as realizam.
Imaginando o coração como um campo de batalha, podemos dizer que esta ciência ensina a viver permanentemente como sentinelas nas linhas avançadas.
É verdade que o caminho não é fácil, mas quando o coração atinge a purificação completa, Deus Nosso Senhor, com a Sua presença
e o Seu amor, ocupa a alma e todas as suas potências: memória, inteligência, vontade. É deste modo que a pureza do coração conduz à união com Deus, união a que normalmente não conduzem os outros caminhos.
Uma vez alcançada a pureza do coração, a alma pode facilmente praticar todas as virtudes que as circunstâncias da vida lhe exigirem; e relativamente às outras virtudes que não tiver ocasião de praticar, possuirá igualmente a sua alma, o seu espírito e, por assim dizer, a sua essência; e é o que Deus Nosso Senhor deseja.
Na escola do coração podemos aprender, num instante, mais coisas do que nos poderiam ensinar, num século, os mestres da Terra. Sem a guarda do coração, por mais que nos esforcemos, nunca chegaremos à santidade; mas com ela, e sem outras ações externas, muitas almas se santificaram. E, por outro lado, meu amigo, é este o caminho que conduz à felicidade, ao descanso sereno e completo do coração em Deus.
Texto de Salvatore Canals
Introdução de Claudia Pimentel dos Conteúdos Católicos
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