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A Cruz em relação a nós

Enquanto espera o grande dia do seu triunfo no Juízo Final, a Sabedoria eterna quer que a Cruz seja a insígnia, a marca e a arma de todos os Seus eleitos.

Ela não reconhece como filho quem não a tiver como Sua insígnia, nem como discípulo quem não trouxer na fronte a Sua marca e sem disso se envergonhar, sem protestar no coração ou com os ombros e sem arrastar ou rejeitar. Ela diz: “Se alguém quer vir após Mim, renegue-se a si mesmo, tome a sua Cruz e siga-Me”.

Ela não aceita como soldado quem não a toma como arma para se defender, para atacar, para abater e esmagar todos os seus inimigos dizendo-lhes: “Soldados, tende confiança: Eu venci o mundo! Eu, o vosso capitão, venci os Meus inimigos pela Cruz, e vós também havereis de vencê-los com o mesmo sinal: “in hoc signo vinces”.


Ela concentrou na Cruz tantos tesouros, tantas graças, tanta vida e alegria que não a dá a conhecer senão aos Seus mais favoritos.

Ela revela frequentemente aos Seus amigos, por exemplo, aos Seus apóstolos, todos os Seus outros segredos, mas não certamente os da Cruz, a não ser que os tenham merecido por uma grande fidelidade e muitas fadigas.

Oh! Como é necessário ser humilde, pequeno, mortificado, interior e desprezado pelo mundo, para se conhecer o mistério da Cruz que, ainda hoje, e não apenas entre os judeus e os pagãos, os maometanos e os heréticos, os sábios do mundo e os maus católicos, mas também entre as pessoas consideradas até muito devotas, continua a ser objeto de escândalo, de loucura, de desprezo e de fuga, e isto, não é especulação, apesar de nunca como hoje se falar e se escrever tanto acerca da beleza e da excelência da Cruz, mas isto é bem real, uma vez que se tem medo, uma vez que se chora, se desculpa e se foge, sempre que seja preciso sofrer qualquer coisa.


Certo dia, contemplando a beleza da Cruz, assim se exprimiu a Sabedoria encarnada num arrebatamento de alegria:


“Eu te bendigo, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelastes aos pequeninos”.


Se o conhecimento do mistério da Cruz é já uma graça tão excelsa, que dizer do júbilo em gozá-la e possuí-la na realidade! Mas, isso é um dom que a Sabedoria eterna concede apenas aos seus maiores amigos, e isso, após muitas preces, desejos e súplicas. Por mais excelente que seja o dom da fé, pelo qual agradamos a Deus, aproximamo-nos Dele e vencemos os Seus inimigos, e sem a qual condenar-nos-íamos, a Cruz é um dom bem maior ainda.


S. Pedro, diz S. Crisóstomo, foi bem mais feliz por ter estado na prisão por Jesus Cristo do que por ter estado na glória do Tabor: sentiu maior glória por ter trazido cadeias a seus pés do que pelas chaves do Paraíso em suas mãos.

E S. Paulo considera também ser maior glória o fato de ser acorrentado pelo Seu Salvador do que ser arrebatado ao terceiro Céu. Deus concedia maior graça aos apóstolos e aos mártires, dando-lhes a Sua Cruz para ser carregada nas humilhações, na pobreza e nos tormentos mais cruéis do que dando-lhes o dom dos milagres e da conversão do mundo inteiro.


Todos aqueles a quem a Sabedoria eterna foi comunicada, desejaram a Cruz, procuraram-na e abraçaram-na e, quando se lhes proporcionava alguma ocasião de sofrer, do fundo do seu coração exclamavam com Santo André: “Ó Cruz amada, há tanto tempo desejada”!


A Cruz é boa e preciosa por uma infinidade de razões:



1_ Porque nos torna semelhantes a Jesus.


2_ Porque nos torna filhos dignos de Deus Pai, membros dignos de Jesus Cristo e templos dignos do Espírito Santo. Deus Pai corrige todos aqueles que adota como filhos. É uma questão de princípio: “O Senhor corrige os que ama, e castiga todos aqueles que reconhece como filhos”.

O Filho aceita como Seus somente aqueles que carregam a Cruz. O Espírito Santo talha e dá polimento a todas as pedras vivas da Jerusalém Celeste, isto é, aos predestinados.


3_ A Cruz é boa porque ilumina a inteligência, dando-lhe mais compreensão do que todos os livros do mundo. “O que não foi posto à prova, pouco sabe”.


