A INFÂNCIA ESPIRITUAL
- Conteúdos Católicos
- 9 de out. de 2024
- 6 min de leitura
Esta nossa situação, no plano salvífico, denominou-se, "Infância Espiritual", atribuindo-se o vocábulo a Sta.Teresinha. Mas o certo é que ela nunca usou esse termo; ele é de Madre Inês (mesmo na edição de Novíssima Verba), ele não é original. Teresinha fala de "seu método", de "seu pequeno caminho". Mas a mensagem doutrinal fica igual. Criança pequena, esforça-se em vão, com suas perninhas curtas, por subir a escada do céu. E todo seu esforço será inútil, até Cristo descer do alto da escada, tomá-la em Seus braços e carregá-la até em cima. É o caso de todos. Não é apenas um dos vários métodos de
santificação. É válido para todos. É a impossibilidade metafísica.
Meses antes de morrer, a santa resumiu sua "mensagem" (NV 6-8-1897): «Permanecer pequeno é reconhecer o seu nada e esperar tudo de Deus. É não se afligir demais com as próprias faltas. Enfim, não pretender fazer fortuna (espiritual: acumular méritos). Não se inquietar por coisa alguma».
«Mesmo na casa do pobre, a criança enquanto é pequena, recebe tudo o que necessita. Mas logo que chega à maioridade, seu pai lhe diz: «agora, vai trabalhar; já podes cuidar de ti». «Precisamente a fim de jamais ouvir isto eu não quis crescer, sentindo-me incapaz de ganhar minha vida, a vida eterna do céu. Permaneci sempre pequena, sem outra preocupação, que a de recolher flores de amor e de sacrifícios e oferecê-las a Deus para Lhe dar prazer».
«Ser pequeno, significa também, não atribuir a si mesmo as virtudes que se praticam, julgando-se capaz de algo, mas sim reconhecer que Deus coloca este tesouro de virtudes na mão do filhinho, para dele se servir quando precisar. Mas o tesouro sempre pertence a Deus».
«Ser pequeno, consiste, enfim, em não desanimar com as próprias faltas, pois as crianças caem muito; são porém pequenas demais para se machucar».
Resumindo o conteúdo teológico:
1. Somos incapazes de santificar-nos com os recursos naturais: boa vontade e esforço.
2. As virtudes que temos são dons de Deus e não conquista nossa.
3. Nem as nossas fraquezas, nem as nossas faltas nos devem desanimar, pois sabemos, e Jesus sabe melhor que nós, que sem Ele, "não vai". Mas sabemos também que a bondade, a liberalidade, a misericórdia de Deus não tem limites; são infinitas com Ele mesmo. E assim, toda honra e toda glória cabe a Deus. Mentirosa a criatura que se julga algo. Autenticidade em tudo e honra a quem de direito.
Eis o segredo do sucesso espiritual. A essa criatura Deus pode dar de olhos fechados Suas graças em profusão. E Deus sente-Se impelido a dar-Se de todo, pela confiança, pela fé em Seu amor e em Sua bondade. É, como foi dito, pegar a Deus pelo Seu lado fraco, pelo carinho confiante. E o amor infinito faz descer sobre esta criatura um oceano que inunda e afoga. Afoga toda a nossa miséria.
Purifica toda a nossa impureza. Inflama o nosso coração. Assim, "Deus é tudo em todos"( 1Cor 15,29).
Sobre esta base do primado da graça de Deus deve-se construir a espiritualidade cristã. Daí sua definição geral de santidade: «Santidade não consiste em tal ou tal prática. Santidade consiste numa disposição de coração, que nos faz humildes e pequenos nos braços de Deus, conscientes de nossa fraqueza, mas confiantes até à audácia na Sua bondade de Pai». (NV. 3-8-1897)
Não se trata de um quietismo barato, "de um dolce far niente" na vida espiritual. Não, explica a santa à Ir. Genoveva (Celina): «É preciso fazer tudo o que está em nosso poder. Dar sem medida, renunciar-nos constantemente; numa palavra, provar nosso amor por todas as boas obras ao nosso alcance. Mas na verdade, como tudo isso é pouca coisa!... e quando tivermos feito tudo quanto cremos dever fazer, é necessário confessar que somos
"servos inúteis" (Lc 17,10), esperando, entretanto, que Deus nos dê de graça tudo o que desejamos. Eis a esperança de todas as pequenas almas que "correm" na vida da infância; digo que correm, e não que "repousam"(Conselhos 63).
