A santidade Cristã consiste nisso:
1. Resolver se tornar um santo: "Se alguém quiser ser meu seguidor;"
2. Negação de si mesmo: "Renuncie a si mesmo;"
3. Sofrimento: "Tome sua cruz;"
4. Agir: "Siga-me."
Se alguém quiser me seguir; "Se alguém," diz Nosso Senhor, apontando o pequeno número dos escolhidos desejando conformar-se com Cristo crucificado carregando sua cruz. Seu número é tão pequeno que nós seríamos confundidos se nós o conhecêssemos. É tão pequeno que dificilmente há um em dez mil, como tem sido revelado por vários santos, incluindo São Simão Estelito (como é relatado pelo Abade Nilo), São Basílio, São Efraim e outros. É tão pequeno que, para reuni-los, Deus teria que convocá-los um a um como fez através de Seu profeta: "Vocês serão reunidos um a um;" um de seu país, um daquela província.
"Se alguém quiser"
Se alguém tiver um desejo genuíno, uma determinação, não estimulada pela natureza, hábito, amor próprio, interesse próprio, ou respeito humano, mas pela graça do Espírito Santo totalmente conquistada, que não é dada a qualquer um: "Não é dado a todos os homens conhecer seu mistério." Em verdade, somente umas poucas pessoas têm o conhecimento de como sobreviver ao mistério da Cruz na vida diária. Para um homem subir o Monte do Calvário e permitir ser pregado à cruz com Cristo no meio de seu próprio povo, deve ser corajoso, heroico, resoluto; alguém que é íntimo de Deus, e trata com indiferença o mundo e o demônio, seu próprio corpo e seus próprios desejos; alguém que é determinado a deixar todas as coisas, a tomar para si todas as coisas, e sofrer todas as coisas por Cristo. Vocês devem compreender, meus queridos Amigos da Cruz, que se não houver alguém entre vós com tal determinação, este alguém está andando somente com um pé, voando com apenas uma asa.
Ele não é digno de ser alguém de Sua companhia, posto que ele não seja digno de ser chamado um Amigo da Cruz, que nós devemos, como Jesus, amar "com uma mente rica e um coração desejoso." Só precisamos de um membro com meio coração para corromper o grupo todo, como um tolo repulsivo. Se um tal entrar em seu aprisco através da porta má do mundo, então, em nome de Cristo crucificado, expulse-o como você faria com um lobo do rebanho.
"Se alguém quiser ser um seguidor meu"
Se alguém quiser me seguir que, assim se humilhe e se esvazie, e que chegue a parecer um verme e não um homem; comigo, que não vim ao mundo senão para abraçar a cruz, aqui estou; para preparar meu coração, para amar a sabedoria desde minha juventude, para suspirar por ela em todos os dias da minha vida, para levá-la alegremente, preferindo-a a todas as alegrias e deleites que o céu e a terra possam oferecer, e não se contentar plenamente até morrer em seu divino abraço.
"Renuncie a si mesmo"
Se alguém, portanto, quiser me seguir tão humilhado e crucificado, deve se gloriar, como eu, somente na pobreza, humilhações e sofrimentos de minha Cruz: "Renuncie a si mesmo."
Excluídos estão da companhia dos Amigos da Cruz o sábio mundano, os intelectuais e os
céticos vinculados as suas próprias ideias e inflados com seus próprios talentos. Longe de vocês aqueles tagarelas sem fim que fazem um grande espetáculo, mas não produzem nada a não ser orgulho. Longe de vocês aqueles assim chamados devotos Católicos que em seu orgulho exibem a auto suficiência do orgulhoso Lúcifer em todo lugar que vão, dizendo, "Eu não sou como o resto dos homens;" que não podem sofrer, estando culpados sem darem desculpa, serem atacados sem responderem de volta, serem humilhados sem exaltarem a si mesmos.
Sejam cuidadosos para não admitirem no interior de sua sociedade aquelas pessoas delicadas e sensíveis que ficam com medo da mais leve picada de alfinete, que gritam e queixam-se à mínima dor, que não sabem nada do vestuário, da disciplina ou outros instrumentos de penitência, e que misturam-se com suas devoções modernas, uma mais refinada exigência e uma mais observada carência de mortificação.
