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A Casa de Maria: As visões da Beata Anna Katharina Emmerick


Anna Catharina Emmerich, filha de camponeses pobres, nasceu em Westphalia, na Alemanha, em 8 de Setembro de 1774 e morreu no dia 9 de Fevereiro de 1824 na localidade de Dülmen.

A Revolução Francesa


Ao fim do século XVIII, o continente europeu inteiro foi assolado pelas ondas de embate, causadas pela Revolução Francesa. Thomas Carlyle (1795-1881) a definiu como “a coisa mais espantosa, jamais vista nos tempos” e, seguramente, espantoso era o seu mais óbvio produto derivado, qual seja, o Terror jacobino que desencadeou uma onda de massacres. Inicialmente, foram somente os nobres e alguns cortesãos a subirem sobre as carretas dos condenados à morte que, ruidosamente, avançavam em direção ao patíbulo, em meio a multidões delirantes, caladas, momentaneamente, somente pelo som metálico da lâmina da guilhotina.


Mas, quando o Terror começou a nutrir-se de si próprio, então as cestas começaram a encher-se de cabeças de revolucionários, em número superior ao de contra-revolucionários. Em 1794, a Revolução havia decapitado a si mesma.

Todavia, antes de chegar a esse ponto, ela soltara os cães do ódio que partiram rosnando em cada canto da Europa, perseguindo a tudo e a todos que, mesmo se longinquamente, fossem associados ao Antigo Regime. Isto significa, evidentemente, que a Igreja e o clero se encontravam entre os alvos preferidos. Mas isto não explica, entretanto, por que a fúria anticlerical dos jacobinos se tenha derramado, de modo assim violento, assim venenoso, sobre a Virgem Maria. As imagens de Maria foram removidas das igrejas e queimadas; as esculturas foram estilhaçadas em mil pedaços, entre elas as famosas Madonas Negras das criptas de Mont-Saint-Michel e de Chartres. Tudo aquilo que até então tinha sido considerado sacro, se transformou em objeto de desprezo sacrílego para as multidões difundidas sobre as estradas.


A Concordata de Napoleão com o papa Pio VII, em 1801, pôs fim aos abomináveis excessos da Revolução, porém, mesmo depois de os sonhos napoleônicos do império terem varrido para longe as piores fantasias republicanas, a recaída tóxica do Terror continuou a envenenar o clima no qual as comunidades religiosas foram obrigadas a operar, ainda durante um tempo, em toda a Europa. Uma delas foi o convento agostiniano de Dülmen, uma cidadezinha rural a sudoeste de Münster, na Alemanha.


O início de tudo


Em 1812, todos os monastérios e os conventos da Alemanha ocidental foram fechados e, consequentemente, as religiosas de Dülmen passaram a sobreviver, somente, graças à caridade dos fiéis, dispostos a recebê-las em suas casas. Talvez, a mais difícil de ser acolhida tenha sido a Irmã Anna Katharina Emmerick, uma freira de trinta e oito anos, cujo estado de saúde era tão precário ao ponto de ficar, praticamente, confinada à cama, por longo tempo. Entretanto, mesmo assim, também para ela foi encontrada uma instalação. Ela jamais viria a deixar o leito, somente doze anos mais tarde, com a sua a morte, e em todo aquele tempo o seu quarto estaria, quase constantemente, assediado por pessoas devotas de todas as condições: aristocratas e campesinos, prelados e laicos, letrados e ignorantes, ricos e pobres, jovens e velhos, muitos dos quais percorriam grandes distâncias, apenas para vê-la, pessoalmente. Tudo isso pelo fato de, na noite de 29 de dezembro de 1812 – enquanto os restos da Grande Armada de Napoleão chegavam, aos poucos, na França, deixando para trás as neves da Rússia manchadas do sangue de meio milhão de homens –, a Irmã Anna Katharina ter começado, de repente, a sangrar pelas mãos e pelos pés.

Ela, também, teve numerosas visões que, oitenta anos mais tarde, conduziriam à descoberta da casa sobre a Colina dos Rouxinóis.