Santidade não é sentir-se disposto aos atos mais heroicos de virtude. Não é realizar obras heroicas de apostolado. Não consiste em mortificações físicas sobre-humanas. Comer só um pedaço de pão por dia durante quarenta anos, dormir diariamente apenas duas horas, e
em cima de uma cadeira, e gastar as restantes vinte e duas horas do dia ininterruptamente cuidando dos doentes num grande hospital, e isto até a idade de 70 anos...
Impossível, dentro dos recursos humanos. É Deus quem realiza estas virtudes heroicas.
Santidade é amar a Deus. E nossa tarefa é provar a Jesus, por todos os pequeninos meios ao nosso alcance, este nosso amor por Ele: em pensamentos, em palavras e em pequenos sacrifícios, essas pequenas renúncias do amor próprio na vida cotidiana. Tudo com uma confiança grandiosa e audácia amorosa na bondade de Deus. "O caminho da infância espiritual (o termo é de madre Inês) é o caminho da confiança e do abandono total. Quero ensinar-vos os meios singelos que tão bom resultado têm dado... Obsequiar Jesus com as flores dos pequenos sacrifícios... ganhá-Lo pelo carinho... Foi assim que O conquistei e por isto serei tão bem recebida no céu». (NV. 17.8.1897)
Um precioso texto, numa carta a Celina, já Sóror Genoveva: «Desde que Jesus nos Vê bem convencidos do nosso nada, Ele nos estende a mão. Mas se nós tentamos de novo fazer algo de grande, mesmo sob pretexto de zelo, o bom Jesus nos deixa sozinhas. Corramos ao último lugar; aí ninguém no-lo virá disputar» (Carta: 215).
«Não terei nada para apresentar ao Senhor, na hora da morte. Terei as mãos completamente vazias», lamentava-se sua irmã. Responde: «Encontro-me nas mesmas
condições. E é justamente isto que me alegra. Porque, não tendo nada (como o servo inútil), receberei tudo de Deus»; «Imagino que Nosso Senhor se verá em apuros comigo, pois não tenho obra alguma. Por conseguinte, não poderá premiar-me segundo minhas obras»... «Tenho muitas fraquezas; mas não me aperto com isto. Digo de mim para mim: ai de mim, ainda estou parada no primeiro degrau, como sempre. Sem tristeza, cheia de paz. É tão gostoso reconhecer-se fraca e pequena»... «A esperança cega que tenho em Sua misericórdia, eis meu único tesouro»...
«Antigamente, exigiam-se vítimas puras e sem mancha para satisfazer a justiça divina. Mas agora, vale a lei do amor e o amor escolheu para holocausto a mim, criatura fraca e imperfeita. Porque o amor se abaixa até ao nada e transforma em fogo este nada... Ó Jesus, sou pequenina demais para fazer grandes coisas. Minha loucura consiste em esperar que Teu amor me aceita como vítima... Ó meu bem-amado, Teu passarinho ficará sem for-
ças e sem asas todo o tempo que quiseres. Mas sempre com os olhos fixos em Ti... Virás buscar-me e mergulhar-me no ardente abismo do amor».
Concluímos, com a carta 176: «Só o desejo de ser vítima basta; mas é mister consentir em ficar sempre pobre e sem força. Fiquemos bem longe de tudo o que brilha. Amemos não sentir nada.
Assim, seremos pobres de espírito e Jesus virá buscar-nos e transformar-nos em chama de amor».
Pe. João Betting em sua Obra: "Teologia das Realidades Celestes - Manual de Ascética e Mística"
Vivamos também nós a "Infância Espiritual", onde reconhecemos o nosso nada e a nossa pequenez e esperamos tudo de Deus, nosso Pai.
Tão simples essa via do amor, esse caminho fácil e rápido para nos santificarmos e conquistarmos o Coração do Senhor.
Na realidade de cada um, no cotidiano a ser vivido, com esse empenho e zelo de tudo experienciar e se submeter docilmente à Vontade Divina.
Desde já, façamos como a Santa Teresinha do Menino Jesus que, de dentro do Convento, sem ser a missionária além-fronteiras que desejou ser (Presencialmente na vida dos que necessitavam) agradou o Criador com o seu puro e constante amor por Ele, traçando a via de perfeição no seu dia-a-dia; tão amorosamente e sabiamente vivido na prática do que soube tão bem interpretar para se santificar e já aqui neste mundo, se unir à Deus, para com Ele, viver eternamente na Glória do Céu.
Finalização de Claudia Pimentel dos Conteúdos Católicos
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