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É necessário reprimir a cólera

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    Conteúdos Católicos
  • 5 de mai.
  • 6 min de leitura

Diz Sto. Ambrósio que a cólera é uma paixão que se deve prevenir ou reprimir. Quem se sente inclinado a este vício deve ser diligente em fugir às ocasiões; e, se tiver de encontrar-se nelas, deve estar na firme resolução de se calar, ou de responder com doçura, e prevenir-se com a oração, pedindo ao Senhor a força para resistir e conter-se. Alguns, para se desculparem, dizem que tal pessoal é insuportável, que ninguém a satisfaz... A virtude da doçura, observa S. João Crisóstomo, não consiste em usar de doçura com os doces; exige que se seja doce com os que não sabem o que é a doçura. Em especial, quando o próximo está irritado, não há melhor meio para o acalmar, do que responder-lhe com doçura: Uma resposta doce quebrando a cólera.


Assim como a água apaga o fogo, assim, diz S. João Crisóstomo, uma resposta doce abranda a cólera dum nosso irmão, por muito exasperado que ele esteja. Isto está de acordo com o dizer do Eclesiástico: «A linguagem doce concilia muitos amigos, e pacifica os inimigos». E o santo Doutor acrescenta: «Nem o fogo se apaga com fogo, nem o furor com furor». Mesmo com os pecadores mais pervertidos, obstinados e insolentes, é necessário que nós, os padres, usemos da máxima doçura possível, para os atrairmos a Deus. Não estais constituídos juízes de crimes, para castigardes,

diz Hugo de S. Vitor, mas de enfermos para os curardes.


Quando nos sentimos agitados por algum impulso de cólera, o único

remédio é calarmo-nos e pedir ao Senhor que nos dê força para não respondermos. O melhor remédio para a cólera, diz Sêneca, é esperar. De fato, se falarmos no fogo da paixão, o que dissermos nos parecerá justo, embora seja de todo o ponto injusto e censurável; porque a paixão é como um véu diante dos olhos; impede-nos de ver o alcance das nossas palavras, conforme o pensamento de S. Bernardo: «O olho perturbado pela cólera vê claro».

Por vezes nos parece justo, necessário até, reprimir a audácia dum in-

solvente, dum inferior, por exemplo, que nos falta ao respeito. Então, sem dúvida, rigorosamente falando, conviria entrar numa cólera moderada, como ensina o Doutor angélico, mas seria necessário que isso se fizesse sem pecar, como diz Davi: «Irai-vos, mas não pequeis». Eis a dificuldade. É muito arriscado o estado de cólera: é como que montar um cavalo fogoso, que não obedece ao freio; não se sabe até onde ele nos levará. Por isso mesmo S. Francisco de Sales nos assegura que é sempre conveniente reprimir os movimentos da cólera, por mais justa que nos pareça a causa dela: «Mais vale, acrescenta ele, que digam de vós que nunca vos irais, do que dizerem que vos irais com justiça». E, segundo Sto. Agostinho, desde que se deixa entrar a cólera na alma, com dificuldade se consegue lançá-la fora; por isso nos aconselha que de todo lhe fechemos a porta, logo que ela se apresente. De mais, se o repreendido vir que o seu superior está irado, pouco proveito

colherá da correção, olhando-a antes como efeito da cólera que da caridade.

Uma repreensão feita com doçura e rosto sereno é mais útil que mil censuras, por justas que sejam, em estado de arrebatamento.

De resto, não exige a virtude da doçura que, para usarmos de indulgência e não desagradarmos ao próximo, deixemos de repreender com severidade, quando é necessário; não seria isso virtude, antes uma falta, uma negligência indesculpável. Ai daquele, diz o profeta que reclina os pecadores em almofadas, para que adormeçam em paz num sono mortal! Esta complacência culpável, diz Sto. Agostinho, não é caridade nem doçura, mas negligência.


Proceder assim é ser cruel para com essas pobres almas, que se

perdem à falta de quem as avise da sua desgraça. Ao tempo de ser operado, observa S. Cipriano, queixa-se um doente do cirurgião; mas depois de curado dá-lhe os seus agradecimentos. Quer pois a doçura que, quando o dever nos obriga a repreender o próximo, o façamos sempre com firmeza, sim, mas também com mansidão. Para chegarmos a este resultado, o Apóstolo nos previne de que, antes de repreendermos os outros, consideremos os nossos próprios defeitos, para concebermos pelo próximo toda a compaixão, que temos para conosco: «Meus irmãos, se algum pecar, vós que sois

espirituais repreendei-o com espírito de doçura, atendendo a vós mesmos, para não serdes tentados». No dizer de Paulo de Blois, é uma coisa vergonhosa ver um superior a corrigir com ira e azedume. Tão vil é a cólera, diz Sêneca, que até os rostos mais belos torna horríveis. Necessário é pois que neste ponto nos conformemos sempre com a máxima de S. Gregório: «Que o amor nada tenha de mole; que o rigor não vá até exasperar o culpado; que a doçura seja indulgente, mas não ultrapasse os limites da conveniência».