4_ A Cruz, quando carregada dignamente, torna-se causa, alimento e prova de amor. Ela acende o fogo do amor divino no coração, desapegando-se das criaturas; conserva e aumenta esse amor e, assim como a lenha alimenta o fogo, assim também a Cruz é alimento do amor. Ela é a prova mais segura do amor de Deus, já que foi essa, a prova que o próprio Deus usou, para provar, o Seu amor para com o homem; e é ainda a prova que Deus nos pede para Lhe testemunhar que O amamos.


5_ A Cruz é boa porque é uma abundante de toda espécie de doçuras e consolações, e faz brotar na alma a alegria, a paz e a graça.


6_ Por último, ela é boa porque prepara, para aquele que a carrega, uma riqueza incomparável de glória eterna.


Se conhecêssemos o valor da Cruz, mandaríamos rezar novenas, como fez S. Pedro de Alcântara, para alcançar essa deliciosa porção do Paraíso. Diríamos, aliás, com Santa Teresa de Ávila: “ou sofrer ou morrer”; ou com Santa Maria Madalena de Pazzi: “não morrer, mas sofrer”; com S. João da Cruz pediríamos apenas a graça de sofrer algo por Jesus: “padecer e ser desprezado por Ti”.


Entre todas as coisas da terra, a única que é estimada no Céu é a Cruz, disse esse Santo, numa aparição após a sua morte, a uma serva de Deus.

E disse Nosso Senhor a um dos Seus servos: “Tenho Cruzes tão preciosas, que são o maior dom que Minha Mães, na Sua onipotência pode obter de Mim para os fiéis servos”.


Ó sábios do mundo! Ó homens ilustres da terra! Vós sois incapazes de entender esta linguagem misteriosa. Vós estais demasiadamente apegados aos prazeres, preocupai-vos excessivamente com as vossas comodidades, apreciais em demasia os bens deste mundo, tendes muito medo dos desprezos e humilhações, enfim, numa palavra, sois muito inimigos da Cruz de Jesus.


É verdade que até estimais e louvais a Cruz, mas em abstrato, na generalidade; mas da vossa, em particular, vós fugis dela o mais que podeis ou a arrastais a contragosto, murmurando, impacientando-vos com ela e queixando-vos.

Faz-me lembrar as vacas que, a contragosto, mugindo, puxavam o carro com a Arca da Aliança, onde se encontrava encerrado o que de mais precioso havia no mundo: “as vacas tomaram diretamente o caminho e seguiam mugindo”.


O número dos néscios e dos infelizes é infinito, diz a Sabedoria, porque infinito é o número daqueles que não conhecem o valor da Cruz e que a carregam a contragosto.

Vós, porém, discípulos verdadeiros da Sabedoria eterna, que passastes por muitas tentações e aflições, que sofreis muitas perseguições por amor à justiça, que sois tratados como a escória do mundo, consolai-vos! Alegrai-vos, rejubilai, já que a Cruz que carregais é um dom precioso que faz inveja aos próprios bem aventurados, uma vez que eles já não podem carrega-la.


Tudo que há de honra, glória e virtude em Deus e no Seu Espírito Santo repousa sobre vós, porque a vossa recompensa é grande no Céu e até sobre a terra, pelas graças espirituais que a Cruz vos obtém.

Bebei amigos de Jesus Cristo, bebei do Seu cálice de amarguras, e tornar-vos-ei cada vez mais amigos Seus. Sofrei com Ele e com Ele sereis glorificados. Sofrei com paciência e, até mesmo, com alegria! Esperai ainda algum tempo e depois, por um átimo de sofrimento, recebereis uma eternidade feliz.


Não vos deixeis enganar: pois, desde o momento que se tornou necessário que a Sabedoria encarnada tivesse de entrar no Céu, passando pela Cruz, também para nós, para lá entrar após Ela, é necessário seguir pelo mesmo caminho.

Seja para qual for o lado para onde te voltares, diz a Imitação de Cristo, encontrarás a Cruz.

Encontrarás a do predestinado, se a aceitares como deves, ou seja, com paciência e alegria, por amor a Deus; ou a do réprobo, se a carregares com impaciência e má vontade como fazem tantos, duplamente infelizes, que serão obrigados a dizer por toda a eternidade, no inferno: trabalhamos e sofremos tanto no mundo e, afinal, eis-nos condenados! Percorremos desertos intransitáveis.


A verdadeira Sabedoria não se encontra na terra nem no coração daqueles que vivem a seu bel prazer. Ela estabeleceu de tal maneira a sua morada na Cruz que, fora dela, não será possível encontra-la algures neste mundo; identificou-se de tal maneira à Cruz que se pode afirmar, em verdade: A Sabedoria é a Cruz e a Cruz é a Sabedoria.



"O amor da Sabedoria eterna" de S. Luís Maria de Grignon Monfort


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