Tratado da oração
1.- Eu não quis esconder-te, Minha filha muito amada, do erro onde caem frequentemente os homens que deleitam-se no pouco bem que fazem em tempo de consolação e aquele dos Meus servidores que agarram-se tanto às doçuras espirituais, que não conseguem mais conhecer a verdade do Meu amor e discernir onde se encontra o pecado. Disse-te da cilada que o demônio lhes estende pelas suas faltas, caso não sigam pelo caminho que lhes ensinei. Assim tu e os outros servidores, deveis caminhar pela virtude por amor por Mim, e não por outro motivo.
2.- Estes erros e seus perigos são destinados para aqueles cujo amor é imperfeito, ou seja àqueles que amam mais os benefícios do que a Mim. Mas, a alma que entrou no seu próprio conhecimento, na prática da oração perfeita, ao rejeitar a imperfeição do amor e da oração como já te expliquei, esta alma recebe-Me pelo amor; ela esforça-se de atrair a ela o leite da doçura no seio da doutrina de Jesus crucificado.
3.- Ela chegou ao terceiro estado, quer dizer ao amor terno e filial; ela não possui um amor mercenário, mas ela age Comigo como um amigo que age com seu amigo que lhe dá um presente: ele não olha pelo presente, mas no coração daquele que dá, e ele gosta do presente pelo amor que tem pelo amigo. Assim faz a alma que atingiu ao amor perfeito. Quando ela recebe Meus benefícios e minhas graças, ela não para no presente, mas sua inteligência contempla a grandeza da Minha caridade oferecida.
4.- Para que a alma não possa desculpar-se de não reagir assim, eu quis unir o benefício ao benfeitor, ao unir a natureza humana à natureza divina, quando vos dei o Verbo, Meu Filho único, que é igual a Mim, e Eu a Ele. Nesta união podeis ver o presente sem ver aquele que o faz. Entendeis então com qual amor deveis amar o dom e o dador. Se fazeis isto, tereis um amor, não mercenário, mas puro e generoso, como aquelas que se isolam no conhecimento de si próprio.
DO MEIO UTILIZADO PELA ALMA PARA ATINGIR O AMOR PURO E GENEROSO
1.- Quando a alma entrou no caminho da perfeição, passando pela doutrina - de Jesus crucificado, com o amor autentico da virtude e do ódio pelo vício, quando ela chegou pela santa perseverança na célula do conhecimento de si próprio, ela ai clausura-se nas vigílias e na oração continuada, e ela separa-se da conversação dos homens. Porque se isola? Ela isola-se com medo causado pela visão da sua imperfeição, e pelo desejo de chegar a obter o amor generoso e perfeito. Ela vê e compreende que não se pode chegar por outro meio, e ela espera com fé viva a minha vinda para a graça nela. Em que se reconhece esta fé viva? Na perseverança da virtude e na santa oração, alguma coisa que aconteça. A menos que seja por obediência ou por caridade, nunca devereis abandonar a oração.
2.- Muitas vezes o demónio obceca mais a alma de suas tentações durante o tempo destinado a oração que durante o tempo que não esta em outra atividade: ele queria inspirar-lhe o tédio pela oração. Por vezes ele diz: esta oração não lhe serve a nada, porque não deve estar tão distraída. O demónio esforça-se por este meio de a confundir e, de desgostar a alma do exercício da oração, porque a oração é uma arma com a qual a alma se defende contra todos seus inimigos, quando ela a pega com a mão de amor e o braço do livre arbítrio, e que ela combate à luz da santa fé. (103)
Diálogos de Santa Catarina de Sena
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