Rezam com incrível fervor e zelo por aqueles que os auxiliam com sufrágios, e quando chegam ao céu, prostradas diante de Deus, imploram incessantemente graças e favores para os seus amigos da Terra.
Enquanto estão no Purgatório não são propriamente nossas intercessoras, como o são os Santos; no Céu, contudo podem alcançar para nós os maiores favores.
Santa Catarina de Bolonha declarou que, embora tivesse recebido grandes benefícios dos Santos, maiores ainda recebeu por meio das pobres Almas do Purgatório.
"Grandes graças, diz ela, que não recebi dos Santos, recebi por intercessão das Almas do Purgatório, em troca das orações que rezei por elas".
Santo Afonso de Ligório, diz: "Apesar das Almas do Purgatório não poderem ganhar méritos para elas próprias, podem obter muitos e grandes favores para aqueles que rezam por elas na Terra".
É certo que tudo quanto fazemos pelas Almas do Purgatório, elas nos pagam mil por um e sempre ficam sendo as nossas melhores amigas.
Rezam por nós com fervor imenso e Deus, que as ama ternamente, não pode, por assim dizer, resistir ao ardor das suas súplicas. Alcançam-nos os maiores favores, salvam-nos de mil males e perigos, obtêm-nos saúde e prosperidade nos negócios. Na hora da morte vêm ajudar-nos a morrer bem, afastam o demónio do nosso lado, e abreviam notavelmente com suas orações o período que devemos ficar no Purgatório.
UMA AVENTURA NOS APENINOS
De Roma, tinham sido chamados alguns sacerdotes eminentes para que fossem dar informações que ali se necessitavam. Levavam consigo documentos preciosos, o dinheiro necessário para despesas da viagem e também dádivas para o Santo Padre. Eram forçados a atravessar os Apeninos, e como sabiam que aquelas montanhas estavam naquele tempo infestadas de bandidos, tiveram todo o cuidado de escolher um cocheiro honrado.
Antes de partirem para a sua viagem, combinaram pôr-se debaixo da proteção das Almas do Purgatório, rezando de hora a hora um De Profundis.
Pediram em seguida a Luigi, o cocheiro, para que, ao menor sinal de perigo, desse três pancadas no tejadilho do veículo com o cabo do chicote. Todo o dia passou sem novidade, mas quando chegou o crepúsculo, ouviram os sacerdotes as fatídicas pancadas. Três pancadas fortes, caindo a curtos intervalos.
Antes que se pudessem informar do que se estava passando, o cocheiro batera à doida nos animais fazendo-os correr vertiginosamente. Olharam, escutaram, e com grande receio e espanto viram de cada lado da estrada uns doze bandidos, a pequenas
distâncias uns dos outros, com as armas apontadas, prontas a fazer fogo. Mas, coisa extraordinária, pareciam estátuas; nem um se moveu. E a carruagem continuou veloz, encosta abaixo.
Os viajantes tinham-se conservado aparentemente silenciosos, mas no intimo, todos eles rezavam o De Profundis, pondo na intercessão das Almas a sua confiança. Os cavalos estavam brancos de espuma quando, uma hora depois, parou a carruagem.
- Um milagre, exclamou o cocheiro, benzendo-se.
Que Deus e Nossa Senhora sejam para sempre louvados. Digo-lhes, meus Padres, se não estamos todos mortos é devido a um milagre, um milagre estupendo.
Não sei, não posso compreender por que razão estes malvados não fizeram fogo.
- Sim, disse o Superior, foi uma proteção muito especial, especialíssima, da Divina Providência.
Eram terríveis, aqueles bandidos. Só olhar para eles metia medo. Nunca vi piores.
- Nesse caso, logo que os seus cavalos possam andar, o melhor é continuarmos o nosso caminho. Ou parece-lhe que seja necessário mudá-los?
É melhor não se perder tempo. Devem-nos vir no encalço.
- Bem, disse o Superior, amanhã rezaremos Missa em ação de graças e oferecê-la-emos também pelas Almas do Purgatório.
Todos concordaram e o resto da viagem decorreu sem novidade.
Anos volvidos um dos padres que fizera a arriscada jornada e que tinha ficado na Itália, foi chamado à cadeia da terra para confessar um prisioneiro condenado à morte. O guarda, mal o viu, avisou-o logo.
- Vai ver um homem terrível, um dos piores malvados que temos tido aqui. Agora está um pouco mais quebrado; às vezes até parece arrependido dos seus crimes. Espero que o senhor consiga fazê-lo penitente.
O sacerdote visitou o prisioneiro varias vezes.
Este parecia gostar de o ver e conversava muito com ele, mas sempre sobre coisas indiferentes.
Compreendia-se que lhe custava muito a confessar os seus grandes pecados. Era filho de boa família e tivera uma apreciável educação. Quando chegou a certa idade fugiu de casa dos pais e foi para as montanhas, tornando-se um bandido perigoso, em lugar de servir no exército, como os pais tinham planeado.
Para o levar para Deus, o Padre fingia interessar-se por cada uma das suas sanguinárias expedições, mas por fim, acabava sempre por lhe mostrar o mal dessas façanhas. Um dia, com grande surpresa do Sacerdote, o bandido contou-lhe que uma vez ele e
os companheiros tinham sido pagos pela maçonaria para se apoderarem de uma carruagem que devia por ali passar cheia de Padres.
Estavam animados com o belo prémio que iam ganhar, mas sucedera-lhes uma aventura incompreensível. Quando se preparavam para atirar contra a carruagem as mãos ficaram-lhes imobilizadas, entorpecidas. Não houve maneira de cumprir a missão
diabólica que lhes fora dada.
- Ficamos bastante apreensivos, e profundamente impressionados pelo que se tinha passado. Mas depois, o vinho e a cantiga dissiparam o mal estar.
Ficou, porém, sempre em cada um de nós a lembrança desse dia.
O sacerdote contou-lhe então que ele fazia parte do grupo que viajava naquela carruagem, e como todos tinham posto a sua confiança na proteção das Almas do Purgatório, e rezavam um De Profundis a cada hora.
Grande foi o espanto do pobre desgraçado ao ouvir esta notícia. Ficou profundamente comovido e desde aquele momento viu-se nele uma completa transformação de ideias.
Dias depois confessou-se e preparou-se deveras para uma santa morte.
Procuremos rezar também a oração De Profundis ou alguma outra oração pelas alminhas do Purgatório e confiemos que elas também nos ajudarão, pois são gratas de coração ao bem que fazemos por elas.
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