"Tome sua cruz," aquela que é dele. Que o homem (ou mulher), de modo tão extraordinário, "muito além do preço de pérolas", tome sua cruz alegremente, abrace-a com amor, e carregue-a corajosamente em seus ombros, sua própria cruz, e não aquela de um outro - sua própria cruz que eu, em minha sabedoria, designei para ele em todos detalhes de número, medida e peso; sua própria cruz que eu moldei com minhas próprias mãos e com grande exatidão com relação às suas quatro dimensões: comprimento, largura, espessura e profundidade; sua própria cruz, traçada por minha mão com exatidão; sua própria cruz, que é o maior presente que eu posso conceder aos meus escolhidos na terra; sua própria cruz, cuja espessura é feita à custa da perda de posses, humilhações, desprezo, sofrimentos, enfermidades e experiências espirituais, que vêm diariamente até sua morte em conformidade com minha providência; sua própria cruz, cujo comprimento consiste de um certo período de dias ou meses sofrendo calúnias, ou vivendo como um doente acamado, ou sendo forçado a pedir, ou sofrer pelas tentações, secura, desolação, e outras experiências interiores; sua própria cruz, cuja largura é moldada sobre as mais ásperas e amargas circunstâncias produzidas por parentes, amigos, servos; sua própria cruz, cuja profundidade é moldada sobre as experiências escondidas que nele deveriam ser infligidas sem capacidade de encontrar qualquer conforto em outras pessoas, porque elas também, sob minha direção, afastar-se-ão dele e se reunirão comigo para fazê-lo sofrer.
"Tome sua cruz"
"Tome a," significa carregar sua cruz e não arrastá-la, ou livrar-se dela, ou diminuir seu peso, ou escondê-la. Em vez disso. venha suspendê-la no alto e carregá-la sem impaciência ou aborrecimento, sem reclamação intencional ou resmungo, sem hesitação ou encobrimento, sem vergonha ou respeito humano. "Tome-a" e ajuste-a em sua fronte, dizendo com São Paulo: "A única coisa que eu posso ostentar a respeito é a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo."
Carregue-a em seus ombros como Nosso Senhor, que tomara se torne a fonte de suas vitórias e o espectro de seu poder: "O domínio é colocado sob seus ombros." Ajuste-a em seu coração, onde, tomara, como a sarça ardente de Moisés, queime dia e noite com o puro amor de Deus sem ser consumida!
"A cruz": Carregue, porque nada é tão necessário, tão benéfico, tão agradável, ou tão
glorioso como sofrer algo por Jesus Cristo.
Queridos Amigos da Cruz, nós somos todos pecadores; não há ninguém entre nós que não tenha merecido o inferno, e eu muito mais do que qualquer um. Nossos pecados devem ser punidos ou nesse mundo ou no próximo. Se nós sofremos por eles agora, nós não deveríamos sofrer por eles depois da morte. Se nós, de bom grado, aceitamos o castigo por eles, essa punição será um ato do amor de Deus; porque é a misericórdia que sustenta poder e punições nesse mundo, e não a estrita justiça. Esse castigo será leve e temporário, acompanhado pela consolação e mérito, e seguido pelas recompensas tanto aqui quanto na eternidade.
Mas se o castigo devido por nossos pecados é adiado até o mundo vindouro, então será a justiça vingadora de Deus que oferece tudo ao fogo e à espada, que infligirá o castigo, um terrível e indescritível castigo: "Quem compreende o poder de sua cólera?" Julgamento sem misericórdia, sem reparação, sem mérito, sem limite e sem fim. Sim, sem fim. Esse pecado grave de um momento que você cometeu, esse mau pensamento voluntário que escapou ao seu cuidado, essa palavra que se arrastou com o vento, essa ação diminuta que violentou a lei de Deus serão castigados pela eternidade, seja com Deus ou sem Deus, na companhia dos demônios no inferno, sem que esse Deus vingador tenha piedade de seus espantosos tormentos, em seus soluços e lágrimas, violentos o suficiente para lascar pedras. Padecer eternamente, sem mérito algum, sem misericórdia e sem fim.
Nós não pensamos nisso, meus queridos irmãos e irmãs, quando nós havemos de sofrer alguma experiência nesse mundo? Quão sortudos somos nós para sermos capazes de mudar um castigo eterno e inútil por outro passageiro e transitório somente por tolerar nossa cruz com paciência! Quantas de nossas dívidas ainda não estão pagas! Quantos pecados nós cometemos e que, apesar de uma confissão sincera e uma contrição profunda, nós havemos de sofrer no purgatório por vários anos, simplesmente porque nesse mundo nós nos contentamos com umas poucas leves penitências!
"Carta Circular aos Amigos da Cruz" de São Luís de Montfort
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