Não devem os médicos, diz S. Basílio, irritar os doentes; o que devem é curar-lhes as doenças. Conta Cassiano que um jovem religioso, assaltado por tentações violentas contra a castidade, foi ter com outro religioso de avançada idade, para que Ihe prestasse algum auxílio; mas este, em vez de o ajudar e reanimar, mais o afligiu, fazendo-lhe censuras. Que aconteceu porém? O Senhor permitiu que esse velho de tal modo fosse atormentado pelo

espírito impuro, que andasse pelo mosteiro a correr como um louco. O abade Sto. Apolônio, informado do seu procedimento indiscreto, disse-lhe então: «Fica sabendo, irmão meu, que Deus te permitiu esta prova, para que aprendas a ter compaixão dos outros».

Quando pois virmos as fraquezas e quedas dos outros, longe de os

invectivarmos com assomos de vaidade pessoal, devemos ajudá-los quanto possível e humilharmo-nos. De contrário, Deus permitirá que caiamos nas mesmas faltas que lhes censuramos. Sobre este assunto, refere ainda Cassiano que um abade chamado Macheta confessava ter caído miseravelmente em três faltas, que primeiro tinha condenado em seus irmãos. Razão por que Sto. Agostinho ensina que a correção sempre deve ser precedida, não de indignação, mas de compaixão para com o próximo. E S. Gregório

ajunta que a consideração dos nossos próprios defeitos não deixará de nos tornar compassivos e indulgentes com as faltas dos outros.

Nada aproveitamos pois, nem para nós nem para os outros, com a cólera; ou melhor, sempre ela nos prejudica; quando nos não cause outros danos, pelo menos tira-nos a paz. Ao saber que tinha perdido uma parte dos seus bens, o filósofo Agripino contentou-se com dizer: «Se perdi a minha propriedade, não quero perder também a paz». Como dizia Sêneca, as injúrias por si mesmo não nos podem causar tamanho mal, como a cólera em que caímos ao recebê-las. Quem se irrita com os ultrajes que o recebe, a si próprio se atormenta, segundo o pensamento de Sto. Agostinho, que assim

fala ao Senhor: «Vós ordenastes que toda a alma que sai da ordem seja o algoz de si mesma».


O mestre da doçura, S. Francisco de Sales, ensina que devemos ser

doces não só com os outros, mas conosco próprios. Pessoas há que, tendo cometido alguma falta, se irritam contra si mesmas, caiem na inquietação e depois em mil outras faltas. O demônio, dizia S. Luís de Gonzaga, pesca sempre nas águas turvas. Não devemos perturbar-nos à vista dos nossos defeitos, porque a perturbação nesse caso é efeito do nosso orgulho e da alta ideia que tínhamos da nossa virtude. O que então temos a fazer é humilharmo-nos, e detestar em paz o pecado cometido, recorrendo ao mesmo tempo a Deus, e esperando dele a força para não mais recairmos.


Em resumo: os que são verdadeiramente humildes e doces vivem sempre em paz, e sempre conservam a tranquilidade no coração, aconteça o que acontecer. Foi o que Jesus Cristo lhes prometeu: «Aprendei de Mim que Sou doce e humilde do coração e encontrareis a paz para as vossas almas» (Mat 11, 29).

E Davi tinha dito: «Os que são doces possuirão a terra, e gozarão duma paz deliciosa e profunda». Assim, S. Leão nos dá esta segurança: «Não há injúria, nem perda, nem desgosto, qualquer que seja, que perturbe a paz dum coração, em que reine a doçura». Se por desgraça nos acontecer cair em estado de cólera, esforcemo-nos então, conforme o conselho de S. Francisco de Sales, por conter os nossos ímpetos, de pronto, sem nos demorarmos a deliberar se convirá ou não fazê-lo. E depois de termos tido qualquer contestação com alguém, não deixemos prolongar a perturbação dela resultante; pratiquemos o ensino do Apóstolo: «Que o sol se não ponha sobre o vosso ressentimento; não abrais a porta ao demônio. Cuidemos primeiro de nos pormos em paz conosco, e reconciliemo-nos depois com a pessoa contra quem nos iramos, para que o demônio não possa com essa centelha acender em nós alguma chama mortal, que nos faça perecer».


Santo Afonso de Ligório em sua Obra: "A Selva".


Consta no texto acima, excelentes dicas de como contermos e evitarmos entrar em cólera; sentimento funesto e causador de males piores, advindos de quem não se previne e cede à este ímpeto.

Santo Afonso Maria de Ligório, Doutor da Igreja, com a sabedoria que lhe é peculiar, deixa-nos mais esta Obra que aborda o que as Sagradas Escrituras e outros Santos ensinam sobre o Tema em questão.

Quem anda na paz de Cristo, vive sempre em serenidade e tudo suporta naturalmente, pois, em seu coração, reina não a falsa paz que o mundo oferece, mas sim, a paz que somente Jesus pode proporcionar.


Finalização de Claudia Pimentel dos Conteúdos Católicos


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