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A perda da salvação é um mal sem remédio


O negócio da salvação eterna é não somente o negócio mais importante, o negócio único; é além disso o negócio irreparável. "Não há falta que se possa comparar à do descuido da salvação eterna" diz Santo Eucherio. Para todos os outros males há remédio. Perdidos os bens, podem-se adquirir outros; perdido o emprego, pode-se obtê-lo de novo; ainda no caso de se perder a vida, contanto que se salve a alma, está tudo reparado. Só o condenado não tem remédio. - Morre-se uma vez; e perdida a alma uma vez, está perdida para sempre: Periisse semel, aeternum et. Só lhe esta gemer eternamente no inferno com os outros infelizes insensatos. Ali o pesar maior que os atormenta, é o pensar uqe para eles acabou o tempo de remediar seus males: Finita est aestas, et nos salvati on sumus - O estio fundou-se e nós não fomos salvos.


Pergunte a esses sábios do mundo, que já estão mergulhados no abismo do fogo, perguntai-lhes que pensam hoje, e se estão contentes por terem feito fortuna na terra, agora que estão condenados a uma prisão eterna. Ouvi o que respondem, gemendo: Ergo erravimus a via veritatis - Assim nos desencaminhamos da estrada da verdade. - Mas para que lhes serve reconhecerem o erro, já que não há mais remédio para a sua eterna condenação?



Qual não seria o pesar de um homem que, tendo podido com pequena despesa acudir ao desabamento de sua casa, a encontrasse um dia em ruínas, e pensasse em sua negligência, quando não havia mais remédio? Muito maior é a pena que os réprobos sentem, pensando que perderam a alma e se condenara por sua própria cupa: A tua perdição, ó Israel; tantummodo in me auxilium tuum - A tua perdição, ó Israel, toda vem de ti; só em mim está o teu auxílio. Ó céus! Qual não será o desprezo de um cristão, no momento em que cair no inferno, quando, vendo-se encerrado nesse lugar de tormentos, refletir na sua desgreça e reconhecer que por toda a eternidade não haverá meio de há reparar! Assim, driá ele, perdi a alma, o paraíso e Deus; perdi tudo para sempre; e como? Por minha própria culpa!



Cum metu et tremore vestram salutem operamini - Com temor e tremor empenhai-vos na obra de vossa salvação. Meu irmão, avivemos a nossa fé, que tanto o inferno como céu são eternos; lembremo-nos que um ou outro nos caberá por sorte. Este grande pensamento nos encherá de medo e nos fará evitar as ocasiões de ofendermos a Deus e empregar os meios necessários para alcançarmos a salvação. Quem não treme pelo temor de se perder, não se salvará. - Façamos sobretudo por adquirir uma devoção verdadeira para com a Santíssima Virgem, e examinemos frequentes vezes se porventura estão ardendo no inferno, por terem deixado de honrar a grande Mãe de Deus!



Ah Senhor, como é possível que, sabendo que pelo pecado me condenava uma eternidade de penas, Vos tenha ofendido tantas vezes e perdido a vossa graça? Sabendo que sois meu Redentor, morto na cruz para minha salvação, como pude voltar-Vos tantas vezes as costas por um desprezível prazer? Meu Senhor, pesa-me sobre todos os males de Vos ter assim ofendido, e quisera morrer de dor. Agora amo-Vos sobre todas as coisas, de hoje em diante sereis o meu único bem, o meu único amor, e antes quero perder tudo, antes que perder mil vezes a vida, do que perder a vossa amizade.



Rogo-Vos, meu Jesus, não me repilais de vossa presença, como bem merecia; tende piedade de um pecador que volta arrependido aos vossos pés e Vos quer amar muito, porque muito Vos ofendeu. Que seria de mim, se me tivesseis deixado morrer quando estava na vossa inimizade? Ó Senhor, já que tivestes tamanha piedade de mim, dai-me força para Vos ser sempre fiel e me santificar. Espero-o pelos vossos merecimentos. Espero-o também pela vossa intercessão, ó grande Mãe de Deus e minha Mãe Maria.




Santo Afonso de Ligório

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