Filha de pobres trabalhadores agrícolas, Anna Katharina nasceu em oito de setembro de 1774. Já menina, revelava as duas características que marcariam a sua vida: uma saúde cronicamente frágil e uma fé inabalável. Ainda que o trabalho agrícola a exaurisse, ela encontrava forças para, regularmente, executar a longa e impenitente “Via Crucis” que fora reproduzida fora da cidadezinha. E quando a lida do campo, enfim, começou a ameaçar a sua saúde, ela passou a trabalhar como costureira, impressionando a todos com a sua habilidade de preparar roupas e de rezar, ao mesmo tempo.


Os estigmas


Com o passar dos anos, a sua devoção se fortalece ao ponto de se transformar na determinação de ingressar em um convento, no entanto, ela recebe uma rejeição atrás da outra, tendo em vista não poder apresentar-se com o pequeno dote, pedido, naquele tempo, para uma freira. Ela havia distribuído tudo o que ganhara como costureira, e os conventos eram muito pobres para assumir novos encargos econômicos. Mas isto não fez mais do que aprofundar a sua resolução de consagrar a própria vida a Cristo e à Igreja. Algum tempo mais tarde, aos vinte e quatro anos, Emmerick começou a sentir certos sofrimentos que reproduziam aqueles de Jesus, nas suas últimas horas, tais como feridas sobre o lado esquerdo da testa, causadas por uma coroa de espinhos invisível. Finalmente, aos vinte e oito anos, com a fronte coberta de lesões de origem desconhecida, foi admitida no pequeno convento agostiniano de Dülmen, onde viveria até a supressão das comunidades religiosas em 1812. Então, logo após o Natal de 1812, sucedeu a noite na qual se manifestaram os estigmas.


Os presentes, na referida noite, relataram que, enquanto Anna Katharina rezava, o seu rosto se ruborizava, como se ela tivesse sido acometida por uma febre alta. Depois, inesperadamente, a sua figura se tornava toda luminosa, particularmente, nas mãos e nos pés que surgiam banhados de sangue, como se perfurados por picadas. Ao mesmo tempo, sobre a cintura, apareceu uma sangradura. Aqueles que viram essas coisas, compreensivelmente, foram tomados pelo pânico e buscaram, rapidamente, um médico; mas, aquela situação estava além da capacidade de diagnóstico da ciência médica. A seguir, foram realizadas duas longas e penosas investigações: uma da parte da comissão eclesiástica e outra de representantes civis. Entretanto, ambos chegaram à conclusão que, até onde era possível averiguar, os estigmas eram absolutamente autênticos.


As visões da Casa de Nossa Senhora


Nos restantes doze anos de sua vida, Irmã Anna Katharina permaneceu presa ao leito, constantemente sofrendo, sangrando em ataduras e tendo visões de tal intensidade e nitidez que despertaram a atenção de pessoas, bem além da diocese de Münster. Uma delas foi Clemens Von Brentano (1778-1842), o poeta romântico alemão que chega à cabeceira da sua cama em 1818, onde retornaria muitas vezes, até a morte da religiosa em 1824. Ele passa a transcrever histórias das suas visões, submetendo-as, depois, à sua aprovação. Essas transcrições foram publicadas em torno da metade do século (em particular, a Vita della santa Vergine Maria, em 1852), ou seja, trinta e quatro anos antes de distintos pesquisadores se dirigirem àquela que os Turcos chamavam de Meryem Ana Evi, a “Casa da Mãe Maria”.


As visões registradas por Brentano ocupam diversos volumes e abrangem, principalmente, eventos da vida de Cristo e de Maria. Somente algumas páginas são dedicadas ao período conclusivo da vida de Maria em Éfeso e não se reportam aos eventos em ordem lógica e, nem ao menos, cronológica, tendendo a serem circulares, ao invés de lineares, criando e, depois, clareando as ambigüidades. Relato, então, omitindo detalhes pouco significativos, as visões de Anna Katharina Emmerick, alusivas ao período final da vida de Maria em Éfeso.

Da Obra "A Casa de Maria, Uma história maravilhosa: Como foi descoberta em Éfeso a casa da Virgem Maria" de Donald Carroll

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